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MOP - ENCRUZILHADA - Zanik Reyes

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Mensagem por Érebo Sáb Set 10, 2016 3:57 pm



Encruzilhada!



Hécate não costumava aparecer muito para os filhos dos deuses, mas havia certa urgência daquela vez.

Algumas coisas sempre saem do controle. O destino não é como nós planejamos. Ele era, na verdade, um acumulo de acontecimentos aleatórios, que muitas vezes pouco esta sobre o nosso controle, transbordando suas consequências em nossos caminhos, nos levando a difíceis encruzilhadas.

Hécate viu que o filho de Eros havia chegado ao momento de uma difícil escolha: Qual delas ele tomaria?

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Mensagem por Convidado Seg Mar 20, 2017 4:57 pm





Encruzilhadas



Onde Se Encontra O Destino -Parte 1


As últimas noites estavam sendo conturbadas e eu mal dormia com a avalanche de sonhos que vinha tendo. Isso é mais comum com filhos de Apolo e devotos de Chronos, eles que cuidam de profecias, tempos e tal. O meu negócio é com o amor e suas variáveis, não com os acontecimentos do futuro.
Tive de apelar pra que filhos de Hipnos jogassem pó de sono em mim e criassem um bloqueio, mesmo que temporário, pra barrar os maus agouros. Infelizmente não adiantou. É claro que fui tentar outros métodos e foi aí que achei o perigo. Filhos de Hécate manjam bem demais nas poções, mas avisaram que se eu abusasse teria sérios problemas de acabar dependendo delas para ter uma noite de sono normal.
Quase entrei em coma depois de tomar uma das poções Bons Sonhos e cair de vez no meio do refeitório enquanto ia pegar a minha refeição. Parei na enfermaria, que alais tem um atendimento excelente faye, mas despertou a preocupação geral e não é o tipo de atenção que quero. Sei que poucas horas depois quando eu voltava pro chalé encontrei com ela.
A mulher tinha seu charme, dava para ver que seu ar misterioso balança corações. Os longos cabelos negros e ondulados continham um brilho especial, sua pele alva podia arder em desejo se assim desejasse. E olha que entendo disso, afinal sou filho dele.
-Suas escolhas podem te custar mais do que desejas, semideus.
Ela falava de modo suave ao passo que caminhava para mais perto de mim. O toque macio de sua mão acariciando meu rosto era sobrenatural e assim me dei conta do poder que emanava. Afastei-me dela, liberto do olhar de compaixão.
-Bruxa não é mesmo? -Lhe dei meu melhor tom. -Qual das deusas da noite você é? Hécate?
- Sim, você acertou e há urgência que saiba o porquê de todas essas noites conturbadas. -O tom se tornou mais sombrio. -O que te aguarda mudará o seu eu completamente.
Hécate é a última deusa que apareceria para um mortal se o assunto não fosse importante, e saber que eu era o motivo dessa urgência me fez ter calafrios. Do nada a temperatura baixou abruptamente, o ar da respiração se condensava.
-Vejo que percebe o grau da situação. -Ela fez uma pausa para eu poder assimilar suas palavras. -Deve aceitar seu destino, pois ele é inevitável. A única coisa que pode fazer é diminuir o dano a si mesmo.
Ela estava prestes a se virar e ir embora quando fiz uma pergunta que julguei preciosa.
-Só um minuto... –Pedi antes que ela se fosse. Ela olhou para mim e entendi que podia continuar: -Pode, pelo menos, me dizer por onde devo começar a procurar?
-Encontre sua progenitora e pergunte sobre o envolvimento da sua família com nós, os deuses. Seu irmão já sabe de boa parte, mas não tudo. Esse lado oculto que você precisa compreender.
Assim, ela desapareceu no meio da noite como um vento sinistro sem direção.
Fiquei pensando nas últimas palavras dela sobre o que disse da minha mãe e meu irmão. A última vez que o vi foi antes dele mudar de cidade depois de passar no vestibular. A única coisa que sabia de minha família ter relações com a Grécia Antiga era o fato de meu pai ser Eros. Precisava descobrir mais.
KAAAABUUUUUUUMMMMMMMM!!!!!!!!!!
Um estouro balançou o acampamento inteiro e todos correram até a fogueira para ver o que estava acontecendo. O fogo estava negro como meus sentimentos mais sombrios e subitamente notei que gostava de ver o terror nos olhos das pessoas. Um arrepio passou nos meus braços como um carinho macabro e todos desataram a fugir da chama sombria crescente.
-SAIAM TODOS DAQUI. AGORA!
Um dos conselheiros gritou para os campistas se afastarem dela. Eu e tantos outros estávamos hipnotizado pelo poder. Fui jogado no chão por um sátiro quando uma bola de fogo negro veio na minha direção. O impressionante é que fui o único a ser o alvo e continuou até que controladores de fogo normal queimassem a fogueira sombria, fazendo que voltasse ao normal. Todos passaram a evitar se reunir ali.
Levei uma bronca por ter ficado parado no lugar, mas nada que eu me importasse. Queria saber mais do motivo de Hécate me visitar e não apetecia falar com alguém de dentro do acampamento, ainda que fosse meu irmão.

*************

Viajei até Beevile-Tx, a cidade onde morava antes de chegar ao acampamento. É, o Zuriel que nasceu lá na Cidade das Abelhas, mas eu nasci em Lovelady, no mesmo estado. Nós dois e boa parte dos Reyes são texanos, o porquê de sempre nascermos nesse estado é que lembra muito a Espanha, de onde nossos antepassados vieram a muito tempo atrás. Nossa família é uma das mais ricas e antigas tendo muitas posses e ligada, ainda que “secretamente”, à política e a formação do Texas.
Cheguei na entrada da fazenda Reyes na manhã do dia seguinte ao encontro com Hécate. Peguei um voo particular para estar aqui o mais rápido possível, e usei meu cartão de crédito para comprar uma moto Bimota Tesi 3D 1100, se eu tenho dinheiro é para poder gastar. Dinheiro para mim não era o caso, sempre fui acostumado a viver na riqueza e acho que esse foi alguns dos presentes de meu pai. Olive tinha muito o que me contar.
Abri a portinhola e acelerei pela estrada de chão e logo estava estacionando-a ao lado da casa de madeira. Desci da motocicleta tirando o capacete e pondo no guidom dela, caminhei até a porta e girei a maçaneta abrindo a mesma e entrando despreocupadamente.
Passei pela sala da minha infância com a decoração igual da minha adolescência (tempos bons...) com suas duas poltronas e o sofá de três lugares. Lembrava das noites de fim de semana que passávamos assistindo filmes sentados no tapete desgastado que eu já teria jogado fora, ou queimado mesmo, a tempos. Andei pelo corredor que levava a cozinha e escutei som de vozes conversando nos fundos da casa.
- Eu não quero saber se você vai comprar uvas verdes ou roxas, só preciso das uvas. E se tiver leve mudas de girassol, lis, alfafa e lavanda. Não esqueça da decoração e de contratar o bufê.
O tom meigo e calmo logo denunciou de quem pertencia a voz suave e melodiosa. Atravessei a porta que dava para a varanda do quintal da casa e inspirei o ar puro que sempre me acalmava. Esperei que ela me notasse e quando ocorreu logo se despediu de com quem estava falando.
- Depois prosseguimos essa conversa, Marcus. Até breve.
- Atarefada como sempre, não é Olive? –Disse a minha mãe, tirando os óculos e dando um abraço cordial somente para formalidades. – Fico surpreso de não tê-lo demitido ainda.
Marcus era um dos colaboradores na empresa da família e durou mais do que eu esperava que fosse possível para um universitário recém-formado e sem experiência na área de finanças já que sua formação fora em engenharia da produção. Particularmente gostei de sair com Carolyn, uma das secretárias da assistência jurídica, bem mais extrovertida que ele.
- Ora Zanik, deixa disso. Vamos continuar lá dentro. –Ela retribuiu meu abraço e deu uma daquelas risadas amáveis que encantava os sócios.
Ela era a representante legal da minha avó Margaret nas reuniões que podia ir, mas esse não era o verdadeiro trabalho dela, só mais uma das fachadas que usava para enganar a sociedade. Olive também sabia das minhas farras com os funcionários, mas se fazia de desentendida e eu abafava o caso com algum outro boato novo e todos deixavam de lado as escapulidas do neto da chefe.
- Precisamos conversar sobre mim, e não estou falando de chamar a atenção. Não dessa vez. –Comecei a falar seriamente. – E sobre seu passado também, preciso tirar algumas dúvidas. Minha vida está em jogo.
Mudei minha roupa para um short de linho e uma camisa regata, ficando mais a vontade e assim jogamos conversa fora durante as duas horas seguintes comendo uns salgados pré-prontos e tomando suco. Em um determinado tempo ouvimos umas batidas e um jovem de mais ou menos a minha idade foi revelado quando ela abriu a porta.
Os cabelos arruivados combinavam com a pele bronzeada do sol e o macacão exibia os braços fortes que deduzi ser pelo trabalho, pois ele carregava uma foice de colheita e usava um chapéu de palha. A primeira vez que fiquei envergonhado quando alguém me viu. Eu estava encostado na parede entre a sala e a cozinha e quando sem disfarçar ele foi baixando o olhar para a bermuda pequena por conta do verão e sorriu descaradamente.
Eles trocaram umas poucas palavras, Olive recebeu uma cesta e o garoto foi embora. Dentro dela haviam frutas da época de colheita que comemos enquanto conversávamos.
- Ele é Edik, filho do vizinho O’Connel e mandou um oi pra você. –ela comentou com uma cara de quem já esperava por aquilo. Senti o rosto enrubescer de surpresa (nem tanta assim) e seguimos as horas.
Contei algumas partes do meu tempo no acampamento, algumas missões que fiz e o encontro com Hécate. Ela ficou um pouco incomodada quando entrei nesse assunto e me deixou apreensivo com as palavras seguintes. Foi nesse dia que a história não contada veio à tona com grande impacto.
Minha mãe me olhou com aqueles olhos amendoados cheios de compreensão e afeto, o seu cabelo com uns poucos fios grisalhos ondulou com uma lufada de ar que passou pela janela aberta do cômodo e disse as palavras que eu queria que jamais houvessem sido ditas.
- Houve um tempo em que pensei essa hora nunca chegará, mas agora vejo que estava enganada.
Ela desatou a falar a história de porque eu ser tão diferente do Zuriel, que eu pensava ser por causa do parental divino e não por outras questões. Uma parte da história foi uma de que eu nem mais lembrava, lá do tempo do ronca mesmo.
Quando eu era pequeno ia para um bosque onde passarinhos viviam e os fazia brigarem entre si somente para ter alguma diversão fora de casa. Lembrava das cenas enquanto ela narrava e gostava de ver as brigas dos passarinhos que aparentemente não entendem o que dizemos.
-Zanik, eu não sou sua mãe biológica. Ela era a minha irmã gêmea Kaillen. –Senti como se tivesse levado um tiro no peito, fiquei sem reação alguma diante da notícia. –Ela se encontrava com Eros quando decidiu se aventurar na magia negra. Nessa época em que superava os limites humanos e quase não falava comigo descobriu que estava grávida de você.
Pisquei algumas vezes processando toda a informação que era despejada em cima de mim naquele momento. Ainda não acreditava em tudo o que Olive estava falando pra mim, era surreal e inesperado demais. Uma reviravolta completa. Um misto de culpa e saudade transpareceu no rosto dela.
-O porquê de toda essa mentira? Por que não disse logo a verdade? E onde você entra na história?
-Eu era contratada por uma organização secreta, uma aliança entre os países mais poderosos, que cuidam para manter o monopólio das ações mundiais e sendo realocada parei na Interpol para cuidar dos assuntos deles. Era tanto uma espiã quanto uma assassina. –O suspiro dela demonstrava cansaço e arrependimento. Ela me olhou e respondi no mesmo gesto com uma intensa inquirição. –Garota jovem, superinteligente e com o melhor treinamento em combate que eles já haviam presenciado. Facilmente derrotava os mais fortes.
Mal podia acreditar em tudo que Olive me contava. Parecia muito surreal que ela era capaz das descrições que fazia sobre si mesma, mas aos poucos as peças foram se encaixando. Os ensinos de defesa pessoal me ajudaram no ensino médio quando uns garotos tentaram se aproveitar de mim por pura inveja. Ares como avô também ajuda alguma coisa, mas não é algo que vou sair contando para qualquer pessoa, ainda por cima que não fosse passar o resto da vida vigiando. Não é porque sou filho de Eros que tenho de sair desse jeito.
-Pena que seu filho não herdou essas suas características. –resmunguei baixinho. Gesticulei para que prosseguisse. –Vamos, continue.
-Resumindo, eu era e sou bela e letal. Eu era a mais perigosa, sem falar que também a mais veloz em qualquer atividade, de fuga a execuções. A única pessoa que teria chance de correr mais rápido e me superar era a sua mãe. –ela esboçou um sorriso cálido ao comentar os apelidos: - No ginásio nos chamavam de “Sombras”, “Mulheres Invisíveis” e também de “Brisas de Outono”. Esse último pegou mais porque chegávamos na linha de chegada quase sem esforço.
Jamais queria ser um alvo dela mesmo com minhas habilidades, entrar nesse jogo seria complicado de vencer.
De repente um estrondo ecoou na vizinhança e gritos foram escutados. Apesar da distância das propriedades foi rápido chegar ao local onde estava acontecendo o “tumulto”. Umas poucas pessoas (no máximo umas sete, incluindo nós) estava presenciando a situação, três bichos de pele vermelha e enrugada destruíam a plantação de uvas dos O’Connel. Acho que pensavam se tratar de algum animal ensandecido.
- Não podem ficar aqui, não é seguro. Temos que sair e deixar que as autoridades do controle de animais cuide disso. Se um deles atacar seus filhos e eles morrerem por culpa de vocês vão chorar pelo resto da vida.
Gritava o mais alto que podia para que todos escutassem e saíssem logo daqui. Não me importava com nenhum deles, somente queria ver se minha recém descoberta tia fugiria ou podia ver os monstros do submundo porque pareciam verdadeiros demônios. Os caipiras que morressem, fazia pouco casos deles.
Por incrível que pareça rapidamente todos eles foram entrando em suas tocas de madeira e tijolos. Não restou um sequer.
Espera, um garoto saiu correndo como louco e atravessou o espaço entre eles segurando uma estaca de madeira e atacou o demônio mais próximo. Ele ia morrer desse jeito. O demônio desceu as garras no braço dele, mas em troca levou uma estocada na clavícula.
Transformei minha pulseira em arco e segurei a corda como se já tivesse um projétil. Instantaneamente uma flecha se materializou na minha mão e soltei ela mirando na cabeça do monstro que ainda não tinha virado pó dourado. O menino se sobressaltou um pouco ao ver o outro ser atingido e olhou para mim surpreso. O demônio explodiu em areia e uma brisa soprou espalhando seus restos.
Lembrei que ainda estava de short e camiseta quando o segundo monstro voou na minha direção de braços estendidos e cara horrorosa. Troquei a roupa para uma mais adequada e fixei os olhos no atacante.
Pulei para o lado antes que pudesse dilacerar algum membro meu e ficar no prejuízo. Por muito pouco a cauda não me cortou o rosto, olha só. Puxei novamente a linha do arco e outra flecha zuniu até o alvo, perfurando a sua nuca. Dois a menos.
O garoto recebia a ajuda de Olive que não era nada mal em combate, mas suas armas de material comum nada faziam contra a pele dele. Somente o que percebi ser uma lança em vez de estaca do que parecia um semideus funcionava contra a criatura.
Não dava para ter uma mira muito boa com eles “dançando” na batalha, entretanto, o monstro alçou voo para descer sobre eles e aproveitei a chance disparando mais um dardo. Não era um filho de Apolo, todavia minha precisão foi razoável.
-Sabia que não era o único semideus por essas redondezas. –ele disse alegremente estendendo a mão para um cumprimento. Ele não parecia ter mais que 12 anos. – Sou o Milo Fawn, primo dos O’Connel.
-Prazer, Milo. Sou Olive e este meu sobrinho Zanik. –respondeu ela. Não hesitou em chamar-me de sobrinho depois de tantos anos alegando eu ser seu filho.
-Acho que já lhe vi no acampamento menino.
-Sim, sou o instrutor de lança, filho de Deméter. –falou orgulhoso de si mesmo. Podia facilmente despedaçar o coração dele com algumas palavras.
-Que bom pra você. –resmunguei dando as costas e saindo, não sem antes ver a tristeza dele pelo meu comentário sarcástico.
Dentro da casa ela me repreendeu pela minha atitude e eu não estava nem aí para o que dizia. Comecei a prestar atenção quando ela falou de um irmão meu.
-Você tinha um irmão, Zanik. Você era gêmeo.
Olhei em descrença e Olive entendeu isso como um sinal para continuar sua fala. Fui pego de surpresa pela notícia.
-Nem o Zuriel sabe dessa parte da história. –ele não sabia de muita coisa, mas não vem ao caso. –Depois de um tempo imersa em bruxaria e ela descobriu estava grávida não de um, mas três, pediu que eu cuidasse de você enquanto deixava o mundo dos vivos.
-E onde eles estão agora?
- Eu não faço ideia.
Abalado com os acontecimentos me levantei do sofá e saí em direção ao milharal para pensar em tudo aquilo. Abri a porta dos fundos e um vento gelado soprou para dentro de casa. Era fim de tarde e uma neblina espessa pouco característica do clima tropical texano pairava na fazenda, dando um ar sinistro na região campestre. Escutava ela gritar pelo meu nome distantemente, o estresse daquilo tudo desordenava meus pensamentos.
Coloquei a mão no bolso da calça e tirei um maço de balas de hortelã e despejei o conteúdo na minha outra mão. Caíram duas e joguei tudo na boca, mastigando e engolindo rapidamente. Precisava de mais, porém acabaram antes que eu pudesse me satisfazer. As mãos começaram a tremer, um suor frio escorria por minha pele, o desejo estava cada vez maior e intenso.
Tentei andar para distrair os pensamentos de meu vício, mas de nada adiantava pois sempre voltava ao mesmo. Soltei um grito de indignação. Segurava os cabelos fortemente, quase os arrancando da cabeça para ver se passava.
Andei pela trilha que segue ao milharal tentando esquecer meus problemas e as novas descobertas, como se pudesse afoga-las no meu pequeno rio de injúrias.
Na entrada da plantação havia uma criatura alada coberta com uma capa acinzentada e que cobria a parte superior de seu rosto. Senti uma apreensão tomar conta, pois não fazia ideia de quem ou o que poderia ser. Ouvia somente os sussurros do que poderiam ser palavras ditas ao vento.
Uma súbita, aguda e crescente dor invadiu meu peito fazendo que me curvasse, mal conseguia respirar com tamanha aflição. Fui lembrando de todas as pessoas que cujo coração tinha despedaçado e, outras que não conhecia, sem misericórdia querendo pura diversão. Um bolo se formou na minha garganta.
Os rostos tristes e os olhares magoados atravessavam minha mente como setas flamejante que causavam um latejar insuportável. Um líquido quente escorria da minha face e percebi que estava chorando, o bolo na garganta saiu como soluços e me senti a pior pessoa do mundo.
- Pare agora! –ordenei ao incógnito, as lágrimas ainda desciam em meu rosto. Ele não tinha o direito de me fazer sentir aqueles sentimentos confusos de uma pessoa que não sabe se controlar, eu não era um fraco sentimental que por qualquer dor desatava ao choro.
Mas de nada adiantavam meus protestos contra ele, quem mostrava uma postura intangível. Somente continuava a murmurar algumas palavras inaudíveis e agora mexia as mãos na lateral do corpo.
Senti que era a pessoa mais desprezível do mundo e desprovido de compaixão, uma pessoa que carregava um coração sombrio e cheio de defeitos, amargurado pelo tempo que fui rejeitado pelas pessoas.
Descobri que usava a minha aparência para conseguir o que queria, usava o desejo dos outros contra eles mesmos em meu próprio prazer e entretenimento seguidamente deixando elas como se fossem descartáveis e inúteis depois de usadas.
Toda essa escuridão me oprimia em fazer uma escolha que eu estava adiando. Ela, que havia sido formada pela apreensão e admiração dos outros, abriu seu caminho pelos elogios de outrem liberando um ego que seria transformado em um demônio para atormentar os fracos de espírito porque eu mesmo não tenho nada nem ninguém para que haja um motivo de bom e voltar ao lado da luz, alguém gentil e amável com outros.
Senti aversão pelos sentimentos ruins e ao mesmo tempo abracei eles aceitando meu destino. Uma sensação de estar satisfeito, cheio, completo e no final tão vazio quanto o próprio Caos. Preenchido pelo silêncio. Usado pelos Olimpianos para cumprir com as obrigações que eles deveriam fazer, mas delegam para semideuses (seus serventes) que dão a própria vida em troca de uma ilusão.
Os odiei por tudo o que já haviam feito, não aguentava mais estar sob as leis deles. Eu merecia algo melhor que o favor de Zeus e Hera. Eu merecia ajudar alguém bem mais poderoso que eles, alguém que reconhecesse verdadeiramente meus esforços, alguém que não se importasse se eu ia ou não cumprir com as tarefas que me sugere, alguém como um titã ou deus primordial.
Soltei uma gargalhada profunda e sinistra, levantando a cabeça e o corpo antes abaixados em direção ao ser que pairava no ar. Ele deixou de planar e tocou os pés no chão, retirando o capuz e mostrando o rosto simétrico de visão condoída.
-Então você é o meu daemon particular? –zombei dele.
-Sou Anteros, o vingador dos amores que você rejeitou e não um dos demônios comuns. Você já sofreu suficiente para continuar sua jornada, garoto. Aliás, também é um coração partido, não é mesmo?
O olhar ambíguo reconhecimento demonstrava a pena que sentia por mim.
-Não sinta. –estava cansado da piedade deles. –Mostre de uma vez o caminho que tenho de seguir.
Com um mover da mão esquerda um portal se abriu no lugar da entrada para o milharal. Ele era negro com listras róseas e o outro lado não podia ver visto, a menos que fosse atravessado. Passava pelo “buraco de minhoca” quando senti um clarão envolver meu corpo.

*************

Acordei deitado no chão de algum lugar.
Levantei e olhei ao redor procurando alguma pista de onde estava, pois com total certeza não era na fazenda de pouco tempo atrás. A cabeça doía levemente e tentei lembrar como fui parar aqui. Não lembrava de ter participado de alguma festa ou beber em demasia no meu apartamento em Nova York, que eu mal visitava. Então tudo voltou de uma vez.
As histórias não contadas que foram reveladas por Olive, a abstinência de hortelã, o encontro com Lipe (nada casual) e os sentimentos que me fez ter e a passagem pelo portal. Como sairia dessa situação? Nenhuma ideia brilhante ou idiota para isso. Quanto tempo realmente passou? Minutos, segundos ou horas? Acho que nunca saberei.
Eu estava no meio de um pátio que se dividia em três encruzilhadas do que parecia ser um labirinto. Cada uma delas pareciam mostrar um arco no final do corredor mal iluminado. Sabia que no final de cada uma delas teria um desafio a ser enfrentado e ninguém precisava me falar disso.
As paredes feitas de um material preto poderiam ser de obsidiana ou mármore e uma fraca luz fantasmagórica desprendia delas. O teto... Humpf... não tinha, se chovesse não haveria nenhuma cobertura além das estrelas apagadas lá no alto. Ficaria todo molhado.
Segui pelo caminho a minha esquerda e cheguei ao final dele em pouco tempo. O lugar era uma sala ampla e circular, bem maior que qualquer suíte de hotel que passei a noite. Virei para ver por onde tinha vindo mas nada descobri, o caminho desapareceu e só restava a parede sem nenhuma abertura.
Retornei à vista do arco no lado oposto e uma mulher de aparência diferenciada observava meus movimentos. Suas vestes douradas harmonizavam com os trevos de quatro folhas que prendiam seu cabelo. Ela mostrava toda a riqueza e trazia a emoção que se eu ficasse ao lado dela teria toda a sorte do mundo. Claramente era Tique, e ela não aparecia sem uma aposta, uma provocação.
-O desafio é lutar contra alguns oponentes peculiares, semideus. Se vencer será recompensado, se perder será condenado.
Suas palavras foram sem rodeios e ela desapareceu tão rápido quanto havia chegado. O som de um compartimento sendo aberto ecoou por toda a arena, assim resolvi chamar. Comportas foram abertas no chão e uma gaiola subiu pelo espaço.
A gaiola era feita de um material dourado e prendia um leocrota dentro dela. Lembrava de ler sobre ele no acampamento. Sendo metade leão e metade hiena era muito veloz. A saliva que escorria pelos seus longos dentes que mostravam a loucura que o animal estava e parecia estar sorrindo.
Vi em seus olhos uma mente inteligente. Mas não passava de um animal e só isso. Era difícil me intimidarem e eu não recuaria diante dele. A grade abriu e ele pulou para fora, rondando a mim, sua presa [sqñ].
O ambiente mudou para um espaço campestre e aberto, com a grama de um tamanho considerável e sol escaldante, porém não atrapalharia em nada nos meus movimentos.
Transmutei minha pulseira na forma do arco e preparei o primeiro tiro. Usei minhas habilidades naturais como arqueiro e alguns dons que Eros deixou como herança e atirei, apontando para o dorso do monstro que ainda não havia se movimentado. Quando a flecha atingisse o alvo certamente ele sentiria a ardência.
O leocrota correu e mostrou que era tão rápido quanto os animais de sua fundição: a hiena e o leão. Sua velocidade era impressionante e somente consegui escapar de suas garras usando meu instinto de lebre. Precisava de alguma outra vantagem, já que ele detinha a velocidade.
Admito que fiquei apaixonado pelo animal e sua pelagem marrom com aquelas manchinhas douradas ao redor dos olhos e nas patas tinham seu charme, contudo, não seria distraído tão facilmente. Entretanto, escolhi aquele animal como meu e pretendia domá-lo.
Ele avançou mais uma vez e por um tempo ficamos nessa onda de atacar-desviar, atacar-desviar, atacar-desviar. Eu atirava flechas e ele escapava, ele usava suas patas e dava mordidas e eu esquivava sempre por pouco. Até que uma ideia me ocorreu.
Aproveitando aquela vegetação que chegava na altura de minhas coxas esperei o último segundo para trocar de roupa. Escolhi uma especial. O modelo era todo justo ao meu corpo e revestido de lantejoulas que captavam a luz e dificultavam a visão do animal.
Tive a oportunidade de atirar uma flecha e como não poderia perder multipliquei-as e encantei como só um arqueiro do amor é capaz de fazer. Valeria das artes do amor para escapar de seu avanço e fazê-lo cair aos meus pés.
Voltei a usar o short curto de antes, mas sem a camisa. Estava suado e não queria sentir a peça de roupa grudando na pele, precisava respirar. O animal notando novamente minha presença encantadora com meu rosto belo mudou seu olhar de assassino para admirado.
Acho que ele se perguntava como um semideus poderia ser tão belo e estar despreocupado ao lado de um dos animais mais traiçoeiros da mitologia grega. Ele foi se aproximando cada vez mais e de repente fui mandado longe.
Além de ser rápido é inteligente, o que me fez gostar ainda mais e querer domar a fera. Ele havia me enganado com aquele olhar inocente e ao mesmo tempo desconfiado. Se aproveitou de minha distração para meter a facas nas minhas costas.
Decidi que já era hora de pedir auxílio divino, pois desse modo seria morto. Três cortes estavam estampados no meu peitoral, mas não eram muito profundos ao ponto de me parar, um pouco de sangue escorria.
Pedia a Héracles, quem derrotou o leão de Neméia que me ajudasse com aquela fera. Sabia que os filhos de Eros são muito hábeis em domina animais, todavia, não impede que roguemos por ajuda.
Avancei confiante para o leocrota, pensaria depois em um nome para ele, e saltei como uma lebre para cima dele. Acho que ele não esperava por essa atitude nem eu muito menos e consegui apoiar-me nas costas dele. Segurei em sua juba e apertei os flancos dele com a perna.
-Você não passa da mistura de um leão com uma hiena. –gritava para o animal que, apesar de não falar, sabia que me entenderia. –Aceita que dói menos. No mínimo, comigo, terá casa, comida e sem roupa lavada. Vai ter que usar a floresta para as necessidades.
Ele corria desembestado e eu segurava firmemente enquanto acariciava atrás de suas orelhas, nenhum mamífero resiste a isso. Sabia que se ele virasse poderia me matar com o peso, mas ele não fez isso. Ao contrário, o animal parou de correr e se abaixou em sinal de aceitação ronronando de um jeito estranho. Não estava de brincadeira porquê dessa vez estava atento as suas mentiras, afinal eu sabia como elas funcionavam.
Desci das costas do leocrota e ele lambeu meu rosto enquanto ainda acariciava sua cabeça. Estava apreensivo com seus dentes, mas acho que era um filhote comparado aos outros e queria alguém que cuidasse dele. Olhei nos olhos da criatura e falei criando um laço entre nós:
-Não se preocupe, não vou te machucar. Seremos companheiros pra vida toda.
Eu esperava viver muito para curtir a vida e, quem sabe, algumas aventuras fora da vida de semideus que não são tão aprovadas por Quíron e sim pelo meu pai. O cenário mudou de volta para a arena de pedra fria e mudei para uma roupa mais adequada para frio. Tique apareceu com um sorriso meia-boca que, além de mostrar um resquício de felicidade, também era de infelicidade por ter perdido.
Meu novo companheiro assumiu uma postura tensa e eu igualmente voltei a minha de durão. Tinha completado meu desafio, mas não esquecerá do meu principal objetivo.
-Bom, completou o desafio. Pode seguir em frente. –ela estava com uma cara de tristeza, mas não me importei pela minha personalidade insensível. –Receba um presente.
Virei-me em sua direção uma brisa verde e forte soprada com um cheio muito agradável acertou como gliter. Brilhante, exagerado e necessário. Senti uma diferença dentro de mim que não estava lá segundos antes.
-Para não se esquecer que a sorte chega a todos.
E ela desapareceu.
Ainda pesava no que as palavras dela significavam quando parede da porta do outro lado da grande sala desmoronou e vi sete demônios dos que atacaram a fazenda dos O’Connel enquanto eu estava na casa de Olive. Senti uma raiva absurda que me fez tremer ao lembrar do que havia descoberto após a chegada deles lá. Foi a gota.
Avancei pra cima deles sem nenhum medo com a faca em punhos, pronto para dilacera-los com os punhos se fosse necessário. Diferentemente daqueles três primeiros esses set não tinham asas ou a cauda pontuda. Eram mais humanos e isso me dava uma bela vantagem.
O meu olhar completamente rosa os fazia sentirem dores no coração e uma tristeza profunda. Foi aí que comecei a perceber o quanto mal era capaz de fazer e gostei de vê-los sofrer, descontar a raiva as vezes é tão bom quanto sexo, e pode viciar.
As palavras ácidas que saíam de minha boca foram selecionadas de uma infinidade de comentários capazes de destruir até a mais sólida personalidade.
-Vocês são um bando de incompetentes, não conseguem fazer uma tarefa de forma correta... Aposto que esse daí fala mal dele pelas costas... E você? Acha que é melhor que os outros? Olhe pra sua aparência, ela é deplorável. O único que se salva é o do meio ali.
Cada palavra carregada de ofensas podia muito bem deixá-los furiosos e avançarem contra mim, mas eu os enredava tão capciosamente que nem percebiam o quanto conflituoso um filho de Eros pode se tornar quando quer.
Seduzia um deixando os outros com ciúmes e inveja ao ponto de começarem a brigar entre si. Aproximei-me deles ciente do perigo, mas não ofereceriam tanto mal como antes. Piscadelas bem desferidas os paralisavam no lugar enquanto os comentários irônicos também desgastavam o clima.
Puxei um para perto como se fosse beijar e, preso em meu abraço enganoso, deixava a mão deslizar pelo seu tronco, cortando com a faca. Quando percebia que fora enganado já era tarde demais. Os outros estavam ocupados arrancando pedaços deles mesmos.
No fim, sobraram um ou dois vivos que o meu novo mascote tratou de finalizar rapidamente. Foi fácil ter acabado com eles e a sorte que tive de serem tão burros... Agora entendia o porquê do sopro de Tique, só não sabia o quanto duraria.
Foi aí que ela apareceu. Não Tique, mas a mulher que sempre estava nos meus sonhos ultimamente e o motivo de eu ter bloqueado o sono para simplesmente entrar em coma temporário induzido. Nyx.
A deusa da noite primordial surgiu de uma massa de escuridão e nada mais ao redor parecia se mover, até o meu amiguinho que estava quieto ficou mais quieto ainda. E não estou falando do amiguinho de todas as horas. café
-Provou que pode ser digno de minha presença. –ela começou andando em minha direção. Seus cabelos negros contrastavam com a pele branca e pálida, parecia uma vampira. –Sei que tens estado perturbado criança, mas foi-me necessário ver até que ponto aguentaria conhecer a si mesmo.
Tudo fez sentido. Os sonhos confusos e embaralhados de meus piores pesadelos convergindo para o epicentro chamado Nyx, usando seus filhos para refinar a joia de seu próximo colar.
-Posso, no mínimo saber quem mais estava envolvido?
Ela acenou a cabeça em concordância dando um ar mais solene e nobre a ocasião, se mostrando muito diferente da deusa maníaca que contavam nos cochichos do acampamento.
-Alguns você já conheceu, mas os outros foram Forbetor e Epialtes. –à medida que ela ia falando eles foram aparecendo.
Vagamente lembrava de Forbetor como o temido e Epialtes sendo a personificação dos pesadelos. Assim, com um pedido e sem enrolação a deusa mostrou que quase todos estavam sob seu domínio. Sabia que nem Zeus ousava mexer com ela, pois temia os poderes que o eram desconhecidos. Vai ver ele só tem medo de perder a própria imortalidade e seus privilégios.
-Olá Forbetor, Epialtes. –minha voz soava corajoso, mas tímido diante de três das divindades gregas. Torcia que não se irritassem comigo e decidissem me atormentar pelo resto da vida.
Eles dois desapareceram e Nyx soltou uma risada que, involuntariamente, me fez sentir um arrepio e relaxar meus ombros. Senti que estava perto de alguém familiar, senti que era parte da proteção dela e que não precisava me preocupar com os outros me atormentando.
-Antes que eu tenha de ir quero lhe lançar uma proposta e esclarecer algumas coisas. –esperei atentamente. –O fogo negro no acampamento fora Érebo. Tanto eu quanto ele estamos interessados em você, Zanik. Sua mãe é a prova que mesmo não demonstrando, suas relações com magia são antigas.
Minha mãe. O assunto ainda era delicado para mim e não me sentia pronto para compartilhar esses assuntos com outros.
-Também sou a deusa dos segredos, não tente esconder perto de mim. –soltei uma palavra nada aprovável. –A proposta é a seguinte: Aceita fazer parte de meus cavaleiros?
Fiquei sem saber como reagir a oferta, cá entre nós generosa. Não é todo dia que a sorte vem para nós (olha ela de novo!) e somos convidados para entrar num grupo seleto. Tentei responder mas ainda tinha algo para escutar.
-Será guiado pela costa leste e encontrará que terá de combater. Pegue a capa e entre na casa de Nova Iorque.
Ela estalou os dedos e me vi deitado no chão de terra no meio dos milhos com as mesmas roupas antes de ter entrado no portal. Percebi que tudo não passara de uma ilusão, mas as palavras de Nyx foram ecoadas em algum lugar distante e que mesmo sendo um sonho ou pesadelo foi tão real como minha vida. Não via nenhum sinal do meu leocrota o que me deixou um pouco amargurado com a experiência.
Permaneci deitado um pouco mais olhando as estrelas daquela noite sem lua com os braços cruzados apoiando a cabeça e um farfalhar fez que eu me sobressaltasse. Um movimento pelo canto do olho atrás das espigas chamou minha atenção e tirei lentamente a faca de bronze do bolso detrás.
Conforme o ser vinha se aproximando notei que ele era um pouco mais alto que eu, e mais forte. Seriam chamas que estavam em sua cabeça e não consumia nada? A ansiedade fez meu coração bater mais rápido e quando ela apareceu pulei para cima da criatura, pronto para acertar onde pensava ser seu coração.
-Calma! –o som barítono e surpreso da pessoa soou baixinho, um sussurro agradável. Ela segurava meu punho no alto com uma das mãos e a outra ao redor das costelas me fez chegar mais próximo do que gostaria. Com um sorriso falou em meu ouvido: –Assim vai me fazer acordar todo mundo. Sou eu, Edik. Pode abaixar a faca agora.
Lembrava do garoto que apareceu na porta do lugar que eu chamava de casa e levou uma cesta de frutas. Embora houvesse pouca claridade seu corpo parecia emanar uma aura fria enquanto caminhávamos para fora do campo. Humanos normais não eram assim.
-Você é filho de quem?
-O’Connel.
-Sei dessa parte. –parei de caminhar e olhei para ele. –Quero saber da outra parte, a divina. Sou semideus como tu, só que filho de Eros.
Edik também parou e analisou meu rosto, calculando se podia confiar em mim. Depois do que pareceu uma eternidade ele soltou um suspiro, talvez tenha visto que não sou de desistir tão fácil.
-Kleopatra. Uma das filhas de Bóreas. Eu sei que não pareço, mas sou.
Foi uma surpresa para mim descobrir de quem ele era filho até porque não esperava realmente que fosse me contar. Voltamos a caminhar sem falar muito mais e o silêncio foi aconchegante. Estávamos chegando na porta dos fundos quando ele disse que ia para casa.
Olive não estava em casa, poderia ser arrependimento ou só me dando espaço, e como não queria ficar sozinho perguntei se aceitava algo para beber. Ele aceitou e fui pegar uma daquelas garrafas antigas de vinho que ela guardava no porão. Nem preciso dizer que fui seguido.
Tomamos a garrafa toda lá embaixo, o rapaz já completamente bêbado e me lembrei que não fazia ideia onde estavam as chaves da moto já que ia sair no dia seguinte.
”ª-ªDeed- Se quiser, veja... Não me responsabilizo pelos efeitos...”:
O dia já estava bem claro quando saí da casa e montei na Bimota. Fiz a volta para a entrada da propriedade e olhei para trás, observar aquele lugar que tinha tantas lembranças e eu poderia nunca mais voltar. Lá na janela do segundo andar pude ver as chamas vermelhas darem sua despedida.
Acelerei ao máximo a moto e dirigi pelo caminho seguindo na rota leste do país na direção de Nova Iorque. Nyx falou que eu encontraria um servo de Érebo no meio do caminho para completar a tarefa. Queria poder esclarecer algumas coisas com Kaillen, a minha verdadeira mãe. Só ela poderia explicar o que Olive não foi capaz, ou não quis.



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MOP - ENCRUZILHADA - Zanik Reyes Empty Re: MOP - ENCRUZILHADA - Zanik Reyes

Mensagem por Convidado Seg Mar 20, 2017 8:58 pm




Encruzilhadas



Onde Se Encontra O Destino -Parte 2


*************
Algumas das cidades que passei nessa “expedição” foram Arkansas, Tennesee e Kentucky. São cidades bem estruturadas e com características próprias que fazem de cada uma um lugar único. E não pude deixar de comprar algumas coisas, só que mandei pelo correio.
Era noite e estava estacionado abastecendo o veículo em um posto de gasolina na beira da estrada na Virgínia ao ver uma cena pouco comum. Um meteorito cruzou o céu e se chocou contra o chão a alguns quilômetros de minha localização. Um rastro negro seguiu-se e caiu no mesmo ponto distante. Luzes como fogos de artifício brilharam parecendo uma festa e no fundo compreendia que tal ação era falsa.
As luzes apagaram completamente e minha visão foi se ajustando como se estivesse de dia. De supetão um adolescente vestido com uma capa preta insurgiu das sombras a poucos centímetros de distância com um par de adagas negras nas mãos. Ele veio direto na minha garganta e tórax, quase morri. Ele ainda conseguiu acertar meu peito e uma dor excruciante irradiou do ferimento.
Como viu que não havia me matado, abaixou-se mais rápido do que parecia ser possível e me chutou com uma força descomunal. Fui jogado a metros longe de onde estava. Nós tínhamos quase a mesma altura.
Como eu sabia que era um garoto? A modelagem do corpo e o cheiro de rosa vermelha. Eu tinha mapeado muitos corpos femininos ao longo de minha vida e a forma que a capa ondulou mostrava que não era uma mulher.
Apoiei-me nos cotovelos para poder levantar e a dor intensa pulsou mais uma vez. O material parecia o mesmo das paredes da ilusão que tive e agora tinha certeza de não ser obsidiana. Era outro material mais raro, ferro estígio.
Acho que esse desconhecido era o tal da serva que Nyx falou querer me matar e [pensamento meu] esquartejar, queimando como oferenda as trevas primordiais. Tá bom, essa última parte foi bem maia mesmo.
Levantei ainda com dificuldade e ele nem esperou eu me recuperar para avançar novamente com as armas perigosas. Transmutei meu arco e atirei uma flecha nele, que desviou perfeitamente com a adaga. Fiquei de queixo caído.
Em poucos segundos ele estava perto de mim e desceu a lâmina na minha cabeça. Por instinto desviei e fugi de seu segundo ataque mortal. Se era uma luta de assassinos, então que fosse em termos iguais.
Minha roupa se transformou em um tipo armadura. Um tecido semelhante a cota de malha que aguenta grandes pressões debaixo de calça e jaqueta de couro para reduzir o impacto dos cortes. Fiz questão de pensar em uma camisa folheada a ouro. Foi o máximo que consegui enquanto estava sendo atacado ferozmente. Minha faca de bronze quase não acertava.
Pulei para fora do caminho quando ele tentou socar meu estômago e como não deu certo, jogou sua adaga na sombra. Questionava a mim mesmo para onde havia ido quando senti uma dor forte na minha perna. Quando puxei a origem do sofrimento fora a arma que não sabia onde tinha ido parar.
O peso dela na minha mão foi confortável, um paradoxo em relação ao ferimento sangrando dolorosamente. Uma sensação de reconhecimento do material, como se eu já o conhecesse a muito tempo passou por mim. Não deixaria uma ferida boba me impedir, meus objetivos tinham de ser concluídos.
-Por que está aqui? –nenhuma resposta. –Qual o seu nome? De quem é filho?
Sem misericórdia avancei contra ele com sua própria arma. De alguma forma, consegui criar uma barreira de sombras que bloqueou o assassino e enfiei a adaga garganta adentro. O garoto cambaleou para trás e caiu de costas.
Fui chegado mais preto e tirei o capuz do rosto dele, fiquei impacto com a pessoa. Ele era igual a mim. Desesperadamente fui tirando a capa sem me importar se iria ou não rasga-la, o que eu duvidava com aquele tipo de material.
Tudo. Dos pés à cabeça era igual a mim. Quem o fez teve a sagacidade de copiar até os mínimos detalhes. Poucos segundos depois ele se dissolveu em sombras, o suficiente para abalar alguém. Só restou a capa caída no chão ao lado de onde ele, ou eu, estava e a adaga que eu segurava. Não sabia se ficaria com ela ou se também desapareceria depois.
Não entendi porque de todo esse mistério em combater a mim mesmo, mais parecia um teste insano. E se tudo não passou apenas de um teste? Há coisas que sempre ficam ocultas nas sombras da noite.

*************

Encontrei com Hécate na entrada da cidade de Nova Iorque, perto de meu destino final, e me deu algo que eu jamais esperava que pudesse acontecer. Um encontro com Kaillen Reyes, a mulher que era a minha mãe.
-Esse tempo todo você podia ter mostrado onde ela estava e não o fez! –eu estava revoltado com Hécate, mas ela foi impassível ao falar “Aproveite” e desaparecer.
No final da rua havia uma casa que por fora parecia decrépita, literalmente caindo aos pedaços. Uma reforma era necessária ali, nem podia acreditar que alguém poderia estar morando nesse lugar.
Realmente, dentro fiquei surpreso e de queixo caído com a decoração depois que entrei. A porta estava entreaberta. A primeira impressão rapidamente se dissipou ao admirar o puro luxo estampado na coleção de quadros pendurados nas paredes, a prataria e a porcelana em cima das estantes e cômodas de mogno com detalhes de carvalho e pedrarias.
-Pode tocar, eu deixo.
Fui surpreendido por aquela voz austera e ao mesmo tempo branda. Tive a impressão de já tê-la escutado muitas vezes, que havia me acompanhado a vida toda e inevitavelmente seguindo meus passos.
-É realmente você? –Questionei com uma pequena centelha de esperança crescendo no peito.
Uma risada gostosa e divertida soou da boca da mulher esbelta que apareceu diante de meus olhos.
Eu tinha quase todos os traços que ela. O cabelo castanho escuro, os olhos pretos, a pele bronzeada, o nariz arredondado na ponta, até a mesma falha na sobrancelha e a boca sempre em um meio sorriso. Estava feliz por poder conhecê-la, ainda que brevemente.
-Sim, sou eu Zanik. –O sorriso ainda continuava no rosto rosado. –Soube que precisava falar comigo para continuar sua jornada.
-Isso mesmo, temos muito que conversar. –Respondi determinado.
-Então sem mais delongas. Você precisa ser forte para vencer os desafios que lhe forem impostos no futuro.
Ela fez uma pausa.
-O quanto está disposto a descobrir?
Foi a minha vez de respirar fundo e pensar no que queria, não era uma resposta fácil. Entretanto, minhas emoções se resumiam em poucas palavras e falei com firmeza:
-Tudo o que for possível.
-Muito bem. Sua coragem faz jus ao seu sangue. –Kaillen comentou com um olhar de satisfação.
Ela me contou sobre seu passado e como se envolveu com Eros. Uma linda mulher que possui uma vontade de ferro atraiu a atenção do deus do desejo, palavras dele. Logo se enamoraram e como meu pai não perde tempo já sabemos no que deu em seguida. Noites e mais noites a sós.
Ela já estava envolvida com as artes mágicas e era uma das seguidoras de Hécate e usava seu trabalho como bioquímica para disfarçar a alquimia de fundição. Kaillen foi avisada pela deusa de que teria um preço, que um de seus filhos sempre viveria de forma tripla. Nesse dia descobriu que estava nos períodos iniciais de gravidez (4 meses) de trigêmeos.
Chegou o dia do nascimento e o próprio Jano apareceu em seu quarto. Ele deu as escolhas a ela. Como não podia decidir entre nós três usou seus poderes para nos unir em um só. Explica muito sobre minhas características pessoais: a paixão, o amor e o desejo. Foi arriscado.
A cada 2 gerações um ramo de nossa família se junta a alguma deusa da noite. Por termos uma família pequena as vezes é fácil saber quem será. –Kaillen deu de ombros. –Eu era a da vez e fui recrutada pela da magia, mas com você já é diferente.
Esperei por sua explicação.
-Você tem uma escolha. Vive numa encruzilhada onde três vidas se encontram. Seria fácil viver como um filho da minha matrona.
O olhar dela foi tão intenso e profundo que tive de baixar o rosto. Podia ver a reflexão da minha alma lá dentro e, talvez, não gostei do que vi.
-Se eu tenho uma escolha por que não apareceu antes?
-Você viveu esse tempo com sua tia Olive e seu primo Zuriel para ter os dois lados da moeda. Experimentar luz e trevas para saber o que deseja.
Nesse instante Nyx apareceu. O que estava complicado se tornou pior.
-Desculpe, Kaillen. Mas já decidi.
A Noite sorriu e estendeu o braço para pegar o manto que eu lhe entreguei com prazer.
-Sabem, só não entendo uma coisa. –fiz aquele suspense que só descendentes de Afrodite sabem fazer ao contar uma fofoca. –O motivo de estarmos os três aqui.
-Como sua mãe bem disse: você vive numa encruzilhada onde três vidas se encontram. Como um dedicado a Hécate, um seguidor de Érebo, ou um cavaleiro meu.
Ainda não tinha entendido quando ela continuou:
-Você escolheu qual vida levar, a sua ou de seus irmãos. Três destinos em um só.
Agora entendia o porquê de Hécate ter aparecido e forçado eu seguir meu caminho. Nem ela poderia ver o meu futuro, pois estava entrelaçado entre os caminhos daqueles que lutavam para viver.
Ter matado aquela cópia fajuta de mim foi tirar um de meu caminho. Agora só falta o outro.

”Arsenal”:

”Qualidades”:
”Defeitos”:
”Habilidades Passivas”:
”Habilidades Ativas”:
”Pontos Obrigatórios”:



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Mensagem por Érebo Seg Abr 10, 2017 6:03 pm



Encruzilhada!
















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