MNM — SPA - Missão para Albafica e Beaumont

Eu havia acordado tarde. Não me lembro do que estava fazendo ontem, mas sei que fui dormir com um monte de ninfa ao meu redor e agora, devem ser umas 13 horas, só havia eu e uma Naiade que mora no riacho aqui perto. Espreguicei o meu corpo nu, como de costume e voltei a me deitar ao lado da criatura. Ela era bem bonita: Pele azulada, cabelos negros, delgada e delicada como o rio. Diferente das ninfas que se propõe a trabalhar pelo acampamento, as ninfas que estou acostumado a lidar e ter companhia, estão sempre em sintonia com sua naturalidade, ou seja, são selvagem, primitivas, não dadas ao luxo das coisas e geralmente estão peladas, iguais a mim. Estar pelado facilita muitas coisas, mas impede que eu ande por ai no mundo "civilizado".

Pois bem, acordei a ninfa, pois estava tarde demais e o sol estava demasiadamente quente. E, você sabe, Naiades debaixo do sol podem ficar bem fracas e mal-humoradas. E eu, como deus dessas criaturas fantásticas, não posse deixar uma beldade dessa ficar estressada a toa. A tomei em meus braços e a levei até seu riacho, com cuidado para não ser brusco. A deixei em sei leito aquático e lhe dei um selinho terno de despedida. Senti o gosto de água mineral (gosto de minerais) tirada diretamente da fonte.

Voltei até minha clareira, tomando cuidado para não pisar nalguma sementinha ou inseto que esteja trabalhando em prol a natureza. Hoje em dia, todo cuidado é pouco, já que logo, logo, não terei mais lugar para morar com o tanto de gente que não suporta a natureza e seus "bichos". Ri bobo com o pensamento e me espreguicei entre as flores da minha clareira. As pétalas brancas dançavam na brisa e convidavam o sol a espalhar filetes de luz pela relva. Eu me sentia feliz. Era quase como se eu sentisse o abraço de mamãe, me dizendo que o dia seria incrível. Seria mais incrível se meu irmão ainda fosse meu, mas....

Balancei a cabeça, esquecendo o pensamento.

Fechei meus olhos e senti passos afoitos zanzando pelas arvores. As plantas me diziam que alguém estava para chegar e que eu não precisava me preocupar. Mas mesmo assim, eu sentei-me no manto verde e florido e aguardei que chegasse. Não demorou muito e uma ninfa de pele rosada e cabelos acastanhados coroados de flores, surgiu na sombra da floresta. Ela não parecia tensa, mas expressava busca no olhar. Uma ansiedade louca de querer me encontrar. Pelo cheiro dela, creio que essa ninfa seja uma Antusa, um espírito das flores.

Seu olhar me encontrou e eu estendi a mão, erguendo um pouco meu corpo bronzeado pelas anos que ajudei meu pai na plantação de trigo na Grécia. Ela correu aos passos meigos e tocou minha mão. A ninfa fez uma reverencia e beijou minha mão. Era estranho ser o deus dos espíritos naturais, não estou acostumado a tanto respeito e devoção. Suspirei e fiz um sinal para que a ninfa falasse.

- É..... hum.... - A ninfa ficou vermelha e gaguejou. Foi então que lhe toquei o rosto e aproximei nossos corpos. Massageei suas bochechas e aproximei meu rosto ao dela.

- Eu não mordo, diga o que precisa - falei terno e manso. Aveludado, na tentativa de draga-la a mim.

- Kheiron pede sua presença na casa grande... - desabafou de uma vez. Sorri e lhe toquei os lábios com os meus de forma gentil, como num agradecimento.

- Diga que já compareço - afirmei e deixei que a Antusa escapasse de mim.

Assim que ela sumiu. Peguei meu macacão surrado e vesti meu corpo nu. Sim, só ele por cima de mim já era o suficiente. Muita roupa me incomoda e creio que me faça mal. Peguei minhas outras coisas e caminhei sereno pela floresta, assoviando uma canção antiga de ninar que meu pai entoava para mim quando eu era bem pequeno. Não demorou muito muito e eu já dava as caras à movimentada vida cotidiana de heróis correndo pra cima e para baixo. Avistei a casa grande e evitando olhares, me aproximei de meu destino.

Na casa grande, Kheiron estava sentado em sua típica cadeira de rodas. Um tanto quanto velho e cansado. Não me preocupei com isso, já que seu espírito costuma mudar quando alguém como eu, um deus da natureza ou espírito natural está por perto. Algumas borboletas voavam ao meu redor e algumas das flores que circundavam a casa grande até se abriram ao me ver. Eu estava um tanto quanto alegre. Apreensivo, pois um novo deus, nunca seria chamado pelo acampamento, se não fosse algo tão sério. Longe de mim achar que só fui chamado para resolver problema... Ok, confesso, eu amo resolver problemas entre ninfas. Geralmente elas brigam por minha causa ou por algum sátiro ou campistas tipo... Olhei para o lado e havia um garoto bonito de pele clara. Perdi um pouco meus pensamentos, mas logo me incomodei com a presença de um outro ser.

Arrumei minha alça e olhei para Kheiron de volta. Havia um homem com uma aura estranha. Nunca tinha sentido tanto poder assim. Era se como a vida, a morte, todos ao átomos e partículas do universo existissem por causa dele e ao mesmo tempo uma sensação de destruição e calamidade me ocorria. Atendi uns dias atrás um campista agressivo de energia que rouba a paz da minha natureza, mas esse homem, quer dizer deus, tinha uma presença tão infinda que não só me incomodava, como me amansava, me dava paz, guerra, alegria e tristeza. Não sabia o que era ao certo. Ele era um deus impaciente, do qual não consigo sentir sua essência. Ele tem um cheiro artificial de perfume caro e esse cheiro esconde sua essência, se é que esse homem tem essência.

Quando o centauro tagarelou, finalmente soube o motivo de não saber reconhece-lo. Khaos. Ele é p princípio de tudo e o consumidor de todas as coisas e é por isso que ele não tem uma essência defina. Sua voz era como facas precisas que cortam e fatiam as palavras. Ele queria que a gente procurasse uma filha de Afrodite. Senti o cheiro de rosa na hora e sem notar, descobri que meu companheiro de aventuras era filho da deusa do Amor. Eu estava tão desnorteado que nem prestei atenção em descobrir quem era meu companheiro, mas agora que sei, temi um pouco. Geralmente filhos de Afrodite atraem problemas. Espero que não seja o caso.

Em todo caso, a irmã desse menino, Mellody, é muito bonita. Ela tem a aparência de uma Potâmide. Olhos amendoados, pele como a de café aleitoado e cabelos tão escuros como a noite, como a asa de um corvo. E, claro, ela devia ter o mesmo cheiro de rosas, igual esse loiro que está ao meu lado. Khaos também disse que essa menina é sua preferida. Dei de ombros e arrumei a alça que continuava caindo dos meus ombros, deixando meu peito todo exposto.

Passei a mão pelo meu pescoço e suspirei com o restante das ameaças do senhor caos. Se essa menina estiver morta serei eu e esse garoto quem pagaremos pelos erros dessa semideusa que não teve cuidado. Todo mundo sabe que não deve navegar por ai no mar de monstros. Se eu tiver que pagar por um erro de outra pessoa, eu que vou punir todos os filhos de Afrodite que eu ver. Olhei para o menino e sorri radiante. Nada contra ele, apenas estou um pouco instável com a presença de Khaos. Por sorte, ao estalar os dedos, o Primordial do caos, desapareceu num clarão, nos deixando ali.

Kheiron apenas suspirou pesadamente. Eu faria o mesmo. Khaos parecia bem como ele dissera: “uma criança”. Fiquei ainda mais chateado quando soube que eu teria que resgatar outro campista sem noção. Uma borboleta pousou no meu ombro e tire arrumar novamente meu macacão. Filhos de Poseidon, sempre se achando heroicos o suficiente para caírem e se perderem em suas próprias aventuras tolas.

Enfim...

O centauro disse que eu e o menino bonito fossemos até a praia, pois era dali que nós partiríamos para nossa grande aventura de resgate. As flores devem ter percebido minha nada satisfação com aquilo e se fecharam de uma única vez. Eu sou uma pessoa boa, de verdade, mas não curto muito quando outrem agride meu ecossistema. De de ombros e toquei o ombro do garoto de leve, escorrendo a palma da minha mão em seu braço macio. Espero que ele não ache que eu o estou desejando. Não tenho culpa se gosto de contato. Peguei o garoto pela mão de forma gentil e fui caminhando até a praia sem me preocupar com o tempo. Estava quente e um tantinho abafado. Talvez chova...


- Thierry, né? - perguntei. Eu sabia que tinha um garoto bonito no acampamento, pois as ninfas são muito fofoqueiras e a floresta só fala disso. "Ah, Thierry é tão lindo" ou "Hoje vi Thierry tomando banho pela fresta do chalé de Afrodite". Por isso chutei seu nome. Minha mão ainda estava na dele, e olha, eu gostava da sensação de dar as mãos - Eu sou Albafica, muito prazer! - falei radiante, não percebendo que meu macacão estava mostrando a voltinha do meu bumbum bronzeado. Soltei a mão do garoto e arrumei minha peça de roupa. Olhei para trás meio corado de sol e sorri - Ops, roupas dão um trabalho! - comentei como quem não quer nada.

Meus pés já pisavam na areia e se afundavam entre os grãos. Quando dei por mim, havia uma lancha luxuosa com um "C" estampado nele. Devia ser "c" de caos. Muito típico dos deuses. Eu não tenho nada com meu nome. Coloquei a mão nos meus olhos para protege-los do sol e notei algo diferente no meu pulso. Havia uma pulseira de couro presa ao meu pulso. Eu não lembrava de ter algo assim nele. Quer dizer, eu nunca usei pulseira. De vez enquando as ninfas me coroam de flores ou sátiros trançam flores ao redor do meu tornozelo e coisas assim, mas pulseira? Onde foi que consegui isso?

Não dei muita importância.

Subi na lancha e estendi a mão para o garoto - Pronto pra aventura? - perguntei profundamente animado e calorento. Abri um sorriso largo e contagiante. Algumas borboletas voavam ao meu redor e meus olhos se fechavam devagarinho e convidativo. Espero que o menino não me ache estranho, pois nossa aventura somente está começando.