✮ Praia ✮

Praia

Acampamento

Em um dos milhares de livros que já li, muito antes de eu descobrir o que eu era e quem exatamente era aquele que eu chamava de pai, havia um pequeno conto que narrava a história de amor entre um floco de neve e o sol.  Um amava o outro de forma quase enlouquecedora, mas devido a suas naturezas, os dois nunca poderiam ficar juntos, afinal o sol derreteria o frágil floco de neve e o floco de neve morreria ao chegar da primavera.

 O interessante da história foi, que um pouco antes da chegada da primavera o floco de neve decidiu ir até o sol, dando um último beijo em seu amado antes de desaparecer completamente do mundo, deixando para trás nada mais que um breve toque de um só segundo.  Mas o que me interessava não era a história de amor, por que para começo de conversa eu sempre fui descrente sobre a existência de tal coisa, mas sim que…O que marcou realmente a vida do floco de neve não foi nada mais e nada menos que um mero segundo, um segundo em que pela primeira vez, um floco de neve brilhou mais que o sol.


— A beleza de uma estrela cadente só dura um momento antes de virar pó, mas quem a vê, nunca esquece... – Murmurei olhando para o céu enquanto meus pés descalços sentiam a areia quente, sinceramente eu estava andando há tanto tempo sem rumo, que havia de algum modo indo parar ali, mas a visão que havia me surpreendido não era nem o mar azul repleto de vida e beleza e nem mesmo a areia quente em meus pés.

O que havia realmente chamado minha atenção era a bela morena que estava sentada na areia, sua camisa transparente revelando a beleza de seus encantos femininos enquanto seus olhos pareciam a deriva, não olhando para a paisagem circundante.

— Daria uma bela pintura... – Murmurei a observando.

Meus olhos ficaram perdidos em meio a imensidão azul do mar. Por horas me peguei pensando em como os filhos de Poseidon, tinham o privilégio de desfrutar daquele mar lindo intensamente, onde unto com os pensamentos vieram um pontinha de inveja.

Meu pai não era dono de um mar azul como aquele, mais também não deixava de ser grandioso. Arte, teatro, fama, beleza, essas eram as regalias de ser filha de Dionísio o deus do vinho e das artes, e como eu gostava de artes. Lembro-me de quando ainda era pequena, minha mãe me levara a um grandioso museu em uma de nossas viagens a maravilhosa Itália. Na escola, historia era uma das minhas matérias favoritas, sempre quis ser uma grande historiadora, conhecer culturas diferentes, mundos diferentes, lugares inexplorados e inimagináveis, porém o destino me revelou outros caminhos e aqui estou eu, sentada na praia de um acampamento, aonde não conheço absolutamente ninguém. “A vida toda vivi sem um pai, sempre sozinha cuidada por minha mãe, onde todas as vezes que eu perguntava sobre ele, ela sempre dizia não saber quem ele era, dizia não saber quem era meu pai, crescer com isso foi cruel demais pra mim, até que do nada ele aparece, ou melhor, não foi bem ele, mais sim essa historia absurda de que sou filha de um deus.” – pensava.

Balancei a cabeça em forma de negação, tentando tirar de mim aqueles pensamentos que me deixavam ainda mais inquieta e com mais vontades de olhar nos olhos de Dionísio e perguntar por quê? Porém me dei conta de que não estava sozinha. Uma voz em tom calmo, não muito grave nem tão fina, uma voz sutil leve como o vento, ecoou rompendo todo o meu silencio.

As simples palavras do rapaz me fizeram manear a cabeça de um lado para o outro e mordiscar levemente o lábio inferior antes de responde-lo – Obviamente que sim, e seria uma tela linda e maravilhosa! Adoraria ter um mar assim, na parede do meu quarto para admirá-lo em dias de chuva, ou antes de dormir. – um sorriso singelo brotou em meu rosto, seguido de um suspiro.

Voltei o olhar para o rapaz ao lado, começando a olhá-lo de baixo para cima até encontrar os seus olhos – Concorda? – sorri ao indagar a tal pergunta, esboçando um sorriso gentil.


A conversa não foi tão agradável como eu esperava, mais nada que pudesse me fazer mal ou me causar alguma repulsa. Simplesmente me levantei, acenei levemente dando um "xauzinho" e saindo dali.

Já estava anoitecendo quando eu saí do chalé de Hécate para ir até a praia, onde eu planejava ficar um tempo. Havia arrumado com o chalé de Hermes alguns sanduíches e suco para não precisar ir comer lá no refeitório e aproveitaria o tempo pré-harpias que tínhamos. Trajava uma camiseta negra, shorts jeans e all star também jeans, além de manter os cabelos escuros em um rabo de cavalo com duas mechas soltas ao lado da minha face. Os olhos escuros reluziam na face alba, tipica de quem morara quase a vida toda em um país que podia ter seis meses de inverno fácil dependendo da localização em que se estava. Carregava a faca comigo, presa a um cinto de correntezinha pela bainha.

Acho que deveria ser alguma coisa em torno de seis e dez da tarde quando efetivamente cheguei até a praia, pelo ritmo lento que havia usado até chegar lá. Gostava de apreciar o Acampamento no fim do dia e não hesitava em fazer aquilo sempre que eu pudesse. Coloquei a mecha do lado esquerdo do rosto atrás de minha orelha e comecei a procurar um lugar para mim sentar e desfrutar aquele belo horário do dia. Como não teria sol por muito tempo - afinal, ele estava se pondo já -, não vi a necessidade de procurar um lugar a sombra e me sentei no chão mesmo, colocando a bolsa onde carregava as coisas em meu colo e respirei fundo, olhando o mar a minha frente. O chalé do deus dos ladrões também havia me informado que corria um boato que alguns semideuses se reuniriam ali para uma festinha informal... Era uma boa oportunidade de fazer alguns amigos, apesar de eu não saber se eles falavam sério.

Demorou alguns minutos até alguém aparecer ali, mas aconteceu. Quando o rapaz se aproximou e me ofereceu uma cerveja, me voltei para ele e dei um sorriso. Uma das "loirinhas" em troca de dizer meu nome para ele. Parecia um negócio mais do que justo, pra falar a verdade. Não custava nada responder a pergunta, principalmente depois de ter confirmado que realmente haveria alguma coisa ali na praia. Talvez minha ideia de fazer amizade com outros campistas realmente desse certo e eu pudesse, de fato, ter amigos ali.

— Me chamo Mikhaela, prazer. Eu não sei dizer onde o pessoal está, mas já devem estar vindo, certeza. — Garanti a ele, sentindo-me aliviada. Não seria vista como uma idiota pelos outros campistas, pelo menos. Após responder, acenei com a cabeça e aceitei a cerveja dele. Eu não tinha certeza se pelas leis americanas eu poderia beber, mas eu havia bebido vodka uma ou duas vezes escondida de meu pai. Que mal uma cerveja ia me fazer? — Valeu.

Definitivamente, o rapaz era simpático. Bebendo a cerveja com calma, pensei um pouco sobre como falar sobre mim sem revelar demais e ao mesmo tempo satisfazer a pergunta dele de forma satisfatória. Poderia responder sem problemas que chegara a pouco tempo ali, que vinha da Rússia e era filha de Hécate. Também podia contar que bebia escondido do meu pai e praticava artes marciais. Era uma boa gama de informações que podia revelar sem contar que fora treinada pelo serviço secreto russo ou qualquer coisa assim. Percebi que demorava demais para responder e comecei a falar, um pouco animada.

— Cheguei aqui a pouco tempo sim... Os monstros demoraram a me encontrar, então o papai achou que não havia pressa em me dizer a verdade. Eu sou russa, sabe? Sou filha de Hécate, caso queira saber. Posso te contar um segredo? Eu bebia vodka escondido do papai, o que provavelmente causaria semanas de castigo se ele descobrir.

Ponderei um pouco sobre o que ele falara de Caleb... Se eu havia conversado com ele, havia sido muito pouco e mal me lembrava. Cocei o queixo e fiquei pensando sobre o que ele queria dizer sobre intenso. Considerei que, pelo aviso, ele provavelmente queria dizer algo como pervertido ou incrivelmente exótico em algum sentido ruim da palavra, que eu não conseguia determinar qual era nesse momento. Dei de ombros mentalmente e bebi mais um pouco da cerveja.

— Ah, relaxa. Viva um tempo na Rússia e nada é intenso ou exótico o suficiente para você. Quer dizer... Onde mais as pessoas mergulham de cueca no mar quando tem até gelo flutuando nele depois de saírem de um submarino? Ou em quantos lugares tanques atravessam a rua do nada na sua frente tão rápido quanto um tanque consegue?

Cause this is just a game.

Tell me would you kill to save a life?

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Hit the gas, kill 'em all.

— Demigood age