MvP - Destruição do Cemitério - River Knowles

Um olho vermelho. Era disso que River se lembrava ao acordar em seu chalé, o coração disparado e as mãos trêmulas. Precisou de alguns segundos para acalmar a respiração antes de se levantar da cama. Sentia um senso de urgência, como se estivesse perdendo alguma coisa importante. Pressionou as têmporas e tentou se lembrar de detalhes do pesadelo. Nada. Apenas uma sensação clara de que devia ir para o cemitério. Sonhos de semideuses raramente eram apenas sonhos, e sensações ruins costumavam ser justificadas. Algo de errado estava acontecendo por lá.

A garota prendeu sua espada no cinto, junto com a corrente que ganhara da mãe, e disparou para fora do chalé. Quando chegou ao seu destino sentiu o queixo cair – túmulos violados, lápides quebradas, a própria terra perturbada. E no meio daquilo tudo uma criatura horrível parte homem, parte burro, com uma viseira enorme que com certeza devia atrapalhar sua visão. O monstro atirava um semideus contra uma lápide. Não era preciso ser filha da deusa da justiça para perceber a enorme discrepância de poder entre os dois.

River empunhou sua espada e correu em direção ao onocentauro.

“Que tal mexer com alguém do seu tamanho?” Atiçou, parando entre ele e o semideus e soltando sua corrente do cinto.

Torcia para que o homem-burro continuasse avançando, pois então sua corrente dispararia pelo chão e se enroscaria nas pernas dele, possivelmente derrubando-o. Então a garota aproveitaria para mirar sua espada no ponto luminoso no centro do elmo – aquilo com certeza parecia importante. Se o oponente tentasse revidar, a corrente emitiria um brilho flamejante e sua ponta afiada rumaria para a lateral do corpo equino.

Caso ele não caísse, no entanto, River se manteria em guarda para defender quaisquer golpes vindouros com sua espada. Esperaria distrair o animal o suficiente para a corrente incinerar-se e acertar seu flanco. Se o monstro decidisse atropelá-la colocaria sua arma entre os dois, mas não tentaria desviar. Não com o semideus ferido logo atrás dela.

O monstro avançava rápido demais. Com medo e determinação no olhar, a filha de Nêmesis manteve firme sua posição e esperou pelo pior. O que não esperava era que a corrente materializasse um muro a sua frente, barrando a passagem do onocentauro. O impacto foi tão grande que sentiu suas reverberações empurrando-a para trás. Não importava – agora era a hora. Mentalizou fogo, ódio, vingança pelo garoto caído, e o metal a sua frente se avermelhou. Pequenas labaredas surgiram pela corrente enquanto sua ponta triangular penetrava a carne do homem-burro. Ele não gritou, apenas caiu no chão. River ergueu sua espada para acertar o olho brilhante do onocentauro.

Péssima ideia.

Um raio incandescente perfurou a barreira de elos e acertou a garota em cheio. A pancada da lápide às suas costas não foi nada se comparada à dor da queimadura. Levou uma mão à ferida, arfante. Um gosto metálico preenchia sua boca. Engolindo o sangue, River pôs-se de pé. Para sua infelicidade o monstro também tinha levantado, e agora a encarava com um brilho intenso no olhar.

“Um foco...” Murmurou, já colocando a espada em riste. O verdadeiro poder vinha do olho. Se pudesse cegá-lo... Mas qualquer tentativa seria recebida com outro raio.

Decidiu ceder o primeiro movimento, deixar que ele pensasse ter a vantagem. Se o onocentauro tentasse atropelá-la ou usar o laser de novo, a garota se concentraria em projetar a própria dor para induzir culpa, impedindo-o de continuar. Então usaria essa brecha para tentar perfurar o olho enfiando sua espada nos orifícios da viseira. Sua corrente ficaria atenta para defender e revidar quaisquer golpes dos cascos ou do bastão.

No caso do monstro inovar em seu ataque, impedindo River de usar sua habilidade, a garota tomaria uma posição defensiva com sua espada e incineraria a corrente outra vez, esperando que ela se arrastasse até a barriga desprotegida da criatura e golpeasse de baixo para cima. River ficaria atenta para manter uma boa distância entre o bastão e sua pele.

O monstro era burro só no nome. Quando a garota avançou, ele moveu a cabeça e impediu que a espada acertasse as brechas da viseira. Antes que pudesse pensar no que fazer, River sentiu seus pés deixando o chão, e então todo seu corpo bateu contra ele. Cascos esmagavam sua carne. A dor era agoniante. Buscou roçar sua pele na criatura, mentalizando a destruição que ela causava para afundá-la em pensamentos de culpa.

Estava no chão, ferida e em séria desvantagem. A qualquer momento o raio poderia fritá-la. Precisava de cobertura. Tentaria aproveitar sua proximidade e rolar para entre as pernas do monstro, confiando em sua corrente como proteção contra os cascos. Então se focaria novamente no fogo, dessa vez direcionando-o para a espada, e tentaria acertar aquela barriga branca e felpuda com um corte. Caso o onocentauro saísse de cima dela, sua corrente formaria uma barreira protetora nesse meio-tempo.

Como o onocentauro conseguira mirar a garota não sabia, mas o raio atravessou as correntes e acertou sua pele. Seus olhos lacrimejaram enquanto sentia o sangue escorrer. Não conseguiu colocar a potência necessária na espada para fazer algum dano maior, o que apenas piorava sua situação. Tinha de dar um jeito de acabar com aquele monstro, e rápido. Seu sangramento era uma sentença de morte se não o estancasse logo.

Partiria para uma ofensiva. Aproveitando que ainda estava no chão, tentaria agarrar uma das pernas do homem-burro e transmitiria outra vez aquela onda de culpa, em seguida incendiando sua espada e mirando um corte na lateral da criatura. Enquanto isso sua corrente, também flamejante, voaria sobre a cabeça de River para lhe dar cobertura e tentaria se fincar no torso humanoide. Caso aquele olho vermelho se iluminasse em preparação para outro raio, a semideusa emanaria sua indignação pela destruição que o monstro causara, buscando atormentá-lo com isso.