✮ Anfiteatro ✮

Uma construção que lembra o Coliseu. A arena é cercada por arquibancadas, e dentro há um palco desmontável, perfeito para encenação de peças. Quando o palco é retirado, aqui acontecem as lutas, corridas de cavalo, além de que é onde é realizado as cantorias noturnas, a queima de mortalhas quando os semideuses não voltam vivo. A fogueira é encantada para que sua cor reflita o humor da multidão.

Estou indo em direção dos chalés, alguém deve saber onde consigo comida e bebida o suficiente para a festa, acho improvável que eu vá encontrar uma pessoa que tenha tanta coisa, deve ser um grupo de pessoas.

Enquanto passo pelo anfiteatro, vejo uma pessoa sentada sozinha e aparenta estar perdida em pensamentos, um misto de sentimentos me invade ao perceber que é o Fenris. Penso em continuar meu caminho e ignora-lo, mas penso que um filho de Hermes pode me ajudar a resolver o meu problema, afinal arrumar coisas que eles precisam é uma das especialidades deles.

Me aproximo dele, quando imagino estar perto o suficiente para que eu não tenha que gritar para ser escutado eu puxo assunto:

– Hey - estou um pouco sem graça mas escondo isso da melhor forma - e ai? Por que está aqui sozinho? - penso em fazer uma piada sobre se tem alguma outra forja para ele roubar, mas prefiro deixar quieto, vai que ele não leva na esportiva - Então, estamos dando uma festa lá na praia não quer vir?

Por nervosismo, eu trocava o peso de uma perna para a outra, ele me olhava de uma forma desconcertante, enquanto eu desviava o olhar a praticamente cada palavra dele, olhava em volta mas não tinha quase ninguém.

– Ruim para sua reputação? - pergunto levantando uma sobrancelha, a reputação que ele tinha para mim não era muito legal, mas ele parecia gostar disso, esse cara é estranho, mas isso me deixava curioso.

Ele se aproxima interrompendo meus pensamentos, dou um passo involuntário para trás, ele está me assustando um pouco, meu coração está disparado e minhas mãos suam frio e minha garganta esta seca, por acaso eu estava com medo dele?

– E-eu não tenho necessidade de pessoas - gaguejo um pouco - apenas gosto bastante, mas seria muito legal se você viesse, sabe para conhecer pessoas novas - "e parar de ser um babaca" eu penso, mas não acho adequado para esta conversa.

Foi um erro ter me vacilado perante ele, umedeço meus lábios que estão secos, estou considerando a pergunta dele sobre reputação como se está fosse retórica, mas ele acha que estou com medo dele, eu não tenho medo dele, eu sou um fucking filho do fucking Zeus, eu não tenho medo de um ladrãozinho qualquer, embora meu corpo transmita o contrário.

– Eu não tenho medo, você só esta muito perto - então ele se aproxima ainda mais, estou ofegante e não consigo desviar meus olhos dele, mas a ultima frase dele me tirou de qualquer torpor mental no qual eu me encontrava, eu balanço a cabeça e me afasto dele, estou esfregando meu rosto, não sei o que esta acontecendo, isso não parece real - Então é... - estou tentando reorganizar meus pensamentos - Estou indo procurar comida e bebida para a festa, quer me ajudar?

Meus olhos estavam arregalados de surpresa, meu olhar esta fixo no dele, estou um pouco tonto e sentindo que estou com falta de ar, pego a cintura do outro e o afasto, não sei o que está dando em mim, mas acho que esse menino é a causa disso, tudo começou quando conheci ele.

– Não acho que posso aceitar isso, mal te conheço - eu olho para ele, admirando seus olhos, sua boca não entendo o que esta acontecendo, engulo em seco - Pode deixar eu acho que consigo pedir para eles para me ajudarem, e-e-eu - não consigo terminar a minha frase, mas também não me afasto, estou me sentindo preso no lugar onde estou, estou tremendo.

Não consigo me lembrar de alguma outra vez na minha vida onde além de não ter controle da situação eu não tinha controle nem de meu corpo, eu não conseguia parar de admirar o filho de Hermes, sua pode de durão, seu sorriso, seu olhar, tudo nele me provocava sentimentos até hoje desconhecidos.

– Ok, eu aceito - eu falo rápido e com os olhos fechados, como quando se tira um curativo, minha parte racional gritava não, mas eu precisava de ajuda e bem no fundo eu sei que eu quero, por mais que eu não admita - eu e você depois da festa sozinhos, mas agora nós temos que ir - pego a sua mão e puxo ele, torcendo para que ele não preste resistência, não sei porque eu fiz isso.

Estava cansado, tinha sido um dia cheio e eu precisava achar um lugar tranquilo para descansar, lembro de um lugar, poucos iam para lá, a maioria não achava aquele lugar interessante, mas eu tinha memórias de lá, memorias boas.

Pouso em um dos bancos e me deito lá olhando para os céus, os reinos de meu pai, eu ainda queria conhece-lo, tinha que saber se ele se importava comigo, se ele realmente sabia da minha existência ou se os outros apenas usavam o nome dele para que eu os ajudasse, acabo me perdendo em pensamentos olhando pra cima que acabo por perder a noção do tempo.

Estou quase dormindo de olhos abertos quando ouço alguém fazendo um comentário claramente querendo puxar assunto, eu rio um pouco e me sento.

- Estou só curtindo a paisagem – digo com um sorriso torto – mas e você? Não lembro de já ter te conhecido, meu nome é Jake.

Estendo a mão em um gesto simpático, não faz tanto tempo assim e era eu que estava naquela situação, sem saber o que fazer, com quem conversar, para mim se apaixonar por este lugar foi instantâneo, mas isso não significa que todos são iguais a mim.

- Se quiser esperar as estrelas comigo, fique a vontade -digo apontando para o local ao meu lado, fazia tempo desde que não conhecia alguém assim, do nada. Mexo um pouco com meus anéis, estava quase virando um tique aquilo, tinha que me controlar.

O nome dele é um pouco estranho, espero que o meu TDAH permita que eu me lembre dele.

- Bom - falo depois de uma pausa pra pensar a quanto tempo estou aqui - em breve fará 1 ano desde que vim pra cá pela primeira vez, mas quase que metade deste tempo eu estive fora em missões, estou de volta faz umas 3 semanas.

Parando pra pensar eu percebo que não fiquei tanto tempo aqui, provavelmente não fiquei mais do que 3 meses no total por aqui. Parecia que eu já tinha vivido uma vida aqui, mas vendo no geral era tão pouco, parecia até piada eu achar tudo tão familiar por aqui.

- Vamos fazer o seguinte - digo sorrindo - cada um responde a pergunta e faz outra. Então agora é minha vez - penso que tipo de pergunta eu quero saber sobre o garoto - está gostando daqui? Se não se encrencou com nenhum filho de Ares ainda está fazendo algo errado - falo rindo finalmente chegando a uma decisão.

- Novato? – falo rindo em resposta ao comentário do garoto – Não, embora não esteja aqui a tanto tempo quanto os outros, eu já sou de casa aqui, me considero um veterano.

O garoto tinha uma postura de indecisão e quase que desconforto, parece que ele não é muito acostumado a pessoas tão intrometidas perguntando tanto de sua vida, mas se ele não reclamou ou se esquivou da pergunta então tá valendo.

- Bom, monstro assustador? Isso é uma coisa tão relativa, mas com o tempo você percebe que o que você acha assustador agora nem sempre continuará sendo no futuro – eu falo isso como se estivesse dando uma aula, percebo que devo estar sendo chato ou clichê, então balanço a cabeça rindo – desculpe, isso foi muito humanas, vou deixar essas coisas de miçangas e tals pros filhos de Poseidon. Mas enfim, voltando a pergunta, sim, já matei alguns que se encaixam nesta descrição. Teve o Alicanto, um pássaro grande que eu não poderia olhar para ele ou eu me transformaria em ouro, teve a hidra, igual a dos mitos e lutei contra uma horda de dragonetes.

Eu falo cada um contando nos dedos e olhando para o horizonte, eu via as imagens de cada um, a vida de semideus não era fácil, um movimento errado e você pode se dar muito mal.

- Não queria ter que gastar uma de minhas perguntas com uma coisa tão besta, mas estou curioso. Você é filho de quem?

Quando falo sobre as criaturas as quais já enfrentei, noto uma expressão em seu rosto um pouco desanimada, quase melancólica, não entendo exatamente o porque disso, mas não comento nada, já estava me intrometendo demais. Quando ouço o comentário do garoto ai eu entendo o que está acontecendo, o garoto está com medo.

- Eu sou forte agora, mas quando cheguei aqui eu era até pior que você – eu digo torcendo pra não estar me equivocando em minhas suspeitas – já viu o meu tamanho? – me levanto pra dar ênfase ao que eu quero dizer, eu sou bem abaixo da média no quesito altura, meus músculos embora tenham crescido nestes últimos tempo, ainda não conseguem me fazer parecer bombado e sim atlético – Eu não sobrevivi lá fora usando a força bruta, na verdade só os idiotas do chalé 5 que conseguem fazer isso, mas mesmo eles precisam de inteligência algumas vezes. Força da uma ajuda, claro, mas a inteligência é que vai te fazer ganhar as batalhas.

Eu não gostava de dar sermões de auto ajuda como esse, mas eu sentia que era necessário.

- Da mesma forma que não existe apenas uma maneira de vencer um monstro, existem incontáveis formas de luta, força, velocidade, estratégia e até enganação, todas tem seus pontos fracos e fortes, apenas ache a sua. - Faço a minha pergunta e quando o garoto fala sobre sua filiação divina eu solto uma pequena risada - viu, Hécate é a deusa da magia, você tem diversas maneiras de vencer seus inimigos antes que eles tenham sequer a chance de notar a sua chegada.

Era inevitável a pergunta dele, eu tinha orgulho de ser filho de quem sou, mas ser filho dele era complicado, todos me olham, seja com admiração ou desconfiança, me encaram como se eu fosse o herói delas ou a desgraça encarnada, era quase impossível continuar uma conversa normal depois que sabem de meu pai. Por isso eu era um dos poucos que não tinha o costume de falar de quem era filho ao me apresentar.

- Zeus, o deus dos céus. – olho para cima, onde as estrelas brilham – parece que elas finalmente decidiram aparecer - eu falo me levantando e batendo a poeira de minha calça jeans – A conversa está legal mas eu vou ter que ir cara, tenho um bicho de 5 metros pra alimentar, nos vemos em breve – após isso eu decolo e voo em direção ao círculo de chalés.