Chalé 19: Tique

Esse é o chalé mais moderninho de todos. Não parece um templo, tampouco um santuário ou uma choupana de retiro. A casa de Tique não tem trevos, ferraduras nem nada do tipo. A casa da fortuna é como um palacete de las Vegas ou uma sala de cinema de premier. Há muitos holofotes do lado de fora, um letreiro iluminado com o número do chalé e por dentro é tudo feito de ouro, prata e pedras preciosas. As camas são grandes e há ainda um mini cassino dentro do estabelecimento. Há fontes de água, que pode ser refrigerante às segundas, achocolatado às terças e por ai vai. Geralmente seus internos não saem do quarto.

Aine acordou ao ouvir um barulho estranho. Parecia com um arranhar na porta de madeira do chalé. Aquilo, instantaneamente, fez um arrepio percorrer seu corpo. Ela descobrira recentemente que existiam criaturas estranhas no mundo e as coisas não pareciam mais tão seguras como ela pensava que eram. Pegou sua faca de bronze que trazia sempre embaixo do travesseiro, enquanto dormia. Sim, podem chamá-la de neurótica, mas era melhor do que ser pega desprevenida. Olhou para a cama de Avril e ela ainda dormia, então, caminhou pé ante pé até a porta, mantendo a faca em punho. Qualquer coisa que fosse, se ela agisse rápido, poderia ter uma chance. Aine parou diante da porta e escutou. Os arranhados continuavam, como se algum animal quisesse entrar. Ganidos? Ela parecia ouvir um chorinho... A garota respirou fundo e abriu a porta em um rompante, já levantando a faca, pronta para encontrar algo totalmente bizarro e inexplicável, mas não havia nada. Pelo menos, não na altura de seus olhos. Assim que Aine abaixou os olhos, deu de cara com um pequeno cãozinho preto que trazia um laço vermelho na cabeça e uma carta no focinho. – Mas o que é isso? – Ela olhou ao redor, do lado de fora, mas não havia ninguém. Por fim, abaixou a faca e ajoelhou ao lado do cachorro que trazia um olhar assustado. Ele não resistiu em soltar a carta em sua mão, quando ela a pegou. Dentro do envelope só haviam duas palavras escritas: Promessa cumprida.

Aine se sentou no chão, ao lado do cãozinho e franziu o cenho. – Ace... – Com isso, ela caiu na risada. Não acreditava que o filho de Hades havia mesmo cumprido a promessa de lhe trazer um cãozinho do mundo inferior. Um cão infernal ainda filhote, bem como ele prometera. Ela sorriu para o cachorrinho e fez carinho em sua cabeça, tirando aquele laço que deveria estar incomodando ele. – Vou te chamar de Lucky. O que acha? – Ele deu uma lambida em sua mão. – Acho que gostou. – Ela riu e se levantou, pegando ele no colo durante o processo. – Bem vindo ao seu novo lar, Lucky. – Aine adentrou o chalé com o cachorro e fechou a porta. – Agora... O que você come? – Ela esqueceu de perguntar alguns detalhes ao Ace sobre como tratar um cão do inferno. Apoiou o cachorro sobre a cama e procurou entre as suas provisões alguma coisa que ele pudesse gostar. Bom, carne era sempre uma boa pedida. – Você quer? – Pegou um pedaço de carneiro assado que havia guardado do jantar, já que costumava ter fome durante a noite e colocou na frente do cachorro, assistindo ele devorar em poucos segundos. – É, acho que quer...

Avril Lyngvi Lewis

Dormia profundamente na minha Chalé que partilhava com as filhas de Tique. Ainda era de madrugada e eu revirava-me na cama profundamente adormecida. Por norma, não era uma pessoa com um sono leve mas os acontecimentos da noite anterior e o cansaço acabavam por me levar a melhor. Adormecida como o anjinho nem dei conta da minha irmã se ter levantado ou do perigo que ambas poderiamos correr.

Sonhava ainda: sonhos vividos e coloridos mas acordara sobressaltada com um pesadelo: uma deusa queria matar-me sem motivo aparente. Abri os olhos, ainda ensonada, e assusto-me com o cão que me lambia a cara! Não gritei porque conti o grito na minha garganta! *De quem é este cão?* Penso para mim mesma olhando para todos os lados tentando encontrar a minha irmã na Chalé para que ela me desse uma explicação plausível para aquela situação.

Mas enquanto esperava uma explicação fazia festinhas ao cãozinho que parecia que agora teríamos de educar.
- Aine! - Chamou-a, pegando carinhosamente no cão ao colo, descendo do meu beliche indo à procura dela. - Aine? - Chamo-a ainda sem a ver enquanto caminhava ainda ensonada e sem ver bem o caminho à minha frente. Suspiro fundo, coloco o cachorrinho no chão.

Finalmente lá estava ela, sentada no sofá a ler sobre qualquer coisa, como se nada fosse.
- Podes explicar-me que cãozinho, é este? - Pergunto-lhe sentando-me ao seu lado olhando para o cão a correr de um lado para a o outro a pedir a nossa atenção.

Aine deixou Lucky comendo seu segundo pedaço de carneiro e foi para a sala comum. Tinha alguns livros que ela queria dar uma olhada e nunca sobrava tempo. Aquele era o momento. Conseguiu um livro que falava um pouco sobre sua mãe com uma das filhas de Hermes, já que parecia ter tudo naquele chalé deles. De onde tudo vinha, já era meio suspeito e ela preferia não saber. Folheava o livro, quando viu Avril vir em sua direção e se sentar ao seu lado no sofá, perguntando sobre o cachorrinho. – É o Lucky. – Ela sorriu com a maior naturalidade, como se fosse óbvia a presença do cachorro ali. – Lembra do Ace? Filho de Hades? – Ela não esperou a resposta para continuar. – Ele me prometeu trazer um cachorrinho lá do mundo inferior. Pois bem, é o Lucky. – Ela fez sinal para que o cachorro viesse em seu colo e ficou fazendo carinho nele, enquanto ganhava lambidas nos braços e nas mãos. – Ele não é o cãozinho infernal mais lindo desse mundo? – O cachorrinho virou de barriga para cima, o que possibilitou com que ela fizesse coceguinhas nele. Encarou Avril um pouco mais séria. – O Ace disse que ele pode ser treinado e virar um bom protetor. Vai nos ser útil, Avri. – Aine sorriu. – Além de ser um ótimo mascote. – Voltou sua atenção para o cachorrinho, fazendo uma vozinha fina. – Quem é o bom garoto? É você. Sim, é você.

Avril Lyngvi Lewis

Pelos vistos a minha irmã até já tinha dado um nome, Lucky. *Que nome apropriado para um cão* Penso para mim mesma, enquanto Aine olhava para mim com o sorriso mais natural do Mundo. Escuto as suas questões com a maior atenção possível. Assinto que sim com a cabeça.
- Sim, lembro-me. - Uau, esbugalho os olhos admiradas olhando para ela. *Como é que ela pensa educar um cão do Inferno?* Pergunto para mim mesma, completamente estupefacta olhando do cão para ela. - E, como é que o pensas educar? Ele está... huuuuum... orfão? - Digo engolindo a saliva que se formava na minha pergunta enquanto ela falava tão calmamente e fazia festinhas no cão que lhe lambia os braços e as mãos.
- Bem, ele é adorável... mas vamos precisar de educá-lo para não corrermos o risco que ele nos coma ou... pior. - Acrescento fazendo-lhe também uma festinha na barriga do cachorro.
- Se ele o diz.... - Suspiro também derretida com o presente da minha irmã, ela era de facto abençoada pela sorte e, eu, queria ter tanta sorte como ela. - Espero que sim. E, que se torne o nosso anjo da guarda infernal. - Acabo também para sorrir para a minha irmã que tinha adorado aquele presente.
Ao fazer-lhe aquela pergunta para o cãozinho ele acabou por lhe lamber o nariz e eu desatei-me a rir. - Bem... espero é que ele seja fácil de educar, se não, vamos ter toda a nossa mobilia roida, xixi e cocó por todo o lado. - Enumero olhando séria para Aine. - Teremos de dividir tarefas embora a mascote, melhor. o Lucky seja completamente teu.