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MOP - Demônios do Oriente - Danny Yad

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Mensagem por Hipnos Qua Ago 24, 2016 11:43 pm

DEMÔNIOS DO ORIENTE
Cardume Devorador
Danny havia conseguido se sair muito bem no treino que fizera a três dias atrás. Porem, seu descanso havia terminado quando o diretor do acampamento solicitou seus serviços a favor do acampamento.

Aparentemente havia um tubarão grande e violento causando problemas nos mares da Nova Zelândia. Porem, Dionísio estava desconfiado de outro tipo de forças por trás do suposto tubarão. 10 mortais já haviam morrido e 20 ficaram feridos dos ataques e, já era hora dos deuses intervirem, e quando se fala deuses, diz-se meio-sangues.

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MOP - Demônios do Oriente - Danny Yad Empty Re: MOP - Demônios do Oriente - Danny Yad

Mensagem por Danny Yad Seg Out 03, 2016 4:45 pm


Forge Son

“...Eu só conseguia dizer que estava abaixo d’água. Havia alguma luz lançada sobre minha cabeça, caindo sobre meu corpo como se os céus me abençoassem, o que, considerando minha situação, era uma ideia que eu jamais poderia conceber. Meus cabelos ruivos flutuavam a mercê das águas em que eu estava imersa, numa dança harmônica junto com meu vestido branco...”

Acordei na poltrona do avião assustado, arfando em busca do ar que não me faltava, agarrando-me firmemente ao que sobrara do braço do assento esmagado, ferro e enchimento escapando por entre meus dedos.

— Dr. Yad? — A aeromoça estava assustada, agradecendo por não ter tido a audácia de pôr a mão em mim, enquanto eu me debatia em meu pesadelo.

— Desculpa! — Eu me apressei em dizer, corando até o couro cabeludo, aceitando a água que a mulher me oferecera, vendo a apreensão estampada no rosto da comissária de bordo, com medo de eu fazer a ela a mesma coisa que fiz ao assento.

Morfeus precisava urgentemente de uma aula de etiqueta sobre sonhos proféticos. Avião não era lugar de deixar um filho de Hefestos, com músculos robustos e capacidade de arrebentar metal, nervoso. Aquele avião podia não ter chegado a seu destino final se eu tivesse sido exposto a raios gama. Tá bom! Estou dramatizando, mas, nervoso, eu era bem parecido com o Hulck.

O sonho era ainda indecifrável para mim, não tinha entendido absolutamente nada, mas tinhas a forte impressão de que tinha alguma coisa a ver com a minha ida à Nova Zelândia, uma missão encomendada às pressas pelo acampamento.

***

Cheguei a Christchurch vinte horas depois que saí da América, fazendo uma ponte aérea no Chile antes de chegar a Nova Zelândia. Era uma noite estrelada e fria na ilha sul do arquipélago que formava o país.

A cidade estava deserta, já que eu chegara de madrugada, mas parecia extremamente limpa e organizada, bem sinalizada e cuidada. Eu não sentia muito frio porque, como filho de Hefestos, podia me dar ao luxo de ter um metabolismo mais acelerado e uma temperatura corporal mais elevada, mas sabia que os ponteiros climáticos estavam bem gelados.

— Chegamos, senhor. — O taxista disse, quando enfim paramos diante do prédio da Universidade de Otago, vapor saindo de sua boca.

A Universidade ocupava todo o quarteirão, muito próximo ao hospital, imaginei que fazia parte do mesmo complexo, o que era ótimo. Eu teria fácil acesso aos pacientes, o que facilitaria a investigação.

Um funcionário da Universidade pegou minhas malas, enquanto um senhor de terno e gravata, me esperava com um sorriso diplomático estampado em seu rosto enrugado. Tinha cabelos brancos e barriga redonda, os olhos eram azuis e eu quase podia jurar que não nascera ali, mas resolvi não comentar, afinal, era o reitor da Universidade.

— É uma honra tê-lo conosco Dr Yad, espero que tenha feito uma boa viagem. — Ele disse, o sotaque russo bem forte. — Sou Dr Rubert, o reitor da universidade. — Ele estendeu a mão, que eu apertei com cordialidade. — Estamos muito gratos pelo senhor vir nos ajudar.

— Não há de que, estou ansioso para resolver esse caso. — Eu falei com sinceridade, mas as horas de vôo cobravam seu preço. — Mas, por hora, eu gostaria muito de descansar, estou morto. — Não sabia se era assim que um PhD, como eu, supostamente deveria se portar, mas sinceramente eu estava muito cansado para pensar nessas coisas complicadas.

— Claro, claro. — Ele disse simpático, provavelmente conhecia o efeito das aeronaves no metabolismo humano muito bem. — Leve-o para o quarto, John! — Ordenou a um garoto, que até aquele momento eu não havia notado.

Tinha a pele bronzeada, os olhos azuis curiosos e atentos, a barba bem cuidada e cheia. Sua expressão era travessa, e, por algum motivo, me lembrava os filhos de Apolo do acampamento, sempre naturalmente belos e dispostos, espertos e ativos. Seu cabelo loiro era mantido longo e parecia extremamente californiano, quase como se ainda estivesse nos EUA, mas não parecia tão irresponsável quanto meus primos distantes.

— Por favor, me siga, Dr. Yad — Ele disse formalmente e tentei acompanhá-la sem chamar muita atenção.

Se o prédio era grande por fora, por dentro isso se evidenciava. Haviam tantos corredores e portas, que seria fácil se perder. Eu fui instalado no terceiro andar, subindo pelo elevador do prédio. Em todo momento o garoto se manteve calado, mas seus olhos demonstravam a curiosidade a respeito da personalidade a sua frente. Resolvi que era melhor não saciá-la, não queria correr o risco de estragar meu disfarce.

Minha hospedagem não era exatamente luxuosa, mas tinha bastante conforto. Possuía três cômodos: Quarto, Escritório e Cozinha.

O quarto era uma suíte modesta, com uma cama box, um criado mudo e uma decoração hospitalar, branca e insípida, o banheiro parecia bem esterilizado no mesmo estilo do resto do cômodo. O quarto, assim como a cozinha era acessada através do escritório, o cômodo central da instalação.

O escritório possuía uma mesa de mogno, com alguns livros de medicina, nas prateleiras de uma biblioteca modesta, um computador que me pareceu com capacidade suficiente de processamento. A mesa ficava de frente para porta que dava acesso para o cômodo. A decoração era insípida também, mas apenas o suficiente.

A copa tinha utensílios comuns de cozinha, todos em branco, como nos demais cômodos.

Aparentemente era o escritório de um dos médicos pesquisadores do hospital, que estava de férias. Eles arrumaram o quarto às pressas, mas acredito que tinha pouca coisa para se livrar, não havia muita personalidade dentro do escritório, como se a pessoa mal tivesse vida.

— Espero que esteja de acordo, Dr Yad. — Ser chamado de doutor realmente estava me deixando incomodado.

— Danny — Eu disse. — Por favor, me chame de Danny, temos praticamente a mesma idade. — Eu disse, um sorriso sincero em meu rosto, retribuído pelo garoto. — E as instalações estão ótimas, obrigado pela atenção, ainda mais com tão pouco tempo para se organizar. — Eu disse e ele fechou a porta me deixando com meus pensamentos.

No geral, campistas tão novos, como eu, não são mandados para missões tão longínquas como aquela, mas aparentemente, com os últimos ataques, os mais experientes estavam todos ocupados, deixando a missão de investigar os supostos ataques de tubarões na Nova Zelândia a meu cargo.

As notícias a respeito dos incidentes eram bem escassas, mas como deus, Dionisio tinha fontes seguras e fortes suspeitas de que não se tratava de tubarões normais, mas de alguma coisa que estava se movendo bem abaixo de nossos narizes.

Ele dissera que, por ser uma missão com alto nível de periculosidade, ele me daria um pouco mais de recurso que o normal, pagando minhas passagens, minha estadia, transporte e um disfarce, bom o suficiente para que eu tivesse como interrogar as vítimas, o que, no meu caso, facilitara bastante.

Não bastasse isso, me dera um iPhone com ótimos aplicativos e que tinha uma proteção mágica para não atrair monstros indesejáveis, ao menos não mais do que o normal. O celular me permitiria me comunicar com minha equipe de apoio no acampamento meio sangue, formado por Alex e Mathews.

Era estranho Alex deixar o hospital, ainda mais por tempo indeterminado, mas Mathews o havia convencido que precisaria de um médico para auxiliar com a operação de investigação, ainda mais considerando o número alto de feridos no hospital. Se realmente fosse alguma entidade mágica que estivesse causando toda aquela confusão, a ciência mortal não seria capaz de curar aquelas pessoas.

Sentei à mesa e liguei o computador. Provavelmente ele devia ter acesso ao sistema da faculdade. Pretendia ter algumas informações antes mesmo de começar, afinal, amanhã eu teria que bancar o “Dr Yad”, não pretendia estragar o disfarce no primeiro dia falando asneiras no meio de gente tão inteligente, iria pedir a uma pessoa especializada no assunto para me ajudar.

Pus o iPad na mesa e apertei o aplicativo: “Socorro, Sou Burro!”. Segundo o manual era o que abria chamadas para minha forja no acampamento, onde minha equipe de apoio se encontrava. Sobre o nome...Acredite, havia piores...

Não demorou para que dois hologramas aparecessem em minha frente, bom...eu demorei a entender que eram hologramas, os pixel’s os faziam parecer demasiadamente reais, tive que tocar num deles e atravessar para saber do que se tratavam.

— Cara, para de colocar sua mão na minha boca, isso é estranho. — Mathews reclamou, enquanto Alex ria.

— Isso é incrível! — Eu exclamei, empolgado com as possibilidades, já tentando imaginar como ele funcionava, procurando as teorias por trás de uma tecnologia tão avançada.

— Tah, Dr Yad — Debochou o filho de Athena — Como foi a recepção? — O outro perguntou, sentando-se em uma cadeira, mas o celular só o mostrava sentado em cima do nada, hilário.

Contei de toda a pompa e circunstância com que fui recebido e de como eles estavam felizes em ter uma mãozinha com o assunto, além do fato de estarem guardando bastante segredo sobre as vítimas, mas isso já sabíamos antes. Não havia qualquer divulgação do acontecido em lugar algum da internet e, se o Google não encontrava, simplesmente não existia.

— Encontrei os arquivos! — Eu disse, depois de alguns instantes fuçando no sistema do hospital universitário. As senhas praticamente apareceram na minha cabeça e a pasta correta fora exibida no holograma, para que tanto eu, quanto os meninos pudessem ver. — O que acha, Alex? — Perguntei, enquanto o garoto olhava com interesse para os rostos.

— Difícil dizer... — O filho de Apolo disse, analisando com afinco as fichas. — ...A única coisa que posso afirmar é que, com certeza, foi uma criatura marítima, o que torna bem ruim nossa atual situação. As do mar são o tipo pior de criatura, as bactérias variam de uma para outra e o tratamento pode ser bem sensível. Se aplicarmos o tratamento para venenos de náiades e o veneno for de outra criatura, as bactérias podem agir de maneira diferente, podendo ser erradicadas num caso e, no outro, piorar todo o quadro. — Ele afirmou, mas não olhava para ninguém, a não ser para as fichas, como se falasse sozinho, mais para si mesmo do que para qualquer um de nós.

— Não existe uma preferência na predação. — Mathews começou, analisando as fichas junto com Alex, indicando as fotos das fichas — Etnia, gênero e idade misturadas, não há um padrão entre as vítimas. — Ele falou, repetindo o tom discursivo de Alex, falando para sua própria reflexão. — Obviamente, isso quer dizer que o autor é mais animal, possuindo menor consciência humana. — Mathews conclui sua análise.

Bom...São informações que tínhamos a princípio, ou que, pelo menos, supúnhamos, mas agora havíamos confirmado nossos temores. Monstros marinhos seriam um pé no saco para lutar, ainda mais considerando que eu sou um filho do fogo.

— Bom, meninos, é isso! — Eu disse, já bocejando, estava cansado.

— Estou enviando algumas informações para não fazer feio amanhã. — Alex disse, tão monotonamente quanto possível, os olhos vidrados nas fichas, como se a resposta fosse simplesmente saltar em suas vistas.

***


Pela manhã, eu fui levado para onde os pacientes estavam sendo mantidos, numa quarentena no último andar do prédio, num local isolado o suficiente para não permitir contaminação.

— Estamos certos de que não se trata de uma doença epidêmica, mas, para evitar pânico, os colocamos sob custódia mesmo assim. — Disse o Dr Rubert, quando passamos pelo último procedimento de segurança, John a seu lado, mudo como na primeira noite.

— Sábia decisão! — Eu confirmei, mesmo entendo pouco do que ele falava.

Até aquele momento, Rubert havia me enchido de perguntas que poderiam estragar meu disfarce, caso eu não tivesse lido as informações de Alex, a respeito de como me portar na presença dos médicos. Eu diria que as descrições do curandeiro foram bem precisas, quase como se ele mesmo fosse fazer essas perguntas para um novato. Após o interrogatório, ele finalmente me levou a ala dos feridos.

O que encontrei, quando cruzei a porta, foram sete pacientes dopados enfileirados próximo a janelas com persianas entreabertas, permitindo que o sol da manhã aquecesse um pouco a atmosfera gélida do local. Aparelhos bipavam sem parar, estavam todos com intravenosa e o soro caía lentamente, nutrindo os corpos, que aparentemente não estavam recebendo comida.

— Eles são mantidos dopados o tempo todo? — Foi minha primeira pergunta, mas o olhar assustado do Dr Rubert devia querer dizer que eu não conseguira esconder meu tom de raiva.

— Não temos escolha. — Disse na defensiva — Acordados eles são muito agressivos e acabam por atrapalhar as análises. — Ele concluiu.

— Entendo, o senhor fez o melhor que pôde, me desculpe. — Eu disse, não tão convencido, mas não tendo muito mais escolhas a esse respeito.

Me aproximei de uma das vítimas, a mais recente,  e olhei com maior atenção, examinei os olhos, a coloração e analisei melhor a ferida. Aquilo definitivamente não era uma mordida de tubarão.

— Elas foram encontradas na água? — Eu perguntei e o homem confirmou.

— Estranhamos também, por isso o chamamos! — Dr Rubert, contornando a marca da mordida.

— Quando começaram os casos? — Eu perguntei, verificando outras vítimas, mas percebi que haviam diferença nas mandíbulas, algumas maiores, outras menores, o que indicavam mais de uma criatura.

— Há pelo menos seis meses, tivemos várias mortes e, entre os feridos, esses são os que estão em pior estado. — Via-se em seu rosto que ele já não sabia o que fazer.

— E os que já foram liberados? Já foram interrogados? — Eu devolvi, imaginando que talvez eles pudessem ter uma pista a mais.

— Já, mas todos disseram que viram a barbatana antes do ataque.

Tirei algumas fotos antes de sairmos daquela sala deprimente e pedi uma amostra de sangue das vítimas para poder analisar em meu escritório, o que causou estranhamento nos membros da equipe médica, mas não interferiram em minha decisão, já que eu era o especialista.

Fechei a porta atrás de mim com pressa, acessei o aplicativo e logo estávamos em uma hologramaconferência. Pus as amostras próximas ao iPhone e apertei o aplicativo “Manda para cá”, que fazia transferências de pequenos objetos de um lado para o outro, além de carregar no holograma as fotos tiradas.

— Tem certeza que foram atacados na água? — Mathews questionou e eu confirmei, a mesma conclusão que todos jantavam chegado. — Mas essa arcada dentária é de um lobo! — Sua voz subiu algumas oitavas com a surpresa.

— Pensei a mesma coisa, assim como a equipe médica. — Eu disse, olhando para a mordida canina no braço da vítima. — Alex não disse que era uma criatura marinha? — Questionei, olhando para o loiro com certa desconfiança.

— Digo e repito. — O loiro, em todo momento em que analisávamos as fotos, estava trabalhando nas amostras de sangue que eu havia enviado. — E já sei do que estamos falando: Telquine.— o curandeiro exibia um sorriso triunfante, havia resolvido o mistério.

— Sério? — Mathews pulou direto para os resultados dos exames, depois olhou para as fotos. — Isso é péssimo! — Seu rosto mostrava descontentamento.

— Eu deveria saber do que os dois estão falando? — Perguntei, meio irritado.

— Oh, o grande Dr Yad não sabe o que é um Telquine? — Mathews estava debochando, mas só porque eu não podia amassar o crânio dele. — Telquines são demônios marinhos, que possuem cabeça de cachorro, o que explica as marcas caninas nas vítimas. Eram mestres em magia e ferreiros habilidosos, mas foram mortos, ou trancados no tártaros ou deformados por Apolo...Existe algumas divergências na história, mas todas apontam para a destruição ou banimento dessas coisas. — Mathews concluiu.

— E não estamos falando de apenas um. — Alex exibiu uma sequência de fotos no holograma e pediu ao sistema para medir as mordidas, haviam vários tamanhos diferentes. — Posso dizer que tem, ao menos, cinco deles, mas podem ser mais. — Alex não gostava de especular, mas se estava fazendo é porque desconfiava de algo.

Mathews enviou um arquivo com todas as informações que possuía a respeito das criaturas, mas seu rosto exibia uma duvida que não conseguia sanar, como se buscasse respostas no vazio.

— O que foi? — Perguntei, já que o filho de Atena parecia tão confuso.

— Não sei...Não faz o menor sentido eles atacarem humanos desse jeito, ainda mais sem matá-los. — Ele parecia não falar para mim, mas para si mesmo. — Bom...Mas o que realmente importa agora é tratar dos feridos. Alguma ideia Alex?

— Tenho, já que perguntou. — O curandeiro parecia analisar um frasco com muito cuidado. — Os venenos são os mesmos no grupo, então não teremos problema ao aplicar um tratamento, o único problema é: Não possuímos as ervas. — Ele anunciou.

— Quais são? — Mathews perguntou, já abrindo a ferramenta de pesquisa.

—  ngala da alma, Súlfara e Pravonoi — Disse, contando nos dedos, revendo a receita em sua cabeça. — O resto é mais simples de achar do que se pensa. — Alex falou, como se já tivesse vendo a solução pronta na sua frente.

— Estamos com sorte, existem algumas na Nova Zelândia. — Ele disse, exibindo no mapa as localizações. — Além disso, preciso que você invada o sistema de segurança da Nova Zelândia. — Ele disse, o rosto sério, como se tivesse um plano bem elaborado.

— Quer mais nada não? Tem certeza? Acho que Heracles teve mais sorte que eu... — Eu debochei e Mathews me convenceu que tinha que ser feito.

— Já que quer mais uma tarefa, traga ervas o suficiente para que eu monte alguma reserva desse tipo de veneno e estoque aqui no acampamento. — Alex disse, mais uma vez olhando para suas análises.

— Claro...Porque não? — Revirei os olhos e desliguei a conferência. Tinha um bocado de trabalho para fazer.

***

Havíamos pego a State Hightway 1 no momento seguinte a minha explicação. Todos ficaram desconfiados de minha atitude, mas ao saberem que havia conseguido encontrar uma maneira de curar a toxina fez com que eles quisessem cooperar, mas aceitei apenas a ajuda de John, que parecia estar familiarizado com o nome das ervas.

John, aparentemente sabia muito sobre a cultura Maori, que conhecia as ervas, por outros nomes, mas ao menos era mais do que eu mesmo.

Depois disso, ele me colocou em seu carro, um tuckson moderno e com cheiro de carro novo, não imaginava que era tão rico o garoto.

O garoto não era tão calado como estava se mostrando durante todo o tempo, sendo bastante simpático em nossas conversações. Aparentemente Rubert devia estar inibindo a personalidade de seu funcionário.

— Como você conhece essas plantas? — Eu perguntei, mirando a paisagem que se estendia a nossa vista. O sol não aquecia como em Long Island, mas a paisagem era linda mesmo assim.

— Minha mãe é descendente maori e contava muitas histórias, meu avô sempre vinha nos visitar e falava da cultura de nossa gente, quando você mencionou as plantas e onde elas poderiam ser encontradas, eu deduzi que eram as mesmas. — Ele disse, seu sorriso parecia morrer um pouco, como uma lembrança dolorosa.

— Devem ter sido boas pessoas, mas e seu pai? — Eu perguntei, depois percebi que estava fazendo uma pergunta pessoal. — Me desculpe, não precisa responder, eu fui inconveniente. — Fiz questão de me retratar imediatamente.

— Tudo bem, mas não tem muito o que dizer dele, eu não o conheci e minha mãe insiste em dizer que ele era o grande Maui que veio se deitar com ela. — Ele disse e eu notei que ele não se escondia do frio como os demais e que o sol o fazia belo, de muitas formas diferentes ele parecia um dos filhos de Apolo.

— Maui? Quem é? — Eu perguntei e ele teve que me contar a origem mítica do surgimento da Nova Zelândia e as muitas aventuras do garoto divino responsável pelos humanos não serem mais imortais.

— Em resumo, foi só uma lenda, minha mãe estava mentindo porque não queria admitir que não sabe quem é o meu pai, ou, pelo menos, não quer que eu saiba. — Completou, seu tom tristonho.

— Oh, as lendas escondem verdades tenebrosas, acredite.— Por um segundo eu incorporei as falas de Kheiron —  Eu não me surpreenderia se você realmente fosse filho de um deus, ou semideus, não sei exatamente onde Maui se encaixa nessa situação, mas ele me parece bem animado, eu diria. — Pensei em minha própria situação e ri com o caso — Deve ter sido uma criança nojenta achando ser filho dele — Eu ri e o outro me acompanhou.

— Isso foi cruel, mas é verdade, eu merecia umas surras.

O garoto pareceu se animar mais um pouco, o que era bom para nosso convívio, dirigiríamos até Omarama, onde pararíamos para descansar, seriam quatro horas de viagem até lá e mais quatro até o Lago Te Anau, onde poderíamos procurar algumas informações das plantas medicinais.

John deixara de me tratar formalmente depois da nossa conversa íntima, mas eu sabia que ele ainda gostaria de obter informações do grande Dr Yad, informações que eu não poderia dar, mas continuava mantendo contato com minha base no acampamento, apenas por mensagens, seria muito complicado explicar para o garoto os hologramas produzidos por um iPhone.

Ele era um mestrando que estava para fazer o doutorado, para poder ter maiores oportunidades de tese, resolveu tornar-se assistente do Dr Rubert. Era médico forense e adorava investigar tudo ao seu redor, inclusive minha vida. Me fez perguntas que teriam me entregado, caso Alex já não tivesse as previsto, algumas outras eu simplesmente me esquivei.

Chegamos a Omarama no início da tarde, John queria que continuássemos, mas achei besteira ele passar mais quatro horas dirigindo, o carro era confortável, mas não era nada aconselhável forçar o limite do corpo humano.

— Pousaremos no hotel então, eu pago. — Ele não permitiu que eu pagasse minha parte, já que os fundos estavam vindo da Universidade e do governo que desejavam resolver logo aquele caso de infestação.

— Desse jeito eu vou ficar mal acostumado. — Eu disse, abrindo meu sorriso largo.

Almoçamos no restaurante próximo do hotel e depois andamos um pouco pelo vilarejo. Ele insistiu que eu deveria conhecer um pouco de Nova Zelândia, já que, desde que cheguei, não consegui fazer outra coisa que não correr de um lado por outro.

— Você não disse que espécie de tubarão se tratava. — Ele me questionou, dando-se de desentendido. Já era a terceira vez que ele me lembrava dessa pergunta, em intervalos diferentes.

— Já disse que não posso dizer. — Ele me olhou com algum desafio e eu podia ler em seus olhos que, na verdade, ele suspeitava que eu não soubesse do que estava falando. — Olha, é uma espécie quase desconhecida, poucos membros da comunidade científica conhecem, mas já que quer um nome, então vamos chamá-los de Telquines. — Finalizei, já ficando irritado com tanta insistência por parte do loiro.

Ele se deu por satisfeito, pelo menos por hora, mas não parecia convencido de que aquela era toda a história.

***

Pela manhã, saímos bem cedo pela State Highway 8, o frio se tornara mais rígido naquele dia e a respiração causava pequenas nuvens de vapor, eu continuava sem maiores problemas, mas a falta de sol estava me incomodando, as nuvens cobriam o céu cinzento agourentamente, me dando uma sensação deprimente.

A paisagem se tornara mais desolada, embora o alinhamento das montanhas fosse uma visão a parte, alguns animais pastavam nos terrenos abertos, sem o menor problema com os transeuntes nas rodovias.

Tive algumas conversas amistosas com John, passando por assuntos muito triviais, mas ao menos estávamos ficando mais próximos. O garoto era simpático por natureza e muito útil como guia, falando sobre as belezas de seu país com carinho.

— Tirando as lendas do meu avô, a Nova Zelândia é perfeita. — Ele disse entre risadas.

— Fala como se elas te assombrassem. — Eu disse, ainda no clima descontraído. — Por um acaso um dos monstros maori já te perseguiram? — Por algum motivo eu estava achando aquilo engraçado, mesmo a ameaça de monstros sendo algo comum em minha vida.

— Ah, nada mais que pesadelos. — Aquela resposta me enviou um gelo pela espinha. Além de uma desconfiança clara sobre a verdade por trás do que a mãe de John disse.

Não quis prosseguir o assunto porque entrávamos na Te Anau Milford Hightway, a rodovia principal da cidade, que não chegava a ser um polo metropolitano como Nova York, mas tinha muito charme.

O clima do país ajudava na paisagem quase rural, com grandes propriedade e casas charmosas, cercadas de vegetação bem controlada.

— Vamos procurar uma hospedaria, almoçar e depois começar a procura pela mavokua — Ele disse, eu demorei para lembra que era a  ngala da Alma.

Nos instalamos em uma pousada modesta em Mokunui St e almoçamos no Redcliff Cofee, um lugar muito aconchegante, com uma comida deliciosa, que pudemos desfrutar próximo a uma lareira. Eu adorava ficar perto do fogo e aquele lugar era incrível.

— Bom, vamos atrás de algumas pistas? — Eu respondi afirmativamente e seguimos para o centro da cidade.

— Acho melhor subirmos. — Eu comentei e John concordou.

Subimos pela Milford Highway e vi a vegetação se fechar ao nosso redor, uma muralha de bosques quase amarelados. Poucos carros trafegavam na avenida e tínhamos pouco ou nada para fazer, mas um movimento entre as árvores me chamou atenção.

— O que é aquilo? — Eu disse e parecia ser um rosto, mas a vegetação impedia a precisão.

— Vamos descobrir. — John ligou o pisca alerta e estacionou

Era um homem moreno, de olhos pequenos e grande quantidade de gordura no corpo, seu rosto era tatuado, assim como seu braço esquerdo. Ele estava se escondendo entre as árvores e, quando nos viu, pegou sua lança e nos ameaçou. Por pouco tive que invocar Mjölnir, mas John sabia o dialeto muito bem, o que, no fim, nos deu uma ótima dica de onde ainda podíamos encontrar  ngala da Alma.

— Nós teremos que arrumar uma lancha até a ilha no meio do lago. — John parecia não gostar muito disso. — Talvez eu consiga uma amanhã. — Ele disse, mas eu discordei.

Procurei no iPhone e encontrei um lugar para acampar que era próximo o suficiente para fazermos uma travessia de barco e talvez conseguíssemos alguém com uma lancha para nos alugar, dessa forma não perderíamos um dia de ação.

***.

Encontramos facilmente o Henry Creek Campsite, que, aliás, era realmente um ótimo lugar para acampar. Muito limpo, organizado e bem sinalizado. Gostaria muito de ter a oportunidade de fazer turismo sem ter a preocupação de sete vidas num leito de morte em meus ombros.

Descemos da rodovia e encontramos o estacionamento com facilidade, depois descemos a pé. Como estávamos muito próximos dos fiordes, o local tinha uma vista incrível, além de uma temperatura bem baixa, que percebi não incomodar muito John. O sol começava a se por, refletindo na superfície do Lago Te Anau. Eu podia avistar a ilha diminuta no horizonte e percebi que tínhamos um longo cominho até chegar nela.

Havia próximo um aluguel de barcos, para a nossa sorte, mas aparentemente estava fechada. Dois policiais olhavam por trás de seus óculos escuros para nós dois, enquanto montavam guarda no local. O maior era branco, troncudo, o tipo militar perfeito, já o outro estava bem acima do peso e seu uniforme estava tendo dificuldades de acompanhar seu formato de bola.

— Boa tarde, sou da Universidade de Otago. — John mostrou sua identificação como médico pesquisador e o policial fingiu conferir, pouco interessado no que o loiro tinha a dizer. — Estamos numa investigação e precisamos do barco para ir até a ilha central. — Ele continuou seu discurso, ignorando o fato de que os policiais mal prestava, atenção.

— Infelizmente não poderemos ajudar, esses barcos não vão sair daqui. — Ele disse, a voz grave e autoritária.

— Senhor, gostaria de salientar que eu possuo autorização federal. — Ele disse e dessa eu não tinha certeza se era verdade.

Só então notei que o local, apesar de ser ótimo para acampar, estava totalmente vazio. Dois policiais de repente são destacados de seu pelotão só para ficarem guardando uma área vazia? Estranho.

— Então...Vocês estão protegendo os barcos? É isso? — Questionei, minha mão movendo-se sensivelmente para o bolso da calça, meus instintos semidivinos alarmando-se.

John pareceu notar a ausência de pessoas e deu dois passos para traz, eu fiz o contrário, minha bomba de óleo já dentro da minha mão.

— Sim, estamos tomando conta dos barcos e vocês não vão entrar neles! — O obeso resolveu se pronunciar, agindo como se fosse o dono da razão, mas eu sabia que aquilo era uma armadilha. — Nem vão sair daqui. — Disse, puxando a arma e apontando para nós.

John ficou confuso e assustado, mas disse para ele ficar atrás de mim, minha mania de proteger os outros me tornando um escudo ambulante.

— E é agora que o monstro aparece, não é? — Perguntei, minhas mãos prontas para lançarem a bomba de óleo, John olhava para mim como se eu tivesse ficando louco.

Para atestar minha sanidade, alguma coisa se ergueu de dentro de uma das canoas. Não havíamos visto, pois estava coberto por uma lona, mas quando a tenra luz do sol iluminou a criatura negra, eu descobri o que era um Telquine.

Tinha a cabeça de um pitbull, as orelhas pontudas e pequenas. O pelo da criatura era marrom, com a gordura acumulando-se em dobras aqui e ali, o focinho negro e os olhos dourados. Se eu pudesse dizer que um pitbull tinha uma expressão, a dele era de malvado. As patas traseiras eram pequenas, quase atrofiadas, a cauda marinha lembrava o de uma serpente marinha, sustentando o peso do corpo do pesado corpo.

— Filho do fogo, você está longe demais da sua casa! — Disse o alto, mas eu já conseguia ver o brilho amarelo por trás dos óculos, o mesmo brilho amarelo que estava nas garras da criatura. Era óbvio que estava sendo controlado pelo Telquine. — E você, filho do sol — Apontou para John. — Devia ficar onde estava! — Quem completou a frase foi o gordo. — Agora vou ser obrigado a matá-los! — Foi quando vi os dois policiais destravarem a arma.

Foi um movimento rápido. Lancei a bola de óleo que estourou em pleno ar, fazendo com que os  dedos dos policiais escorregassem e eles perdessem a mira. Eu envolvi John em um abraço de urso, quando percebi que as duas armas ainda podiam disparar, minha sempre fiel vontade de proteger os outros, usando minha própria pele como escudo, agindo por conta própria. Uma das balas passou longe de nós dois, a outra passou de raspando no meu braço direito, abrindo um sulco nada agradável.

Antes que o bicho tivesse oportunidade de se enfiar na água, para onde ele já estava se dirigindo à passos lentos, eu dei um bom impulso enquanto Mjölnir se libertava de sua forma de pendante e crescia até se tornar um martelo de guerra gigante. Eu ignorei completamente os dois policiais, que tinham se abraçado na tentativa de fugir das balas perdidas, e peguei o Telquine momento antes dele conseguir alcançar as águas.

Foi um golpe poderoso, da forma que só um dos filhos de Hefestos conseguiria dar. A cabeça do meu pesado martelo bateu em cheio nas costas da criatura e o golpe fora tão brutal que ele se desmanchara na hora, desfazendo-se em poeira dourada.

Os policiais desmaiaram no exato momento em que o Telquine fora destruído e John estava em estado estupefato, ainda tentando processar o que acabara de ver, olhando de mim para as criaturas, depois para os policiais.

— Longa história. — Eu me adiantei.

***

Nós roubamos uma das lanchas e rumamos para a ilha central do Lago Te Anau.

A travessia durou menos do que esperávamos, já que John tinha um bocado de perguntas para fazer, questionando-me sobre o que acontecera. Eu devia ter mentido, mas a criatura o chamara de filho do sol, o que significava que, embora ele não soubesse, que ele também era um primo, um semideus.

— Você tá querendo dizer que sou filho desse tal Apolo? — Ele questionou. — Que aquela coisa é o tubarão que tem atacado as pessoas? Um monstro grego?

— Sim, possivelmente sua mãe se apaixonou por Apolo, achando que ele era o tal Maui. — Eu respondi.

Sinceramente, acho que o Acampamento tinha que criar um panfleto de o que fazer quando descobrir que um de seus progenitores é um deus. Geralmente essa informação fundia o cérebro de alguém. Eu estava sentindo-me incomodado com o ferimento, mas não fora muito grave, apenas uma lesão pequena.

Depois de usar tanta energia eu tive que comer uma lenha chamuscada, que encontrara no acampamento, provavelmente foram campistas expulsos pelos policiais, o que deu a John uma dor de cabeça de estranheza.

— Cara, porque aquelas coisas estão atacando? — Ele questionou. — Invadimos alguma espécie de local sagrado para eles? — John estava sinceramente tentando manter sua parte racional diante da loucura.

— Não entendo isso também... — Havia algo que eu devia me lembrar, mas não estava conseguindo me concentrar.

A ilha estava próxima e estávamos prontos para finalizar aquela parte da missão, quando uma barbatana dorsal surgiu na superfície do lago, para então desaparecer novamente.

— Acelera! — Eu gritei para o loiro que não precisou de um segundo comando.

John apressou a lancha em direção à ilha, que nunca pareceu tão longe quanto naquele momento de desespero, mas não havia muito o que se fazer, nós estávamos no território do monstro.

Fiquei olhando a superfície da água procurando as nadadeiras, que apareciam cada momento em um lugar, cada vez mais próximas da nossa pequena embarcação. Mjölnir crescera até seu tamanho total, enquanto eu olhava de um lado para o outro tentando localizar por onde acertar.

Algo encostou no casco e, por pouco John não caiu na água. Eu segurei forte o garoto o loiro e o puxei de volta para embarcação, antes que os dentes encostassem na carne da panturrilha do garoto.

O barco continuava na direção da ilha, mas eu sabia que não seria suficiente, eles já teriam acabado conosco quando chegássemos a margem, isso se chegássemos a ela.

Houve um silêncio estranho, uma calmaria que anunciava o que estava a se seguir. Por um segundo pareceu que o tal monstro havia desistido, que tinha submergido e nunca mais voltaria, mas eu não acreditava naquilo. Meu martelo estava pronto para o golpe derradeiro.

Eu não esperava que fossem dois. Eles saltaram da água ao mesmo tempo. Minha reação automática foi de acertar um golpe poderoso no que saltou, a boca pronta para se fechar ao redor do pescoço do loiro, mas infelizmente não vi que o segundo fechara suas garras na minha perna. Foi um segundo de olhar, antes de eu ser puxado para dentro do frio lago.

Eu tentei chutar a coisa, o que fez com que ele me soltasse momentaneamente. Meu martelo me puxava para baixo, o peso lutando contra minha resistência em afundar. Tentei subir, mas senti garras cortarem minhas costas, a dor fazendo com que eu perdesse o ar.

Comecei a balançar o martelo a esmo, sem muita mira, já irritado com aquela situação desesperadora. O animal não parecia disposto a me deixar subir, sempre que eu tentava, ele me atacava. Foi o extinto que me fez estourar uma bomba de óleo onde eu estava, no segundo em que ele estava para me atacar. Criaturas marinhas não se davam bem com óleo, o que o deixou confuso o suficiente para eu acertar um golpe poderoso do martelo. A eletricidade soltada por Mjölnir dentro da água fora o suficiente para paralisá-lo.

O golpe fora de cima para baixo e a inércia o fez subir, eu o acompanhei, procurando o ar que me faltava. Quando finalmente consegui chegar a superfície do lago, a criatura estava ao meu lado, ainda viva, mas imóvel, com espasmos elétricos.

Dirigi meu ódio a ela, a ardência nas costas alimentando minha raiva. Não me lembro quantas vezes acertei o martelo no peixe imóvel, mas sei que ele já havia se desfeito em poeira dourada quando percebi que estava martelando a superfície do lago.

John conseguiu me localizar facilmente, dada a confusão que eu fazia. Recolhi o machado a sua forma de pendante e seguimos para a ilha. Já era noite quando finalmente encontramos a  ngala da Alma, no centro da ilha, por sorte achamos uma trilha, já há muito não usada. John explicou que provavelmente eram os Maori’s, havia um lugar sagrado em algum canto daquela ilha.

Recolhi alguns galhos secos e fizemos uma fogueira na praia, usando o material de acampamento guardado na lancha. Eu precisava de um momento relaxante, só um pequeno momento, antes de fazer a travessia de volta. E possivelmente precisava relatar o status da missão à minha equipe.

— Não se assuste, são hologramas. — Foi o que disse antes de ligar a conferência.

John quase teve um treco quando Mathews e Alex apareceram, aqueles hologramas quase reais. Tive que introduzi-los uns para os outros e mostrar a erva que coletamos. Alex ficou muito contente ao perceber que era a erva correta.

— Ótimo, estamos no caminho certo. — Ele constatou, mas aquela ruga de preocupação estava presente em seu tom. — Deixa eu olhar o seu ferimento. — Ele disse.

Virei-me de costas e mostrei, o rosto de John não estava nada contente com o que via.

— Claro que esta infeccionada... — Ele constatou, sua expressão analítica de médico. — Temos que mandá-lo para um hospital. — Alex concordava com a opinião do irmão, mas não tínhamos tempo.

Não fosse por Mathews, provavelmente teríamos eternizados em uma discussão desnecessária sobre a capacidade de uma infecção matar tão rápido quanto o veneno de um Telquine. É claro que eles estavam aliviados de não ter sido uma mordida, o que faria com que eu estivesse infectado naquele momento, mas não queria dizer que era menos perigoso. No entanto, eu estava convencido que corríamos contra o tempo, a qualquer minuto, os efeitos dos medicamentos que vinham retardando os efeitos do veneno podiam simplesmente parar de fazer efeito e os pacientes morrerem.

— Porque não ensina John a usar seus poderes, Alex? — Questionou Mathews.

Admito que foi a coisa mais útil que o filho de Atena havia dito até aquele momento. Demorou até John entender do que era capaz, mas quando finalmente conseguira tratar as feridas, eu percebi o quanto ele ficara admirado com a própria capacidade. Agora toda aquela maluquice devia parecer menos complicada na cabeça dele.

— Eu não poderia fazer isso nas vítimas? — Ele questionou e Alex negou, explicando que sem o antídoto, aquilo se tornaria impossível.

Não resisti em comer algumas madeiras chamuscadas o que causou estranheza nos três, mas não estava exatamente muito incomodado com isso, minha preocupação vagava pelo que levara os Telquines a atacarem tão repentinamente, além do fato de eles antes estarem presos e agora estarem livres.

— Como isso pode acontecer? — Eu questionei e Mathews acompanhou meu raciocínio.

— Também estou com essa sensação de que tem algo errado. Não faz o menor sentido esses ataques descontrolados, normalmente eles teriam algum padrão, algum objetivo, mas estão fazendo as coisas muito a esmo. — Mathews andava de um lado para o outro, como se a resposta fosse aparecer em sua mente a qualquer hora, o que não aconteceu, infelizmente.

A conversa, aos poucos, foi morrendo, os assuntos ficando mais triviais. Nyx Já elevava-se sobre nós com seu manto noturno e, recuperado o suficiente para prosseguir viagem, resolvemos retornar ao acampamento, para prosseguir para Wakatipu, onde encontraríamos a súlfura.

Quando chegamos na praia, os policiais não estavam mais lá. Pensei que eles não causariam mais problemas. Doce engano.



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MOP - Demônios do Oriente - Danny Yad Empty Re: MOP - Demônios do Oriente - Danny Yad

Mensagem por Danny Yad Seg Out 03, 2016 4:52 pm


Forge Son

Aquela hora da madrugada, encontramos uma pousada simples em Queenstown, gerenciada por uma velha gentil e acolhedora, nos tratando como se fossemos seus netos. Tinha uma voz cansada e gasta, mas seu sorriso era bem vívido. Tinha uma foto dela quando mais nova e percebi que fora muito bonita.

Não nos preocupamos em ficar em quartos separados, já que a pousada estava um pouco lotada, até porque estávamos exaustos e desejávamos avidamente um bom sono. O quarto em si não era grande, mas ao menos as camas eram separadas.

Pela manhã, tomamos um café reforçado. Como qualquer velha que se preze, Dona Mere era uma cozinheira de mão cheia e fez uma mesa com coisas demais para comermos, mas resolvi aceitar o desafio.

— Que rapaz mais saudável! — Comentou, como uma avó faria.

John no entanto, não estava muito concentrado no café, fazendo com que Mere ficasse insistindo para que ele comesse, como uma avó preocupada faria.

— Já estou satisfeito — Disse simpático. Eu acho até que ele estava lidando bem com a descoberta, mas sua expressão estava voltada para o celular. — Eu simplesmente não sei onde acharíamos a poluva nesse local. Eles têm certeza que esse é o local propício para que elas nasçam? — Perguntou a certa altura, interrompendo Dona Mere.

Sinceramente, acho que os deuses estavam um pouco de bom humor, pois para nossa sorte, Mere era uma descendente Maori, que há muito tinha se instalado na cidade, aberto aquela pousada e vivido dias muito felizes com seu falecido marido. Ela conhecia um local onde possivelmente encontraríamos ainda a súlfura, ou poluva, como eles chamavam.

Era dez horas da manhã quando chegamos a Twelve Mile Campsite, que aparentemente estava cheio. Havia um bom número de furgões na área de estacionamento e muita movimentação. Alguns lanchavam, outros se exercitavam, alguns se preparavam para fazer trilhas. Um ambiente muito descontraído.

John estacionou seu tuckson e ficamos olhando a movimentação de um lado para o outro, teríamos bastante tempo para procurar a súlfura antes de anoitecer, então resolvemos começar logo. Separamos alguns lanches para a viagem e seguimos para mais próximo das águas.

Havia um bom número de banhistas, brincando e se divertindo na faixa de areia da praia, junto com alguns farofeiros espalhando sua sujeira pelo local. Eu olhei feio para eles, mas não pareceram se importar com isso. Era um momento oportuno para procurarmos a súlfura. Segundo Mere, estava em alguma parte da praia, próximo ao Campsite.

— Acho que essa vai ser rápida. — Eu comentei com John, mas claro que não seria tão fácil.

O grito fora o que nos alertara para o perigo, e logo as coisas começaram a ficar caóticas. Alguém gritara tubarão, e, mesmo contrariando a lógica de que um tubarão não seria encontrado naquele lugar, as pessoas correram por suas próprias vidas.

Meu impulso de ajudar fora maior que a minha objetividade.

Havia muitas crianças próximas da água e, muitos banhistas estavam correndo a esmo desesperados, pisoteando-as. Meu instinto foi de correr e pegá-las ajudando a se afastar da faixa de areia o mais rápido possível.

Rapidamente a praia esvaziou, enquanto as pessoas corriam apressadas para uma zona segura, só então percebi que tinha feito besteira. Onde estava John?

Procurei com os meus olhos pela faixa de areia, mas não conseguia encontrar os cabelos loiros, tentei discernir entre os fugitivos, mas não dava para saber se estava entre eles ou não.

— Danny! — Foi o grito que ouvi a minha direita.

Não sei o que os humanos viram, mas eu vi três Telquines cercando meu amigo próximo a uma árvore, o que era estranho, eu esperava que eles lutassem dentro da água, não que saíssem para nos atacar onde teríamos maior vantagem.

Não pensei muito em minhas ações. Apenas arremessei o martelo com toda a força que tinha, enquanto eu avançava na direção dos três. A arma pesada girou com velocidade, cortando o ar com fúria em direção à cabeça da criatura a direita, o impacto foi forte o suficiente para nocauteá-la momentaneamente.

Minha próxima ação foi me atirar contra o Telquine, que estava virado de costas para  mim, com força o suficiente para derrubá-lo e chamar a atenção da terceira criatura, que foi rápida o suficiente para cortar minhas costas com suas garras afiadas.

Eu girei para o lado e consegui recuperar o meu martelo, o ferimento sendo esmagado pelas partículas de areia, causando uma nova onda de dor, mas eu tentei resisti-la. Havia alguém em perigo que eu não poderia deixar ser ferido

Gritei de raiva para as criaturas, chamando sua atenção, mas apenas a que me ferira resolvera avançar contra mim. Eu estava indefeso antes, mas não naquele momento, já havia recuperado Mjölnir. Eu tinha fazê-los sair de perto de John. Não me preocupei com minha própria segurança e ignorei o fato de que poderia me machucar muito com aquele movimento aberto, mas avancei contra a criatura, gozando de minha força monstruosa. Imagino que ela esperava que eu recuasse por causa da ferida, pois não pareceu pronta a defender ou esquivar o golpe, que rachou sua cabeça ao meio, desfazendo-se em poeira dourada.

Aproveitei que o nocauteado ainda estava desmaiado para dar atenção ao que se recuperava da queda. Seus membros terrestres não eram muito bons, por isso, estava tendo muita dificuldade para se erguer. Aproveitei esse problema básico para martelá-lo tanto quanto possível, amassando-o até que se desfez em pó.

Olhei para o terceiro, ainda desmaiado, e fiz a mesma coisa. Meu ferimento ardia com a areia que havia entrado. A multidão começava a retornar para a faixa de areia e eu não desejava que eles vissem aquela cena, na verdade, eu já nem sabia o que eles tinham visto.

Fui cambaleando praia acima, com John me apoiando. Estávamos fugindo da multidão, mas também procurávamos a súlfura.

A paisagem era de um verde meio amarelado, mas John sinalizou que havíamos encontrado o local descrito por Mere, um banco de areia quase inundado há alguns metros da faixa de areia do lago. Parecia uma ilha, mas havia um caminho de acesso quase submerso.

Paramos um pouco antes de atravessar. Por sorte ninguém nos seguira, ao menos eu esperava que não. Não estava com a menor vontade de explicar o que tinha acontecido para mortais, seria um pé no saco. John limpou o ferimento como pôde e depois realizou seu milagre no meu ferimento, aparentemente o garoto estava começando a se acostumar com aquilo.

— Não importa quantas vezes eu faça, sempre vou ficar maravilhado. — Ele disse ao finalizar, uma sensação de alivio percorreu minhas costas.

Eu arfava de cansaço. Deviam ter mandado uma equipe para aquela missão, não apenas um. Minha sorte estava no fato de que o oricalco e a eletricidade estavam causando danos críticos nas criaturas, do contrário, eu já teria sido destruído.

Para minha surpresa, John tirou de seu bolso um pedaço de carvão. Era pequeno, mas daria para me recuperar.

— Como você... — Eu comecei a perguntar, mas ele levantou a mão.

— Notei que toda vez que você lutava, você comia carvão. — Ele disse como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Imaginei que tivesse a ver com alguma coisa esquisita de semideus. Como sou novo nisso, decidi manter minha mente aberta. — Ele falou, como se não fosse muita coisa, dando uma risada harmônica.

John realmente seria um bom filho de Apolo, um curandeiro atencioso.

Depois de uns instantes, eu me ergui, já pronto para recuperar a súlfura. Seguimos pela parte rasa da lagoa, encobrindo a areia com suas ondas tranquilas. John estava apreensivo olhando para a água, mas eu não estava tão preocupado, da ultima vez tinham apenas três Telquines, porque haveriam mais desses monstros por perto?

Houve um barulho alto e as duas criaturas saltaram da água com velocidade. Minha primeira reação não foi saltar pela minha vida, mas empurrar John, tirando-o da linha de ataque das duas criatura. Infelizmente isso me fez entrar direto na boca de ambos os animais.

Um dos monstros abocanhou com firmeza meu braço esquerdo, o outro minha perna direita. Minha sorte foi o fato de ambos tentarem me puxar cada um para o seu lado, caso contrário eu estaria no fundo do lago naquele momento. A parte ruim é que eu sentia que meu corpo se partiria em dois.

Mjölnir cresceu novamente, eu o segurando apenas pelo braço direito, enquanto gritava de dor e raiva. A mordida parecia queimar como ácido sulfúrico, o veneno começando a se espalhar pelas minhas veias.

Girei o martelo na minha mão, e desci a pesada cabeça da arma no Telquine que segurava meu braço esquerdo. Um golpe poderoso, dotado da super-força com que meu pai me agraciara, fazendo com que o Telquine virasse pó dourado na hora.

Com a força que se opunha ao outro monstro marinho, ele me derrubou na areia inundada, puxando-me cada vez mais para o fundo. Não havia apoio para me segurar e eu sabia que se ele conseguisse me puxar para o fundo eu morreria na hora.

Girei meu corpo junto com Mjölnir e deixei a pesada estrutura cair com força excessiva nas costas do monstros, que se desfez imediatamente em pó dourado. Eu havia ganhado, novamente. Mas a que preço?

Caí quase submerso na água, minha perna e meu braço queimando e ardendo. John ouviu meus gritos e me ajudou a me arrastar até o pequeno banco de areia. Ele rapidamente examinou as feridas e sua careta foi imediata, a coisa estava feia. Eu o senti novamente recuperando minhas feridas, mas ele não poderia fazer nada quanto a contaminação.

— O que vamos fazer? Você foi envenenado! — John estava desesperado.

— Pegue a planta. — Eu disse entre um gemido e outro. — E ligue para o Alex.

John foi obediente. Alex e Mathews apareceram, seus rostos desesperados com a situação, mas instruíram John em como agir a partir dali.

Eu gritava na areia, a temperatura do meu corpo subindo vertiginosamente. Era como se tivessem me banhado em gasolina e depois ateado fogo. Meu peito acelerava e tudo o que eu podia fazer era gritar.

Depois de receber as instruções dos meninos, John passou a mão pelo meu ombro direito e me ergueu, me forçando a andar. Eu arrastava minha perna direita, parecia que a cada passo dado, um pedaço de mim era deixado no meio do caminho.

— Parados! — Eu ouvi, mas minha visão estava turva demais para identificar quem tinha dado a ordem. — Vocês estão presos por agredirem dois policiais.

***

Fomos levados para a delegacia de Queenstown e, dessa vez, foi John quem cuidou de tudo. Ele prestara esclarecimentos e justificara o furto da lancha no lago Te Anau. Ligaram para a faculdade e os polícias tiveram que nos liberar, depois de um telefonema da secretaria de defesa ameaçando demitir toda a delegacia.

Tudo isso aconteceu enquanto eu tremia na cadeira de interrogatório, em estado febril. Os polícias queriam me levar para o hospital, mas John não permitiu, afirmando que eu ficaria bem se eles não atrapalhassem mais a nossa viagem.

Saímos dali com pressa, os pneus cantando, enquanto John ignorava totalmente o limite de velocidade.

Era o final da tarde e não tínhamos qualquer pista de onde encontraríamos a Pravonoi. O tukson de John cortava a Hightway State 6 em alta velocidade, enquanto eu tremia e tentava não gemer em meu estado febril. Meu maior medo era que, ao chegar no Lago Rotoiti, onde encontraríamos a última das ervas, John fosse obrigado a lutar sozinho contra alguma criatura. Estava óbvio que estavam protegendo o local onde as ervas eram encontradas, o que mostrava alguma organização, mas não fazia o menor sentido toda aquela história. Porque se preocupariam em manter as vítimas envenenadas? E, afinal de contas, quem as libertou? Porque em Nova Zelândia? Qual era a necessidade de todo aquele pânico? Eu não tinha respostas para nenhuma dessas perguntas.

— Conseguiu invadir o sistema? — Perguntou John ao celular, provavelmente com Alex e Mathews do outro lado da linha. — Ok, vamos ter que parar em Hokitika — Ele finalizou a ligação e me olhou. — Calma amigão, nós vamos chegar la. — Ele me disse, seus olhos na estrada já escura.

A viagem até Hokitika demorou uma hora a menos do que deveria, de tanto que John correra com o carro. Eu mal lembro da paisagem, de tanta agonia que estava sentindo. Lembro-me de comer alguma coisa em uma pousada que John arrumou para nós e de vomitar tudo uma hora depois.

***

“...Eu podia ouvir os sussurros das correntes, elas me incitavam a fugir, mas eu não podia fazer muita coisa, não enquanto aquelas algemas de gelo me prendessem ali, com meu vestido flutuante dançando de um lado para outro, em conjunto com meus cabelos ruivos e a dor daquilo que se revolvia em meu ventre, daquilo que não fora ideia minha, mas que estava prestes a vir ao mundo. Tão pequeno e já tão impuro, o que seria dele?...”

Acordei no carro de John, que aparentemente passara a noite em claro, velando meu sono, suas olheiras estavam fundas e muito marcadas e ele dirigia novamente a toda em direção ao lago Rotoiti, eu já nem olhava para a paisagem, Nova Zelândia parecia agora um local horrível para mim.

Nossa sorte finalmente mudou quando John cortou um motoqueiro estranho na estrada. Ele começou a seguir agente buzinando e fazendo gestos feios para John, que o ignorou, seus olhos firmes em seu objetivo.

De repente, nós vimos, à nossa frente, uma gangue de motoqueiros fechando a estrada. Todos com suas roupas de couro, barba grande e espessa e cortes de cabelos ridículos. Estavam com pedaços de madeira, tacos de beisebol, correntes e sabe-se deus mais o que. Eu praguejei por estar naquele estado deplorável, pois eu conseguiria abrir caminho facilmente no meio deles.

Óbvio que John parou, saindo do carro furioso, mandando que a gangue liberasse a estrada. Eu soube imediatamente que o médico ia virar patê de filho de Apolo e, mesmo convalescente, eu saí do carro, apoiando-me na caminhonete debilmente.

— Onde a mocinha pensa que vai? — Disse o motoqueiro que estava nos seguindo, estacionando a moto próximo ao carro do loiro.

— Olha, eu não estou com tempo para vocês agora, eu tenho uma pessoa doente no carro e preciso chegar ao Lago Rotoiti. — Como se para confirmar a fala de John eu, heroicamente, caí igual uma jaca podre no asfalto.

Os motoqueiros compadeceram-se da nossa situação e abriram passagem, mas John percebeu que o que nos perseguia tinha tatuagens Maori e resolveu questioná-lo a respeito de malola, o nome Maori para Pravonoi. Por sorte o homem conhecia a erva e indicou o local onde se encontrava.

John partiu pela estrada sem perder tempo, assim que me pôs no carro com a ajuda do motoqueiro maori. Eu não tinha notado que a parte de trás do carro estava lotado de coisas de laboratório e cozinha com mais algumas que eu não reconhecia.

Não prestei atenção na viagem, estava ocupado demais sentindo dor no estômago. Parecia que ele estava prestes a sair pelo meu umbigo, as cólicas faziam me dobrar no banco do carro. Meu corpo tremia convulsivamente e parecia que eu tinha sido pendurado de cabeça para baixo numa caldeira acesa.

Só sei que estacionamos e que John saiu apressado, trancando o carro comigo dentro. Havia o risco dele ser atacado por mais Telquines e minha mente desejava ir com ele, mas meu corpo trêmulo não respondia.

Foram dias, anos ou segundos? Sinceramente, para mim, pareceu uma eternidade, mas acho que foram vinte minutos. John veio esbaforido para o carro, eu até tentei ver se havia mais alguém próximo, mas não consegui firmar a visão, de modo que tudo parecia embaçado.

Ele remexeu nas coisas atrás do banco e, depois de mais uns vinte minutos ele me deu algo amargo para beber. Tão amargo que quase vomitei, mas ele não permitiu, segurando firme a mistura contra a minha boca.

No início, foi horrível, como costumava ser com todo remédio receitado por Alex. A mistura desceu queimando minha garganta, depois gelou todo o meu sistema nervoso, me dando tontura e náuseas. Abri a porta do carro às pressas e vomitei no chão. Um líquido viscoso, meio roxo, meio azul brilhante, com consistência de pixe.

Eu fiquei um tempo ajoelhado no chão, arfando, tentando me recuperar da quantidade de toxinas que havia posto para fora. Eu estava livre do veneno. John não tinha nenhum arranhão. Tudo tinha terminado bem. Ao menos até ali.

Quando eu finalmente me reergui, pronto para comemorar nossa vitória, dois homens de terno apareceram e nos deram voz de prisão, mas, dessa vez, eram agentes federais. Dessa vez estávamos realmente encrencados.


***

Há horas que eu estava olhando para aquela parede de vidro. Claro que eu sabia que, embora eu não os visse, haviam policiais do outro lado, me observando, fuçando minha vida, tentando descobrir o que me fizera invadir seu sistema de segurança.

Eu não estava muito preocupado com isso, se quisesse, bastaria eu liberar o Mjölnir, que rapidamente eu sairia dali, mas eu não fazia a menor ideia de onde estava John. Eles nos trouxeram separados e estavam nos interrogando para saber porque invadimos o sistema de segurança do país.

Tudo começou quando havíamos sido levados para a delegacia em Queenstown. Enquanto estávamos na delegacia, John conectou o iPhone em uma das máquinas da delegacia, provavelmente a pedido de Mathews. As câmeras gravaram a ação e eles ligaram a invasão recente ao sistema àquele ato. Confiscaram o celular e nos levaram para uma instalação federal.

Eu havia perdido a noção de tempo, mas o homem corpulento entrou novamente na sala. Era negro, de terno alinhado e expressão grave e mal encarada. Já era a terceira vez que ele vinha me visitar e até agora não tinham conseguido contestar nenhuma das informações prestadas. Nem mesmo o meu disfarce foi comprometido, Dionísio tinha feito um trabalho perfeito.

— Olha, nós sabemos que você está escondendo alguma coisa. — Ele disse, sentando-se a mesa. — Colabora, vai! — Eu via que ele estava em sua última súplica.

— Eu já te disse que sou um biólogo marinho, que estou aqui para resolver o problema com os tubarões e que, nesse momento, vocês podem estar causando a morte de sete pacientes no hospital de Christchurch. — Eu disse calmo.

— E foi coincidência nosso sistema ser invadido pela mesma estação que seu amigo conectou o telefone? — Ele disse, a voz trêmula e irritadiça, a frustração estampada em sua face.

— Vocês acharam o indício de que a invasão foi efetuada pelo meu celular? — Eu questionei e vi no rosto do homem que não havia. — Então, estão dispostos a causar um incidente diplomático por causa de suspeitas infundadas? — Eu continuei pressionando e o homem bufou. Era isso que temiam desde o momento em que me deteram.

Ele, ciente de que não conseguiria arrancar qualquer informação minha, saiu.

Não demoraram muito a me soltar. Não tinham porque arriscar tornar aquilo mais perigoso para o país. Eu vinha do país mais influente do mundo e não queriam se meter com os Estados Unidos. Não bastasse isso, eu era uma pessoa importante e renomada em minha profissão, além de estar realmente tentando ajudá-los com as casos de tubarões, ao menos eles não podiam contestar isso.

Liguei para a Otago e avisei que havíamos conseguido o antídoto, mas que estávamos detidos. Demorou um pouco para eles liberarem John, mas com um telefonema do secretário de estado, eles não tiveram outra escolha, se não nos liberarem, com reservas.

Já era noite e, diante do incômodo, os federais foram obrigados a fazer o transporte até Christchurch, enquanto eu e John dormíamos no banco de trás do tukson, guiado pelo agente que me interrogara.

Tive pouco tempo para falar com John, mas eles foram menos gentis com o médico, tive certeza disso porque tinha uma marca feia no pescoço dele, como se alguém tivesse tentado enforcá-lo. Definitivamente, assim que aquilo acabasse, eu o levaria para o Acampamento Meio-Sangue, era um lugar segura para semideuses. Ao menos tão seguro quanto o possível.

Chegamos no hospital de madrugada e administramos o antídoto diante dos olhos descrentes de uma equipe médica, que desaprovou os efeitos colaterais da mistura, mas, depois que tudo fora analisado e eles perceberam que as toxinas haviam desaparecido, ficaram absolutamente gratos. Havíamos salvo aquelas vidas. Terminara tudo bem.

***

— É isso que temos. — Foi o que Mathews disse, exibindo a imagem no holograma.

John e eu estávamos sentados em cima da mesa de meu escritório provisório, enquanto Mathews e Alex, em sua forma de holograma, exibiam os dados que tinham conseguido baixar da agência nacional de segurando da Nova Zelândia.O hackeamento fora bem sucedido graças às habilidades do filho de Athena e, segundo ele, os ataques começaram há quase um ano.

A imagem exibida era de um navio naufragado, marcas de dentes e garras por todo o lugar, envergando e cortando o metal, Alex, usou os moldes das mordidas para combinarem com a arcada dos Telquines. O casco do navio de pesquisa marítima estava como se tivesse sido explodido, e fora essa a causa oficial, um dos equipamentos experimentais que o navio levava havia tido um mal funcionamento. As marcas de predação foram atribuídas aos tubarões por causa da quantidade de sangue na água, que os deixaram agitados.

Havia uma ilha atrás que muito me chamava a atenção, mas segundo Mathews, era uma das muitas que se espalhavam pelo arquipélago da Nova Zelândia. Não era importante, John concordara.

— Algum sobrevivente desse incidente? — Eu perguntei, já esperando uma reposta negativa.

— Por um acaso, sim! — Mathews respondeu, para minha surpresa, e exibiu a ficha de um homem de meia idade, já com as entradas características da calvície, de pele morena, óculos garrafais e falta de gordura no corpo.

— Tio Hank? — Foi John quem perguntou, os olhos arregalados, como se não acreditasse que era seu parente.

John nos explicou que Hank era irmão de sua mãe e, há anos, os dois haviam brigado, por isso mal conseguia reconhecer o parente. Segundo ele, o tio morava na ilha norte, próximo ao lago Taopu.

E, pela primeira vez, eu senti que estava indo em direção à verdadeira solução daquela confusão toda. Até aquele momento eu estava apenas remediando as consequências dos ataques, mas não tinha chego nem perto da causa deles.

John pedira dispensa de suas obrigações no hospital por uma semana, para me ajudar com um trabalho, que, segundo o disfarce, era a real intensão de minha visita à Nova Zelândia. Como eu havia conseguido salvar aquelas pessoas no dia anterior, o hospital não pestanejou em dar a folga ao loiro.

Partimos naquela mesma tarde.

***

Chegamos minutos depois em Wellington. Uma cidade que me lembrava muito Nova York. Uma metrópole selvagem, cheia de arranha-céus, excesso de carro nas ruas, praias lindas e gente andando pra todo canto, sem se importa com a vida alheia.

As pessoas não pareciam simpáticas, mas se abordadas, respondiam com educação. Vi uma mulher ter sua bolsa levada no meio da multidão e ninguém ajudar. Vi uma criança de tez morena pedir esmolas na entrada de um mercado. Cenas comuns em uma metrópole.

John alugara um utilitário simples para que nos cruzássemos a ilha em direção à casa do Tio Hanck. Pegamos a Highway 1 em direção a Taupo, a cidade próxima ao lago. Segundo John era um local de turismo, com uma paisagem exuberante. A viagem demoraria quatro horas, em que conversamos sobre a vida de um semideus, John estava começando a se acostumar aos perigos de ter um pai ou mãe divino.

— É sempre essa loucura? — Perguntou em dado ponto.

— Eu diria que pode ser bem pior. — Eu ri, pois era a verdade.

Já era noite quando chegamos a cidade. As casas eram bonitas, os hotéis eram caros e os restaurantes eram superfaturados. Lanchamos em um lugar simples, mas a mesma refeição era três vezes mais caro do que quando estávamos na ilha do Sul. Eu achei um absurdo, mas John era rico, e não estava incomodado em gastar dinheiro.

Não quis perguntar sobre os problemas familiares, mas John estava claramente inquieto com a situação, andando pela cidade com uma expressão nostálgica e triste, como se se aproximassem de fantasmas antigos.

Entramos no carro e nos dirigimos para Acácia Bay, onde ficava a casa de Hanck Bryian.

O bairro era definitivamente luxuoso, cheio de mansões de veraneio, casa enormes e uma pousada luxuosa. Uma família para se instalar ali tinha que ter muito dinheiro, pois o custo de vida devia ser, ao menos três vezes mais alto do que o normal. Viramos em uma rua e seguimos até o final de outra, dando de frente para portões de ferro negro.

— É aqui. — John anunciou, apertando o interfone da mansão.

Quem atendeu foi um homem que, pelo sotaque, era francês, com gestos delicados, voz baixa e arrogante, o mordomo da casa. John se identificou como um Bryian, mas o homem nos informou que os Briyan haviam vendido a casa e que havia se mudado de Taupo. John agradeceu e desligou o interfone, dando um soco no volante. O mordomo não sabia para onde Hanck havia mudado.

— Não sabia que ele tinha se mudado? — A pergunta escapou dos meus lábios sem querer. Depois que disse fiquei arrependido pela expressão amarga do garoto.

— Não... já faz anos que não vejo meu tio. — Ele disse, suspirando pesadamente. — Ele brigou com minha mãe quando eu tinha, sei lá, sete anos. Foi por causa de alguma besteira, acho que meu tio estava irritado com alguma coisa no trabalho dele, minha mãe comentou do meu pai, ele xingou a minha mãe de piranha para baixo, porque ela não sabia quem era o meu pai e, desde então, não nos falamos. — O garoto confessou. — E agora, descubro que ele quase foi morto pelos Telquines. Ele ia morrer e nós nem íamos saber que ele morreu. — A voz do garoto foi minguando, como se estivesse muito arrependido por tudo que ocorreu.

Afaguei o braço do garoto e disse que não era culpa dele, mas eu sabia que pouca coisa que eu falasse daria qualquer consolo ao loiro. Assuntos familiares não era algo que eu dominava muito bem, crescera em um orfanato, sendo a chacota das outras crianças por causa de minha invenções malucas, que quase nunca davam certo.

Ele manobrou e voltou para cidade. Dissera que lembrava de um bar que o tio frequentava. Talvez o dono soubesse do paradeiro do velho. Era um bar antigo, na parte mais simples da cidade Taupo, que era onde o avô de John havia nascido. Depois que a família enriqueceu com o conhecimento das ervas maori, eles compraram uma casa na área nobre, mas Hanck sempre ia visitar seus amigos no Bar do Joe.

— Me lembro desse lugar. Vim algumas vezes com meu tio aqui. — Disse descendo do carro, o frio cortante da noite nos acompanhando.

O bar não era um lugar muito atraente, mas era frequentado por muitos homens de meia idade, que riam com gosto de piadas de tempos antigos. A atmosfera era muito amistosa e todos pareciam se conhecer. Por trás do balcão, um homem que devia beirar aos 60 anos, enxugando compulsivamente um copo.

John o cumprimentou e me apresentou. Ele sorriu com simpatia e convidou-nos a tomar um drink, o que não recusamos, embora eu não fosse tão forte para bebidas quanto o loiro. Ele revelou seu nome e seu parentesco e muitos dos que estavam ali vieram cumprimentá-lo e fazer aquela cena já costumeira e universal de: “Nossa como você cresceu”. Foi um longo tempo com aquelas perguntas chatas de gente velha, mas John finalmente conseguiu o endereço do tio com um dos que bebiam frequentemente com ele.

John deixou o bar assim que pôde e passamos a noite numa pousada em Taupo, o que nos custou o olho da cara, mais dois rins. Por sorte, John tinha muito dinheiro.

Foram quase quatro horas de viagem até a reserva Te Urewera. A paisagem era muito verde, quase como se não houvesse interferências humana. Hanck estava dirigindo uma pousada que servia de área de camping próximo ao lago, onde turistas costumavam ficar. O local era afastado, bem escondido na mata, mas a pousada era, de certa forma, famosa. Muitos roteiristas de viagem haviam elogiado o bom atendimento e a qualidade da comida.

O prédio era feito de madeira envernizada, com dois andares. As janelas eram grandes e davam para aproveitar bastante a bela paisagem local, dotada de muito verde.

Entramos sem fazer maiores cerimônias. John ficou meio sem jeito quando viu o tio, mas este parecia ter se arrependido de tudo que falara anteriormente, ou, pelo menos, parecia ter esquecido o que havia dito, pois, assim que percebeu que tratava-se de seu sobrinho, o abraçou com carinho. Tentando absorver em poucos momentos toda a vida do loiro.

Hanck nos levou para o sofá da recepção, como se aquela fosse sua casa. Logo apareceram Doug e Suzan, o resto da família.

Suzan era uma mulher ruiva, com uma expressão viva e ativa. Falava com gestos abertos, as mãos acompanhando suas falas, usava estampas alegres e sua cintura estava um pouco redonda, talvez o resultado da gravidez.

Doug era um rapaz esperto, talvez meio que no mesmo ritmo da mãe. Sorria com facilidade e encantava com sua fofura. Os óculos o faziam parecer um pouco mais velho que seus oito anos.

A família parecia bem diferente do que John me fez pensar, e acredito que ele mesmo estivesse surpreso com aquela boa recepção, o que o fez relaxar e deixar o incidente de lado. Eu permiti que ele matasse a saudade da família, enquanto me introduzia na trama familiar hora ou outra.

— E onde está Sarah? — Perguntou John animadamente para a família, que imediatamente teve uma queda de semblante. — Aconteceu algo? — John percebera a súbita mudança no clima.

— Ela morreu, John. — Respondeu Hanck, suspirando pesadamente, como se revivendo dias ruins.

Eu me levantei do sofá, enquanto ouvia a narrativa do tio de John. Acima da lareira haviam várias fotos de família, piqueniques, casamento, nascimento e, principalmente, uma linda menina de cabelos ruivos. Aparentemente tinha a mesma idade que John, com um lindo sorriso. Aquela era Sarah. Eu a achei muito familiar, como se a conhecesse intimamente, o que me causou estranheza, mas dei de ombros, devia ser apenas impressão.

Segundo Hanck, Sarah e ele faziam parte de um grupo de pesquisa na ilha Te Unova, uma pequena ilha ao norte da Nova Zelândia que vinha apresentando uma diversidade de espécies únicas, ainda não descobertas pelo homem, e ainda algumas que havia sido consideradas extintas. Sarah, como ornitóloga, fora chamada para pesquisar as novas aves marítimas que estavam migrando para o local, enquanto ele estava participando da pesquisa marítima, inclusive me parabenizou por alguns artigos que eu nunca havia escrito, mas sorri agradecido.

— Mas, de repente, nós escutamos o barulho de explosão do nosso equipamento. — Os olhos de Hanck estavam cheio de lágrimas, a voz parecia falhar hora ou outra, a lembrança parecia uma faca, abrindo uma ferida que ele tentara muito sarar. — O barco tremeu e Sarah, que estava na amurada observando o céu, caiu do barco. Nunca mais a encontramos. — Parecia que uma nuvem negra tinha se abatido por toda a sala, mesmo eu não pude deixar de ser influenciado pelo que aquele desaparecimento, em meio aquela predação de “tubarões” podia significar a respeito do sumiço de Sarah.

Todos pareciam estar abatidos, exceto Doug, que mantinha-se confuso, como se rejeitasse a ideia da morte da irmã, mas, felizmente, para melhorar o clima, Suzan levantou-se batendo palmas, como se fosse um botão para desligar a tristeza, oferecendo comida, que eu não podia rejeitar, já fazia horas que não comia.

No fim não tínhamos muitas pistas do que estava realmente acontecendo, mas algo em minha mente não deixava de gritar que estávamos no lugar certo e, como semideus, aprendi que meus instintos geralmente estão certos.

Depois do almoço, fomos acomodados em um dos quartos, onde descansei brevemente, enquanto John continuava a conversa com seus parentes, tentando estreitar os laços que há tanto haviam se rompido por motivos torpes. Momentos de dores geralmente faziam as pessoas pensarem melhor sobres essas pequenas picuinhas.

Ouvi a porta abrir e a cabeleira ruiva de Doug aparecer na entrada. O seu sorriso fofo e vívido o dava um ar encrenqueiro, como se estivesse pronto a quebrar um copo por jogar bola dentro de casa. Eu estranhei ele vir até meu quarto, mas entrou, com o que parecia ser uma figura de Mitomagic na mão.

— Tio Dan. — Eu me surpreendi com a intimidade, mas relevei, acho que significava que gostava de mim. — Você sabe que minha irmã ainda está viva né? — Ele me perguntou, seu olhar com uma expressão confiante.

Eu fiquei nervoso com a situação e comecei a revirar meus bolsos a procura de ruelas e porcas que não estavam lá. Eu não gostava de dar notícias ruins para as pessoas, especialmente para Doug, que era uma criança fofa demais para que alguém quisesse machucá-lo.

— É claro, Doug... — Eu menti e me senti como se estivesse engolindo uma faca.

Ele me olhou triste, ciente de que eu estava apenas falando para consolá-lo. Imagino que deve ter passado por aquilo várias vezes, as pessoas tratando-o levianamente quando ele estava dizendo algo realmente sério.

Como semideus, inúmeras vezes passei pela mesma experiência, falando de coisas que eu via e ouvia e ninguém acreditava. Não sei se foi pena ou se foi os instintos divinos que vez ou outra nos moviam, mas eu resolvi levá-lo a sério.

— Porque você acha que ela ainda está viva? — Eu perguntei sério e a expressão dele se iluminou.

— O mar adora Sarah, ele nunca ia deixar ela morrer nele. — Falou simplesmente brincando com uma figura de um homem músculo de barba grande, coroa e um tridente na mão. — O pai dela não ia deixar! — Ele disse, colocando a figura nas minhas mãos e saiu.

Um abismo pareceu se abrir e me tragar para dentro dele. Doug estava afirmando que Hanck não era pai de Sarah.



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MOP - Demônios do Oriente - Danny Yad Empty Re: MOP - Demônios do Oriente - Danny Yad

Mensagem por Danny Yad Seg Out 03, 2016 5:04 pm


Forge Son

— Isso é impossível! — Sussurrou John, abismado com a ideia. — Você tá dizendo que ela também é uma semideusa? Como você?

— E...como você, não se esqueça desse detalhe! — Frisei e ele percebeu que não era algo tão impossível assim.

Depois se seguiu um silêncio de compreensão. Agora fazia sentido toda aquela história de se irritar com a mãe de John por não saber o nome do pai. Provavelmente ele também sabia do fato de sua mulher ter lhe traído e talvez ela tenha usado a mesma desculpa de que fora o deus maori quem a engravidara.

— Então...Elá é minha irmã? Ou sua? — Inquiriu, ainda confuso.

— Não sei, mas a família Olimpiana é grande. Provável que sejamos primos. — Eu fiquei girando nas mãos a figura de Mitomagic que Doug havia me dado, não podia ser ele.

— Tá, mas isso não quer dizer que ela não tenha morrido. — John falou e eu tive que concordar. Como semideusa, ela teria virado café da manhã dos Telquines.

Descemos do quarto e vimos Hanck e sua família se preparando para uma pequena excursão as ilhas que compunham o Lago Waikareti.

Suzan nos convidou para fazer parte do tour, John estava prestes a recusar quando eu aceitei. Não tínhamos mais nenhuma pista para seguir, o que nos faria encerrar a investigação por ali, então que ao menos eu pudesse aproveitar a Nova Zelândia um pouquinho.

O grupo desceu até um pequeno atracadouro, onde ficavam os equipamentos marítimos da pousada. Entramos num barco de pequeno porte, devia caber 16 pessoas nele e estávamos em menos que isso, mas eu estava empolgado. Havia um jetski atrelado ao barco que seria usado para diversão mais tarde. Desde que me tornei semideus, minha vida se resumia a forjas e a batalhas, todo o resto parecia ter desaparecido de mim, inclusive a diversão.

Todo o caminho pelo lago fora cercado por lendas maori, que John parecia ver com outros olhos agora. O deus neozelandês era muito arteiro e suas trapalhadas causavam consequências desastrosas  na história, mas no fim, ainda era tratado como herói, bom, nisso os gregos tem muita semelhança. As conversas eram amenas e descontraídas, tudo estava muito bem. Um dia para se esquecer monstros e deuses era possível também. Ou não.

Foi um pequeno tremor no barco. Não dei muita importância, pensando que podia ser o barco raspando em alguma pedra ou barranco, mas, instantes depois o barco tremera furiosamente, como se algo tivesse tentado erguê-lo.

Eu estava do lado de John e o segurei, quando ele se precipitou pela amurada do barco, ficando pendurado apenas pelo meu braço. Eu tinha força o suficiente para puxar o filho de Apolo. E, para a nossa sorte, o fiz no segundo exato que a criatura saltou mirando as pernas do loiro. Telquines.

Imaginei que, depois que John tinha conseguido a cura sem ter  enfrentado nenhum deles, eu tivesse acabado com todos, mas ainda havia um, ou dois, ou, quem sabe, um cardume esperando me devorar.

A água ao redor do barco estava de uma forma diferente, como se tivesse adquirido vida e estivesse ansiosa por virar o barco. John estava desesperado, assim como o resto de sua família, com exceção de Doug, que se arrastara até a amurada do barco com uma expresso corajosa, como se fosse o verdadeiro herói ali.

— Soltem a minha irmã, seus cachorros do mar! — Ele gritou a plenos pulmões e seus pais vieram a seu encontro, tentando tirá-lo da amurada.

Eu deveria ter pensado melhor em como agir, mas meu corpo reagiu por instinto, meio correndo, meio tropeçando até onde a família estava. Dando tempo apenas de puxá-los antes de uma bocarra de pitbull se fechar no meu ombro. Minha força me fez sustentar o meu próprio peso. Mjölnir cresceu em minha outra mão e, com um grito de fúria, eu o acertei repetidas vezes até que enfim ele se desfez em pó.

O veneno estava começando a se espalhar em meu corpo, mas havia uma coisa pior. V dezenas de barbatanas dorsais cortando a superfície do lago.

Eu tive segundos para decidir o que meu corpo já estava executando. Não foi um plano, estava mais para um ato de auto-sacrifício. Eu não permitiria que todas aquelas pessoas sofressem um ataque massivo, não permitiria que o naufrágio se repetisse. Ao menos não diante dos meus olhos.

Atravessei o convés desesperadamente, montando no jetski e acelerando-o instintivamente.  Precipitando-me na direção dos monstros. Um veio pela esquerda e, por instinto, eu larguei o guidão e o martelei com toda a minha força em pleno ar. Ele nem teve chance, desfez-se em pó dourado.

Joguei uma bomba de estalinhos para o ar e vi os monstros mudarem de alvo. Ótimo, tinha dado certo. Eles estavam atrás de mim. Cortei a superfície do lago com o jetski, afastando-se ao máximo do barco, mas as tremedeiras do veneno de Telquine já começavam a me atingir, fazendo com que eu começasse a desacelerar, involuntariamente, a embarcação.

Um deles conseguiu me alcançar e pegar minha perna, mas eu já não tinha mais força para me segurar no jet, caindo dentro do mar. Foi repentino demais e não tive oportunidade de inspirar antes de mergulhar no lago frio, entrando água no nariz, irritando-o.

Senti uma nova mordida na perna, dessa vez me levando mais fundo. Eu me debatia debilmente na água, mas era inútil. Quando consegui focar os olhos, percebi que já estava rodeado pelo cardume. Um deles veio por trás e abocanhou meu braço esquerdo já ferido. Outro pegou meu abdômen, depois minha perna, minha cabeça...Deixei de contar os locais, enquanto minha consciência ia se perdendo. Eu tinha conseguido salvar os outros, era o que importava. Podia morrer em paz, sabendo que cumpri minha missão como semideus. Morrer em prol de outros.

Eu devia estar delirando pois ouvi um rugido longínquo e alguma coisa grande e metálica vir em minha direção.

***
“...Lá estava eu, em meu cárcere submerso, as ondas pareciam mais furiosas, como se, de uma hora para a outra, Poseidon tivesse se irado com aquele lugar. Eu sabia o verdadeiro motivo. Eles estavam lá, revolvendo a água, enegrecendo-a, não permitindo que eu tivesse paz, o nojo e a vergonha aproximando-se de mim, conforme eles chegavam mais perto. Eu carregava um demônio em meu ventre...”

O cheiro de vidro e ferro derretido era o característico da minha forja. As batidas de martelo pareciam com as minhas próprias, firmes e fortes, do jeito que fazia o metal se dobrar até o ponto que queria. Ouvi barulhos de engrenagens, movendo-se de forma perfeita, ajustada e bem calibrada. Senti o calor da caldeira fervente e o cheiro de bolor, como se estivéssemos em um lugar muito úmido, quase nunca aberto.

Abrir os olhos foi um esforço a parte, mas, por sorte, o lugar era parcamente iluminado. Era uma caverna, disso eu tinha certeza, com algumas velas flutuando, a luz bruxuleaste das chamas sendo refletidas por placas de bronze que se misturavam as estalactites no teto da caverna. Ao meu redor, eu podia notar uma quantidade de metais espalhados, parafusos porcas e ferramentas. Uma caldeira, uma bigorna e um grande e pesado martelo. Eu estava numa forja. Disso eu tinha certeza. O cheiro de vidro e químicos pesados por todo o lugar era familiar.

Tentei me lembrar da última coisa de que estava ciente. Lembro-me de água, monstros e...eu morri?

Bom se eu morri, aparentemente a sina de um filho de Hefestos era trabalhar na forja até mesmo depois de ter uma morte honrosa. Se é que ser despedaçado por um cardume de demônios aquáticos poderia ser considerado uma morte honrosa.

Eu estava deitado em uma nada confortável bancada de metal soldado com diferentes chapas, pode comparar isso a uma colcha feita de retalhos para um ferreiro. Apoiei meu corpo no braço esquerdo e ele não respondeu como eu imaginava. Achei que fosse tonteira, mas havia algo muito errado com meu braço esquerdo.

Eu o olhei, mas não percebi maiores diferenças no visual. Ainda era o mesmo braço cheio de músculos, bronzeado, inclusive meus pelos corporais estavam lá, mas havia definitivamente alguma coisa errada. Aquele não era o meu braço.

Ergui meu corpo com o braço direito e toquei o esquerdo. Havia a mesma sensação quente que eu tinha quando tocava o meu corpo, mas eu não conseguia acreditar que aquele era o meu braço. Soquei a mesa e ela afundou embaixo da minha mão. Isso geralmente acontecia, mas eu não senti absolutamente nada de dor. Não havia dor no meu braço esquerdo. Fiz a mesma coisa com o direito e definitivamente estava lá.

— Vamos tentar não arrebentar a prótese, por favor? — Eu ouvi atrás de mim, segurando meu braço. Eu reagi por instinto mirando um soco no rosto grande e deformado do homem de mãos grandes. Geralmente um soco meu podia deixar uma pessoa desorientada, mas a mão grande do homem deformado nem pareceu se abalar.

Eu automaticamente me afastei, deixando a mesa entre nós dois. Ele não era gordo, na verdade, seus músculos deviam dar inveja a vários fisiculturistas. Seus cabelos e barba se uniam, como se ele tivesse pouco tempo para cuidar da aparência, o rosto tinha um nariz gigante, com olheiras profundas e muitas marcas de expressão, como se tudo não passasse de desleixo, ou excesso de trabalho.

— Quem é você? — Eu perguntei, já invocando Mjölnir, que não parecia o mesmo. Havia algo de errado nele, ou talvez fosse algo de certo. Não sabia dizer.

O homem recuou dramaticamente, me fazendo um sinal de pausa com a mão, como se ele estivesse dando stop em um DvD. Ficou perambulando pela oficina como se estivesse a procura de algum item não identificado. Imaginei que fosse uma arma, por isso mantive minhas mãos bem firmes em Mjölnir, enquanto procurava formas de escapar, explorando o local pouco iluminado.

Então, para minha estupefação, o homem conseguiu achar uma máscara preta, do Darth Vader.

— Eu sou seu pai. — Ele imitou totalmente a voz do personagem e eu fiquei estático, parado no lugar, sem mover um músculo. Aquela tinha que ser uma brincadeira de muito mal gosto.

Ele repetiu a frase umas duas vezes antes de eu finalmente decidir o que fazer. Desci o martelo com toda força em direção ao meu progenitor imbecil, que o agarrou com uma facilidade irritante.

— É assim que você trata o seu pai, garoto? — Ele reclamou, tirando o martelo da minha mão como se eu fosse uma criança birrenta.

— É! É assim que eu trato um pai ausente, que me deixa mofar num orfanato! — Isso nem era a parte ruim, mas eu não queria invocar minha mãe na conversa. Não com Hefestos.

Havia um bocado de coisa que eu queria gritar, espernear e reclamar, mas obviamente não tínhamos tempo, além do fato dele ter mencionado alguma coisa sobre prótese. Meu braço era uma prótese?

— O que aconteceu com meu braço? — Eu perguntei, ainda com fogo nos olhos.

— O que você acha que aconteceu? Arrancaram! — Disse simplesmente.

Movi o braço esquerdo, mas não havia qualquer barulho metálico, a pele, se é que era mesmo pele, parecia totalmente sensível ao toque, mas não a dor, como já havia experimentado antes, podia sentir temperatura e parecia muito real para ser uma prótese de metal.

— Como você fez? — Perguntei, o tom curioso e de admiração começando a ser mais forte que a mágoa.

— Ah! É uma fibra que criei, ela se adapta ao resto do tecido orgânico do seu corpo e o replica por cima da prótese de metal com as mesmas características. Os músculos não existem realmente, é apenas uma aparência feita de silicone, afinal, é bom alguma estética. — Eu ergui uma sobrancelha, mas ele não pareceu perceber. Estética e designer provavelmente eram coisas que só se aplicavam as criações e não a si mesmo. — E não é só aparência! Mais tarde você pode dar uma recauchutada nas peças, mas olha. — Ele apontou para um alvo desenhado no teto. — Aponta para lá e pensa em atirar! — Ele falou, como se eu tivesse uma arma na mão.

Olhei do alvo para ele. A expressão era meio louca como se tivesse acabado de ganhar um brinquedo novo e estivesse pronto para rasgar o embrulho e brincar. Estava em duvida se eu era o embrulho ou o brinquedo, mas dei de ombros e obedeci. Eu senti algo se mover dentro do braço e uma descarga elétrica disparou dele, queimando o alvo por completo.

— Incrível não?— Disse com um brilho de orgulho nos olhos. Eu era o brinquedo, afinal. — Além do mais, eles não vão enviar mensagens aos seus receptores de dor, mas mantive os demais, para não ficar tão incomodado com a mudança. E, esse material não se queima e permite a transmissão de elétrons, dessa forma você pode socar alguém com alguma eletricidade. — Virei a mão para mim e vi, onde deveria ficar minha palma, um buraco com um olho do trovão instalado dentro de um braço mecânico, mas no instante seguinte tudo se fechara e eu estava olhando novamente para minha mão bronzeada. Um bom trabalho, tinha de admitir.

— O que fez com Mjölnir? — Eu questionei e foi a vez dele levantar a sobrancelha.

— Então percebeu... — Ele parecia ponderar sobre algo. — Ah apenas uma benção minha. — Ele disse simplesmente e pegou a arma apontando para uma pedra soldada recentemente na ponta do martelo. Tinha a aparência azul esbranquiçada e parecia vibrar em seus átomos. — Toda vez que for fazer uma loucura como aquelas de se jogar na frente de outrem, essa coisa vai disparar feixes de raios por toda a parte. — Ele disse e eu percebi que havia carinho e preocupação em seu tom, banhadas em orgulho.

— Achei que fosse colocar fogo ou alguma coisa do tipo. — Eu comentei.

— Nah! Achei que raios combinassem mais com você. — Ele falou abanando as mãos.

Eu conhecia a história do meu pai e sempre achei que por toda a rejeição que ele sofrera, sempre achei que deveria ser mais atenciosoi, mas seria difícil para ele dar o que nunca recebera. Além do mais, nada que ele pudesse fazer agora apagaria ou compensaria meus anos de sofrimento. Então resolvi deixar de lado tudo o que me incomodara e me focar na missão. Se ele estava ali, alguma coisa tinha a ver com tudo.

— No que estou metido? — Perguntei sem delongas, analisando os materiais com cuidado, ele ficou me olhando como se eu fosse quebrar alguma coisa, mas depois da terceira peça que eu analisara, ele vira que eu sabia como manejá-las e deu de ombros.

— Vamos chamar de herança egotista dos Olimpianos. Sempre sobram para vocês resolverem nossas picuinhas. — Ele disse cansado, como se já tivesse visto esse episódio mais de uma vez em sua longa existência. — A menina de Poseidon está com problemas. Você foi chamado para ajudar, embora tenha resolvido bem mais do que lhe foi pedido. — Havia orgulho nos olhos do meu pai.

— Temos tempo? — Eu perguntei, lembrando-me das dores de parto do sonho.

— Não, ao menos não dessa vez! — Ele falou e novamente sua expressão parecia mais cansada. — Na próxima forjamos algo juntos, o que acha? — Ele me questionou e vi sua expressão se iluminar.

— Só se me ensinar como fazer uma prótese dessas! — Eu abri um grande sorriso, que o fez ficar mais feliz. Não tinha porque arrumar uma briga com ele, ao menos não dessa vez.

Ele me levou para fora da caverna e eu percebi que estávamos ainda no lago Waikareti ou, pelo menos, se parecia com ele.

— Você curou todo o meu corpo sozinho? — Foi uma pergunta estranha para se fazer, ainda mais numa despedida, mas ele aprovou minha curiosidade, rindo com orgulho.

— Não! — Admitiu. — Mas ele vai te cobrar isso mais tarde. — E piscou. Ótimo. Eu estava devendo um deus e não fazia ideia de qual deles era. Esperava ao menos ser um que não quisesse o outro braço.

— Quanto tempo fiquei apagado? — Questionei. E ele coçou a barba, como se calculando.

— Um dia. — Ele chegou a uma solução. — Deve fazer entorno de 24 horas daqui a pouco. Ah — Ele pegou algo de seu bolso, meu Iphone, que eu jurara estar no fundo das águas. — Vai precisar disso para falar com seus amigos.

Fiz as contas e percebi que haviam sete dias desde que saíra de Long Island. Uma semana que estava na Nova Zelândia, nem havia notado.

Ele assobiou e alguma coisa rugiu nos céus. Alto, grave e feroz, ele desceu como um meteoro e eu não resisti o reflexo de fechar meus olhos e me preparar para a morte. Com frequência os deuses se esqueciam que mortais não conseguiam resistir a um pedregulho gigante vindo em sua direção, mas, para meu alívio, nada aconteceu.

— Pelo amor da forja, garoto! Você não teve medo de enfrentar dezenas de Telquines com apenas um braço, mas quase molha as calças com o vôo belíssimo do Drakus 97 — Meu pai falou emburrado.

Bom...Eu sabia de uma coisa: Se aquele era o 97, isso queria dizer que outros 96 tiveram seus problemas e provavelmente explodiram. Sinceramente eu esperava mesmo que eles tivessem explodido, sempre havia a possibilidade de alguns terem fugido e estarem por aí causando problemas aos outros, mas eu tinha que admitir: o 97 parecia bem sólido!

Era feito de um metal diferenciado, eu, ao menos, não conhecia. Era negro, com alguns detalhes vermelhos e amarelos pintados, o número 97 estava pintado na pata dianteira esquerda, a cabeça se assemelhava ao de um lagarto. O dragão era belo e transmitia ferocidade. Eu queria um daqueles!

— Eu ganho um desses? — Questionei, meus olhos brilhando.

— Construa um, garoto! — Disse o velho, também com os olhos brilhando, orgulhoso de sua criação.

***


Voar era algo incrível. Voar a bordo de um dragão, mesmo que de metal, era indescritível.

Drakus 97 era, de fato, uma criação muito sólida. Tivera algumas turbulências, mas nada que eu não pudesse aguentar. Meu pai me dissera que o Drakus já estava configurado com a localização do local para onde a menina de Poseidon, que eu acreditava ser Sarah, prima de John, se encontrava cativa.

No caminho, eu ligará para John e o atualizará da situação. Ele queria ter vindo comigo, mas eu disse que, o que eu estava para enfrentar estava além das capacidades do garoto, desliguei quando a ilha já despintava na minha visão.

Eu imaginei, desde o início, qual era e não me surpreendi quando pisei na ilha Te Unova  onde houvera o naufrágio. O primeiro ataque dos Telquines.

Sentindo o solo firme abaixo dos meus pés eu fui assentando as informações na minha mente: O ataque fora causado para sequestrar Sarah. Os que se seguiram foram provavelmente para manter as pessoas afastadas daquele lugar, além das feras saírem do controle dos causadores do incidente. Elas eram inteligentes o suficiente para manter guardas nos postos dos ingredientes para o antídoto para o seu veneno. Além disso, havia o interesse dos responsáveis por toda essa confusão de manter as pessoas no estado de pânico geral. E eu conhecia os responsáveis e eles precisavam de um julgamento. E Mjölnir seria o juiz.

Não me importei com os Telquines que estavam as minhas costas, contando com Drakon 97 para defendê-las. Foram poucos minutos os que ficamos juntos, mas eu já confiava no autômato. Não sei se os outros 96 eram tão bons quanto o último modelo, mas esse, ao menos, era um bom amigo. Como se para confirmar meus pensamentos, o dragão rugiu feroz. Um barulhento bom amigo.

A ilha em si não era grande. Tinha uma faixa de areia branca, seguida por uma densa vegetação e uma formação rochosa atrás dela. Eu sabia que Sarah estava em algum lugar embaixo d’água, banhado pelo sol, podia ser algum lago no meio da ilha, ou talvez até uma caverna atrás da zona verde. Mas sinceramente, aquela altura, nada mais importava. Eu precisava resgatar Sarah.

Entrei no matagal, usando Mjölnir para golpear as muitas plantas nativas, que se interpunham no meu caminho. Obviamente o martelo não era a melhor opção para desbravar a mata, mas me virei como pude. A vegetação era formada por espécies jamais vistas, ou, ao menos, desconhecidas para mim o que pouco queria dizer.

Foram, ao menos, vinte minutos de caminhada desbravando a mata virgem, quando dei de frente para um lago azul de águas cristalinas. A faixa de areia não devia ter três metros de extensão, rodeado pela camada verde e densa de árvores que cercava o local. O lago imperava sobre tudo num raio de 15 metros de água, revolvendo-se calmamente.

Eu o avaliei bem antes de me aproximar. Sinceramente todo aquele local não era próprio para que eu, um filho do fogo, se destacasse numa luta. O que queria dizer que eu seria morto a partir do momento que meu oponente aparecesse e eu estava apavorado que ele resolvesse me atacar ali. Algo que aconteceu, já que o destino está sempre contra os semideuses.

Ele saiu dramaticamente do meio do lago. Haviam escamas misturadas a pele, suas orelhas eram feitas de guelras, havia uma barba bem aparada que mudava de rósea para azul, passando pelo roxo e púrpura. Os olhos eram grandes e sua íris era de animalesca, como a dos ofídios. A musculatura era provavelmente tão bem constituída quanto a minha, mas não era isso que eu temia, era o volume de água que ele tinha disposição dele, enquanto eu só tinha o meu martelo, afinal ele era um dos filhos de Poseidon. Um dos demônios de Presoous.

— Posso saber o que está fazendo aqui, mortal? — Disse a criatura, a voz grave e profunda, dotada de desprezo.

— Estou procurando o banheiro! — Eu disse, segurando firme o martelo.

— Vou te mostrar onde fica! — Ele sorriu de lado, mostrando seus dentes pontiagudos de tubarão.

Uma onda se formou a partir da posição dele, desprendendo um grande volume de água do lago. Eu fiz o que achei mais sensato e corri de volta para o mato, ouvindo a onda arrastar dez metros do mato para dentro do lago. Foi por muito pouco que eu não fui arrastado junto, mas eu consegui.

Quando me virei, vi a devastação que ele causara. Eu não poderia enfrentá-lo próximo d’água, precisava que ele saísse, ou que toda a água saísse. Ri com o estratagema. Eu devia ser louco para colocar aquele plano em ação.

— Cara...Essa passou bem longe! — Eu debochei.

— Acho que vou te cortar ao meio. — Ele disse, e cortou o ar com uma das mãos. E um arco de água saiu como uma torrente do lago em alta velocidade. Por sorte, meus reflexos de semideus me fizeram contra-atacar com o martelo.

Tudo que estivera na direção do jato fora cortado paralelamente ao chão. O impacto com o martelo me fez voar pela areia fofa do local. Saltei antes que um jato d’agua pressurizado, que teria perfurado meu peito, abrisse um buraco no lugar da minha queda. Então, outra onda veio na minha direção. E eu me afastei de novo, mas dessa vez ela foi além de onde eu imaginei e fui pego na correnteza, puxado para baixo.

Firmei meu aperto no martelo e imaginei o que eu faria se tivesse no lugar dele. O mais seguro seria me matar afogado, mas havia a possibilidade de que ele fosse arrogante. Nesse sentido, ele viria me enfrentar e me provocar, achando que eu me desesperaria. Ele iria me assistir morrer de perto. Sempre podia dar errado, mas eu estava certo sobre ele.

Ele desceu, ficou numa distância segura e eu perdendo o ar. Ficou me olhando como se já tivesse ganhado e minha derrota fosse certa. Então se aproximou, mostrando os dentes de tubarão, triunfante e certo da minha morte. Ele queria que o seu sorriso fosse a última coisa que eu visse. Infelizmente ele não calculou que eu ainda teria força o suficiente para mandá-lo para o espaço.

Pus toda minha força no golpe, o que o fez ser mais rápido do que o meu inimigo calculou poder ser embaixo d’água e Mjölnir amassou com força o rosto do demônio, a eletricidade faiscando em meio a água e liberando descargas elétricas no corpo do demônio que foi lançado para fora da água com a força do impacto.

Eu subi com ânsia de ar. Inspirando profundamente o oxigênio que estava me faltando lá embaixo. Tratei de nadar para fora do lago e o encontrei convulsionando em meio a depredação que suas ondas causaram.

— Onde ela está? — Eu perguntei, o martelo pronto para esmagar o crânio dele.

Eu o vi olhar por reflexo para a região montanhosa, seu rosto totalmente destruído pelo impacto com Mjölnir. Depois ele tentou disfarçar seu olhar como se só então percebesse que havia falado mais do que o necessário.

— Você nunca vai saber. — E cuspiu alguns dos dentes pontiagudos.

— Eu já sei! — E desci o martelo contra ele inúmeras vezes, até que não sobrasse nada, além de um monte de carne amassado dentro de uma poça de ikhor dourado.

Olhei para a região montanhosa e segui mata a dentro, desbravando-a ineficientemente com meu martelo. Hora ou outra eu ouvia o rugir de Drakon 97, o que me deixava aliviado sabendo que ele ainda estava “vivo” e que ainda estava na ilha, me dando uma rota de fuga daquele lugar.

Não demorei a encontrar uma caverna, o que me aterrorizava muito. Lugares fechados como aquele davam uma maior vantagem ao meu inimigo, mas eu não tinha muitas opções.

Entrei no local. Era grande e espaçoso, com estalactites protuberantes e afiadas, que eu temi despencarem na minha cabeça. O túnel que se abriu parecia descer abaixo do nível da água por uns dez minutos, até que se abriu finalmente em uma galeria espaçosa e ampla, com uma grande abertura no centro da caverna, como se fosse um teto solar, que banhava a caverna.

Havia uma plataforma feita de pedra de mais ou menos um metro, para então dar em uma parte submersa, uma geleira inundada que eu não via o fundo, mas que eu sabia ser o local da prisão da sara.

De repente, a água de revolveu, inundou a caverna e me puxou para baixo. Dessa vez não seria tão fácil como martelar e simplesmente esperar que acertasse. O demônio já estava me esperando para vingar a morte — se é que podia chamar disso — do irmão.

A corrente me girou de um lado para o outro, me jogando nas paredes do local. Senti um soco forte na boca do estômago, que me mandou para cima, emergindo sobre a água, batendo na parede da abóboda da caverna, depois caindo no beirada seca da caverna, cuspindo sangue pela boca.

Minhas costas doíam, meu peito doía, meu estômago doía e eu mal conseguia me levantar. Fora uma surra completa de uma hora para a outra e eu nem tive tempo de ver de onde os golpes vinham. Comecei a me sentir frustrado, como poderia lutar contra alguém que eu nem podia ver, ainda mais: Ele tinha um campo que o favorecia e, no momento, que eu pisasse nele, eu estaria morto.

Instintivamente eu comecei a me afastar da água, como se ela fosse venenosa para mim, um pavor repentino que tomou conta de todo o meu ser. Eu nunca tive medo de água, mas ela agora parecia absolutamente aterrorizante.

Então ele se revelou. Emergindo como se pudesse andar sobre as águas. Era belo, ao menos a sua maneira. Não tinha os músculos tão bem definidos como seu irmão, mas seus traços eram mais humanos, embora as escamas ainda estivessem presentes, mas de alguma forma, do jeito que elas eram distribuídas em seu corpo esguio é perfeitamente esculpido, o pareciam ser exoticamente belo. As orelhas eram de guelras, como o outro, mas sua aparência era absolutamente mais atraente.

— Vejo que passou por meu irmão. — Disse com sua voz grave e sedutora. — Pena que não sairá daqui vivo. — Ele sorriu confiante e a água pareceu se moldar num trono de torrentes furiosas. Ele sentou no trono e novamente a onda veio contra mim.

Enchendo a galeria e o túnel, revolvendo-me de um lado para o outro e tudo que eu consegui fazer foi proteger precariamente minha cabeça, enquanto meu peito ameaçava explodir com a falta de oxigênio.

Então a corrente mudou direção voltando para dentro da câmara central. Eu estava apavorado com aquela situação e sabia que ele me sugaria para o fundo daquele local me sepultando como os marinheiros, no fundo daquela água turva.

Abri os olhos embaixo d’água e com muita dificuldade eu consegui apoio para um impulso, que estava lotado de pavor e desespero. Como a água voltava para seu local de origem, eu estava em velocidade suficiente para, quando chegasse próximo ao platô que deveria estar seco, dar um salto na direção do demônio. Ele não esperava que eu fosse fazer aquilo. Por isso, quando Mjölnir desceu em sua cabeça, ele pouco pôde fazer, afundando sem impedimentos no fundo da galeria imersa.

A água perdeu seu controle e eu pude tentar voltar à terra seca, como um desesperado, imaginando que minha vida dependesse de eu estar fora da água. E talvez até dependesse. Eu consegui me arrastar para fora da galeria inundada, mas ele já despontava na água, ikhor dourado saindo de sua cabeça que começava a se refazer, depois de ter sido afundada no tronco por Mjölnir. A imagem de sua face deformada era aterradora.

Uma torrente de água se formava ao redor dele e, dessa vez, eu sabia que eu não teria a mesma chance de escapar das correntezas. Ele estava furioso.

Lembrei do meu braço mecânico e apontei na direção dele, lançando uma corrente elétrica concentrada que o jogou contra a parede do outro lado da galeria convalescendo com a eletricidade. Eu não perdi tempo e corri até o outro lado, antes que ele tivesse a oportunidade de se recuperar e acertei o martelo com toda força, grudando-o na parede. Não cessei de martelar, a raiva e a frustração se misturando e dando maior força aos meus golpes. Quando percebi, eu havia aberto um rombo na caverna, usando o demônio como uma estaca, até que ele tivesse caído numa pequena faixa de areia que dava próxima ao mar.

Percebi que estava na parte traseira da ilha. A galeria devia ter uma abertura por onde a água entrava.

Quando olhei para traz, Sarah já estava boiando, provavelmente as correntes haviam perdido o seu efeito quando eu derrotara o demônio e ela pode finalmente ver-se livre de seu cárcere. As ondas pareciam obedecê-la. O que fazia sentido, ela era filho de Poseidon.

— Quem é você? — Ela perguntou com muito esforço. As mãos segurando a enorme barriga.

Não deu tempo para responder, porque ela gritou dolorosamente. Estava em trabalho de parto.

Foram minutos desesperadores e percebi que força alguma que um filho de Hefestos possuía se comparava a uma gestante dando à luz. Sarah quase arrancou meu braço bom fora de tanto que ela o apertou. Eu pouco pude fazer, além de gritar de dor e desespero junto com ela, enquanto a natureza seguia seu curso normal e trazia à tona um bebê meio demônio, meio semideus. Um fruto de estupro, mas ainda assim um bebê, que não tinha qualquer culpa de ter nascido.

***

Chegamos na Colina Meio Sangue dois dias depois de Sarah dar à luz ao Allan, um meio demônio muito fofo que gostava muito de apertar os nossos dedos.

Por sorte, Drakon 97 ainda estava na ilha nos esperando para nos trazer de volta. Foi difícil convencer ao Tio Hanck sobre como toda a história aconteceu e de que Sarah tinha que voltar comigo para Long Island, junto com John, onde estariam mais seguros, ainda mais para o pequeno Allan, mas no fim, ele concordou.

Alex e Mathews me receberam com abraços e o filho de Apolo tratou de acomodar seu novo irmão, John, no chalé 7, enquanto eu levava a filha de Poseidon junto com seu filho para Dionísio. Tudo terminaria ali e eu finalmente poderia descansar em meu chalé.



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Mensagem por Hipnos Qui Out 06, 2016 11:09 pm


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