Efeito Prisma

Penelope estava junto da praia quando tudo aconteceu. Um enorme raio de luz descera no acampamento, sendo avistado por toda a parte. O acontecimento deixou a bruxa perplexa e bastante curiosa, porém preocupada. O que estava acontecendo? Os que se encontravam no local reagiam do mesmo modo ou até mesmo de um jeito mais intenso. Os filhos de Apolo estavam inquietos e os de Iris corriam como baratas tontas, de um lado para o outro e discutindo entre eles. Alguns choravam até. Penelope apenas podia concluir que algo tinha acontecido com um dos deuses, ou até mesmo os dois.
Em pouco tempo, todos os que estavam ali pegavam suas coisas e se deslocavam para a clareira, depois da mensagem de Quíron ter sido transmitida. Uma reunião de urgência havia sido convocada e de imediato, Penelope saiu correndo até o chalé vinte, sem realmente pensar muito no que fazer.
Pegou seu machado e a varinha de condão e correu de novo, se juntando com a multidão preocupada.


Por entre o mar de pessoas avistou Dante e Heloise, lá na frente junto com o filho de Poseidon. Penelope empurrou com alguma violência todos aqueles que se encontravam no seu caminho, a fim de conseguir se aproximar e ouvir melhor o que o centauro falava. Ele parecia extremamente zangado e preocupado. Porem, seu discurso foi interrompido pela Oráculo e aí a filha de Hécate soube que as coisas só poderiam piorar. Como sempre ela falava em charadas e suas palavras mais pareciam uma aula de metafísica. Cor, preto e branco, reflexão de luz...
Penelope tentou juntas as peças do quebra-cabeças, recordando o que havia aprendido antes de vir para o acampamento. As cores, como era sabido, eram a reflexão da luz branca e essa luz era emitida pelo sol.
- Seu rapto destrói a quem a luz reflete... - a loira repetiu, tentando seguir sua linha de pensamento. - Então, isso quer dizer que o rapto do que quer que seja é capaz de destruir Apolo?
A bruxa parecia uma louca, falando sozinha, mas a verdade é que sempre era mais fácil manter a linha de raciocínio quando falava.
A oráculo continuou falando, confirmando assim a teoria de Penelope. "Prejudica o Sol, o vulto do oeste."
Então basicamente eles estavam reunindo um "esquadrão suicida" pra resolver o problema e recuperar o que alguém havia roubado. Mas as perguntas que não queriam calar eram: quem e o quê?  
A imagem dos filhos de Iris chorando surgiu novamente na sua cabeça e outra teoria se formou.
-Sequestraram Iris...? - murmurou, num tom que deixava na dúvida se era uma afirmação ou uma pergunta.
Apoiando o machado sobre o ombro, a garota seguiu o grupo que decidira se alistar na missão até o topo da colina, onde a luz era mais forte.
Agora, restava apenas aguardar.

A jovem mulher rodava o machado na mão enquanto esperava impaciente pelas respostas a suas perguntas. Alguns campistas se apresentavam, fazendo com que a loira apenas revirasse os olhos perante a descontração de tais.
Já na colina, Penelope foi das primeiras tomando a iniciativa de atravessar o feixe de luz sem saber o que a esperava do outro lado. Sentiu um arrepio e por momentos pensou estar numa montanha de neve. Mas quando seus olhos varreram o local, apenas viu um grande salão, dourado como se houvesse sido tocado pelo próprio Midas.
Na frente do grupo, um homem de cabelos loiros os esperava, olhando pela janela. Penelope encarou a figura com um semblante neutro, cabeça erguida e fogo no olhar. Ela se sentia determinada a cumprir seus objetivos, afinal, era uma pessoa teimosa, que não desistia com facilidade. Porém, e apesar de sua cabeça quente, ela não era impulsiva ao ponto de fazer besteiras. Muitos a subestimavam por isso e se surpreendiam mais tarde.
Pelo que parecia, todos os seres superiores não gostavam de oferecer uma explicação clara e concisa. Eles preferiam camuflar suas palavras em meias frases que pouco ou nada informavam.
A bruxa escutou, atenta, cada palavra do homem e logo reconheceu o nome de Jápeto, um titã por muitos chamado de Senhor do Oeste. As palavras da oráculo ressurgiram, dessa vez mais claras. Talvez fosse de Jápeto que ela falava. Mas, não estaria ele preso no Tártaro junto com Chronos?

Penelope se mostrava pensativa, tentando achar, sozinha, uma solução e logo arrumar com o assunto. Porém sabia que a missão não seria fácil, não fosse ele o deus-titã do tempo, do tempo de vida e da mortalidade e, em especial, da morte violenta.
Zéfiro, o vento do Oeste, esse era quem deveriam procurar. Antes que pudesse sequer abrir a boca, Penelope sentiu que algo a levava para outro local.
Seus olhos de imediato reconheceram o Central Park. O local era familiar o bastante para relembrar alguns natais passados ali perto, junto de outros membros da prestigiada família Kennedy.
Não muito longe dali, um homem alto e com uma aparência tanto ou quanto diferente meditava, sozinho.
Penelope ouviu um dos garotos que a acompanhava falar. Seus olhos se reviraram novamente, esse não era momento para apresentações e formação de amizades.
- Ninguém quer saber e ninguém se importa. - a garota afirmou, num tom seco e desagradável. - Esse não é o momento para confraternizar, vamos logo resolver esse assunto e voltar para casa.
Penelope era uma pessoa rústica, com alguma dificuldade em controlar suas palavras e ações mais indelicadas, por isso não tinha muitos amigos, nem queria.
- Acho melhor nos mantermos alerta, não sabemos se esse é Zéfiro ou não.
Dito isso, a bruxa se aproximou em passos silenciosos e logo se camuflou numa sombra, afim de observar mais perto o comportamento do homem.