✮ Praia ✮

Tudo convergia para a mais perfeita harmonia naquela praia. A brisa marítima empurrava o frescor da maresia em direção à orla, em sopros cálidos, que contrastavam com o frio da água. As pessoas estavam espalhadas, fosse na água ou na areia, e isso me deixava mais confortável para estar sozinha num lugar desses... Até a hora que um semideus gritou anunciando uma festinha, e quase instantaneamente polarizou a galera que senta a na areia.
Fiquei totalmente sozinha, isolada, presa num biquíni "vermelho placa de pare" — ainda por cima emprestado — e cercada apenas por areia, areia e mais areia. Se já conhecesse o dito cujo, com certeza pegaria um guarda-chuva, e mais tarde o faria de carro do marido de Britney Spears em 2007.

"ESSE FILHO DA MÃE ME PAGA!"

Não restava muita alternativa, se não entrar na onda e me misturar com a multidão, em nome da entropia universal, e fingir que eu estava me sentindo aceita e totalmente enturmada com os campistas, mesmo falando razoavelmente mal a língua da maioria deles e não aceitando a validade dessa família que me foi apresentada. Sentei novamente na areia, próximo a dois garotos que conversavam a sós, observando que um grupinho um pouco mais afastado já começava a tocar alguma música desconhecida (ao menos para mim) no violão. Por um momento relembrei as fogueiras que os mais velhos acendiam no meio dos alojamentos, quando o grupo ainda era forte e unido, e a sensação de pertencimento que aquilo me trazia. Agora, já não havia mais pertencimento, apenas um vazio a ser preenchido com mais solidão e saudades de um tempo feliz.

Pensei estar camuflada do meio da multidão, mas por um pequeno erro de cálculo, chamei a atenção de dois campistas, que aparentemente vieram ver mais de perto meu descontentamento, ou simplesmente acharam que minha cara de entojo era algum hype de tumblr girl.
—Anel ayn, inch’ yek’ uzum. Irakanum yes parzapes ts’ankanum ei inch’-vor khaghaghut’yun , sakayn himk’ e hraparakayin. — E só então percebi que por mais que eu entendesse razoavelmente bem o que eles falavam, eu soava como louca falando armênio fluente no meio de americanos — Ops... I did it again... Desculpem-me. Ainda estou aprendendo a língua de vocês. Fiquem à vontade...—Então me aparecem mais dois, para completa o grupinho, inclusive a pessoa que iniciou toda essa confusão, de braços dados com um outro garoto que me inspirava pouca confiança, oferecendo vinho suspeito para nós.
Nesse momento, só consegui pensar em uma única coisa:o que Britney Spears faria se estivesse nessa situação? Eu não deveria ser grossa, visto que boa parte desses adolescentes bonitos tem poderes perigosos. Teria que engolir a raiva por enquanto, e parecer legal, até conseguir alfinetar alguém com todo meu rancor.
— Nrank’ karogh yen voch’nch’ats’nel irents’... Sou de menor. — Disse, um pouco constrangida quando me foi oferecido vinho, com um sorriso incerto. Nunca havia bebido aquilo, e não sabia se meu corpo reagiria bem ao álcool, visto que meu pai costumava passar várias vergonhas quando bebia nas feiras, e o luxo de passar vergonha na frente de gente nova é um que eu não poderia me dar.